quarta-feira, 19 de maio de 2010

Jeremias e a Soberania de Deus

O capítulo 18 do livro de Jeremias apresenta uma das mais importantes parábolas do Antigo Testamento. É um tratado acerca da soberania de Deus sobre todas as coisas. Em um momento de grandes turbulências no cenário mundial - injustiça, guerra, idolatria e aparente prevalência do mal - e em que se desenhava o cenário para o fim trágico da nação judaica, o profeta Jeremias recebe ordens de Deus para descer à olaria mais próxima a fim de que pudesse entender a forma como Deus estava trabalhando com o seu povo; e não só com Judá, mas também com as nações circunvizinhas. Ao contemplar o trabalho do oleiro sobre as rodas, o profeta vai apreender a maneira de Deus cumprir o seu propósito na história, tendo como centro de ação o seu povo. O presente estudo é um convite a que desçamos à casa do oleiro com o profeta e, ali, em meio às ferramentas do artífice,  entendamos que, assim como o oleiro  tem domínio total sobre o barro para fazer dele o objeto que lhe apraz, Deus tem total soberania sobre as nossas vidas.


I. JEREMIAS DESCE À CASA DO OLEIRO

Aproximadamente no início do reinado do rei Jeoaquim, quando Judá vivia um dos períodos mais críticos de sua história, Jeremias recebeu ordem de Deus para que visitasse a casa do oleiro, provavelmente situada no extremo sul de Jerusalém, nas cercanias da porta do oleiro e do vale dos filhos de Hinon. Deus objetivava com isso ensinar uma importante lição a Judá, tendo como referência a forma como o oleiro maneja a argila. Como este tipo de trabalho era muito comum por todo o oriente próximo, ninguém deixaria de entender a lição passada pelo profeta.

O oleiro é um artesão que trabalha o barro para produzir cerâmica, material que servia para se fazer os vasos rudimentares da época do profeta. O trabalho consistia em se pegar o barro e deixá-lo exposto ao tempo até ficar pronto para o uso. Em seguida o oleiro o misturava com mais água e o pisava até que argila ganhasse elasticidade. Depois a lama era levada para uma bancada, onde, mediante a adição paulatina de água, chegava a consistência certa para ser trabalhado. Algumas vezes, aditivos como gesso moído era adicionado ao barro para que o artigo acabado resistisse melhor ao calor do forno e, portanto, pudesse ser usado para cozinhar. Isaías fala, no capítulo 41.25 de seu livro sobre o pisotear do barro.

Jeremias descreve que o oleiro estava trabalhando o barro sobre as rodas (Jr 18.3). Naqueles dias, uma roda achatada de madeira, barro ou gesso era girada horizontalmente, numa bancada, à mão ou num eixo que atravessava a bancada. Uma pessoa empurrava a roda enquanto a outra moldava o barro sobre ela. Segundo Ralph Gower, somente no ano 200 a.C., os que trabalhavam neste ofício entenderam que uma segunda roda podia ser acrescentada ao eixo sobre o banco ao nível do pé, e empurrada pela mesma pessoa que fazia o pote.1 No livro apócrifo de Eclesiástico, escrito neste período, temos uma descrição deste tipo de segunda roda: “O mesmo sucede com o oleiro que entregue à sua tarefa, gira a roda com os pés... com o seu braço dá forma ao barro, torna-o maleável com os pés” (Eclo 38.32). Além das rodas, outros instrumentos como pedregulhos, conchas, instrumentos de osso e cacos quebrados eram usados para alisamento e polimento da superfície, e também na modelagem e decoração.

Na roda do oleiro, os vasos eram modelados e em seguida postos a secar. Somente depois de seca, a vasilha era decorada, conforme o gosto do oleiro, o qual usava várias técnicas e materiais para a decoração. Alguns vasos eram decorados, riscando-se a sua superfície; em outros, cordas eram pressionadas sobre eles ainda mole formando sulcos; havia também o polimento a base de pedaços de ossos, cerâmica ou metal. Depois de secos e decorados, segundo a vontade do oleiro, os objetos eram queimados em um dentre os vários tipos de fornos.

A grande importância desta passagem bíblica, todavia, consiste em que o poder do oleiro sobre o barro é usado como símile para ensinar acerca da soberania de Deus sobre todas as coisas, principalmente sobre as nações. O mesmo recurso de linguagem já havia sido usado por Isaías para se referir à obra da criação de Deus (Is 29.16; 45.9; 64.8), e também seria posteriormente usado por Paulo para se referir à soberania de Deus sobre tudo e todos (Rm 9.21).

Ao verificar o cuidadoso trabalho do oleiro sobre as rodas, Jeremias aprende uma grande lição: a maneira como Deus lida com as nações. O absoluto domínio da vontade do oleiro sobre o barro, o mistério e a maravilha de sua capacidade criadora o impressionaram. Talvez o profeta já tivesse visto tantas vezes o trabalho efetuado nas olarias circunvizinhas, mas nuca houvesse apreendido tão enriquecedora lição. Agora, considerada a ordem de Deus para que ele fosse à olaria, bem como a iminente desgraça de Judá, o profeta estava aberto para uma experiência inédita, e então conseguiu ver o esplêndido significado de um ato tão simples e corriqueiro: Deus estava se comparando àquele oleiro, e comparando Israel àquele barro. Depois de observar o trabalho daquele artífice, Jeremias vai dizer aos seus compatriotas que eles, apesar de tanto se jactarem de sua força e de suas tradições, não passavam de substância frágil, moldável e tão sujeitos à vontade soberana de Deus quanto o barro à vontade do oleiro.

O que não se pode perder de vista neste relato é o fato que mais chamou a atenção do profeta. Havia muitas ferramentas ali e muitos movimentos aconteceram, porém a visão de Jeremias focou o momento em que o vaso se quebrou na mão do oleiro por alguma razão. O oleiro, todavia, não se desfez daquele barro, mas o trouxe de volta para a roda e o trabalhou até que ganhasse nova forma. Era uma metáfora do que aconteceria ao povo de Judá: ele seria quebrado e refeito com novo formato, consoante o gosto do Oleiro divino.


II. A SOBERANIA DE DEUS

Já vimos que o objetivo de Deus em enviar Jeremias à casa do oleiro foi ensinar sobre a sua soberania. Mas o que significa precisamente dizer que Deus é soberano? Antes de definirmos a soberania divina, precisamos discorrer sobre alguns dos atributos naturais de Deus, os quais nos darão base para entendê-la. Não é nossa intenção aqui esgotar o assunto, apenas queremos situar a soberania divina dentro da totalidade de seu caráter, para não corrermos o riscos de inventarmos um deus arbitrário, como aqueles inventados pela mitologia grega. A soberania divina se sustenta neste tripé: onipotência, onisciência e onipresença.

Deus é onipotente. Isso significa que Deus é poderoso para fazer tudo o quanto pretende, ou seja, Ele faz tudo o que está de acordo com o seu propósito (Gn 18.14;Is 14.27; Jó 42.1). Realmente, nada nem ninguém pode resistir à execução de sua vontade, como bem o demonstra a oração do rei Josafá: “(...) Ah, Senhor, Deus de nossos pais, porventura não és tu Deus no céu? Pois tu és dominador sobre todos os reinos das gentes, e na tua mão há força e poder, e não há quem te possa resistir”(2 Cr 206).

Deus é onisciente. Significa que a mente de Deus tem ciência de tudo o que existe, reais e potenciais, abrangendo passado, presente e futuro (Sl 139; Is 40.28), como bem o demonstra o escritor aos hebreus: “E não há criatura alguma encoberta diante dele; antes, todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com que temos de tratar” (4.13).

Deus é onipresente. Significa que a sua presença se estende a todos os lugares do Universo (1 Rs 8.27), como bem o expressou o rei Davi: “Para onde me irei do teu Espírito ou para onde fugirei da tua face? Se subir ao céu, tua aí estás; se fizer no Seol a minha cama, eis que tu ali estás também; se tomar as asas da alva e habitar nas extremidades do mar, até ali a tua mão me guiará e a tua destra me susterá” (Sl 139. 7-9).

Agora sim, com base nos atributos divinos supracitados, podemos definir a soberania de Deus como a autoridade inquestionável que ele exerce sobre todas as coisas criadas, quer na terra, quer nos céus, de tudo dispondo conforme seus conselhos e desígnios.1


Soberania não é arbitrariedade

Não podemos estudar a soberania de Deus à parte de seus atributos morais sem o risco de apreendê-lo como um deus arbitrário, ou seja, caprichoso, despótico e sem regras, como eram os imprevisíveis e malévolos deuses das nações pagãs. Todas as ações de Deus são delineadas pela totalidade de seus atributos morais. Deus é santo (Lv 14.44), bom (Sl 100.5),amor (1 Jo 4.10), misericordioso (Sl 103.8), fiel (Dt 7.9), verdadeiro (Sl 33.4), justo e reto (Sl 72.2). Outrossim, a sua infinita sabedoria não O deixa cometer erros, pois lhe dá discernimento de tudo que existe ou possa vir a existir. Ele aplica com sabedoria todo o seu conhecimento. Todas as obras de suas mãos são feitas pela grandeza de sua sapiência (Sl 104.24), e assim Ele pode tirar ou colocar reis, mudar os tempos e estações conforme lhe parecer bem (Dn 2.21). Nenhum dos atributos divinos é mais importante do que outro nem se sobrepõe um ao outro. Destarte, Deus não poderá fazer nada – nem sequer subirá ao seu pensamento – que se choque com a santidade de seu caráter. É por isso que podemos confiar totalmente Nele.

Eleição e predestinação

Predestinar significa determinar de antemão, escolher [os justos] desde toda a eternidade, e se aplica aos princípios de Deus inclusos na eleição. A eleição é a escolha feita por Deus de, “em Cristo”, salvar um povo e constituí-lo para Si mesmo, desde a fundação do mundo. A predestinação abrange o que acontecerá ao povo de Deus (todos os crentes genuínos em Cristo). A Bíblia frequentemente usa o verbo grego proorizo, “demarcar de antemão”, determinar antes”, “preordenar”, para traduzir a ideia segundo a qual Deus predestinou um povo para si desde tempos eternos, não com base em qualquer mérito previsto nas pessoas, mas somente por causa de sua vontade soberana. Este assunto tem suscitado muitas controvérsias e mal-entendidos entre os estudiosos das Sagradas Letras. Mas A Bíblia ensina realmente a predestinação? Vejamos.

Em Rm 8.28-30, lemos: “Sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto. Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes a imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o Primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a estes também chamou, e aos que chamou, a estes também glorificou”. Na carta Aos Efésios, Paulo diz que Deus nos escolheu em Cristo antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença, e que em amor, Deus nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade (ver vv 4-6). Na sequência, no versículo 11, Paulo reforça dizendo: “Nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados, conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho de sua vontade”. No livro do Apocalipse, João fala de pessoas cujos nomes foram escritos no livro da vida desde a fundação do mundo, como também de outras que não tiveram o mesmo privilégio (ver Ap 13.7,8; 17.8). Todavia, quando os escritores neotestamentários falam sobre a razão de Deus nos ter elegido e reservado para Si, isso não significa que Deus arbitrariamente determinou uns para a vida eterna e outros para a condenação eterna, mas objetivam deixar claro que não somos salvos por causa de algum mérito nosso, foi única e exclusivamente pelo propósito soberano de Deus e de sua incomensurável graça que Ele nos concedeu em Cristo Jesus desde os tempos eternos (1 Tm 1.9). O comentário da Bíblia de Estudo Pentecostal transcrito a seguir resume mui satisfatoriamente a predestinação/eleição. .

A PREDESTINAÇÃO (gr. Proorizo) significa “decidir de antemão” e se aplica aos princípios de Deus inclusos na eleição. A eleição é a escolha feita por Deus, “em Cristo”, de um povo para si mesmo (a igreja verdadeira). A predestinação abrange o que acontecerá ao povo de Deus (todos os crentes genuínos em Cristo).

(1) Deus predestina seus eleitos a serem: (a) chamados (Rm 8.30); (b) justificados (Rm 3.24); (c) glorificados (Rm 8.30); (d) conformados à imagem de seu Filho (Rm 8.29); (e) santos e inculpáveis (1.4); (f) adotados como filhos (1.5); (g) redimidos (1.7); (h) participantes de sua herança (1.13; Gl 3.14); (i) criados em Jesus Cristo para as boas obras (2.10).

(2) A predestinação, assim como a eleição, refere-se ao corpo seletivo de Cristo (i.e., a verdadeira igreja), e abrange indivíduo somente quando incluso neste corpo mediante a fé viva em Jesus Cristo (1.5,13; cf. At 2.38-41; 16.31).1

Existem duas teorias sobre a Eleição divina: a calvinista e a arminiana. A teoria calvinista vem de João Calvino; e a teoria arminiana tem sua origem em Armínio, que foi discípulo de Calvino. Segundo a posição calvinista, a salvação é algo que depende única e exclusivamente de Deus, e o homem não tem nenhuma participação. Dessa forma, Deus, em sua soberania, escolheu, desde a eternidade, salvar alguns, ao mesmo tempo em que resolveu não salvar outros. Sendo assim, os salvos estão incondicionalmente salvos, e os perdidos, incondicionalmente perdidos. Quando questionados sobre o fato de que, posto desta forma, a doutrina da predestinação exclui totalmente o livre arbítrio, respondem os calvinistas que o livre arbítrio é a capacidade de se fazer o que se quer, mas é Deus quem dá os desejos e afeições que controlam a ação.

Calvinismo e Arminianismo

Para os arminianos, a salvação é uma realização da livre graça de Deus, mas a pessoa tem a liberdade para rejeitar ou aceitar esta oferta graciosa. Com base no clássico texto de Romanos 8.29-31: “Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que Ele seja o Primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a estes também chamou, e aos que chamou, a estes também glorificou”, os arminianos argumentam que Deus, na sua presciência, determinou, desde a eternidade, amar e redimir a raça humana através de Cristo. A predestinação, portanto, diz respeito à igreja, passando a fazer parte as pessoas individualmente somente a partir do momento em que elas passam a fazer parte deste corpo coletivo mediante a fé permanente em Jesus. Os arminianos argumentam ainda que a predestinação (v 30) se aplica aos propósitos de Deus referentes à eleição. Esta eleição, segundo o conceito arminianista, trata da escolha feita por Deus de um povo para si, porém é uma escolha feita “em Cristo”. O povo escolhido é a “Igreja Verdadeira”, incluindo aí todas as ocorrências que abrangem os indivíduos.

O profeta jeremias e a soberania de Deus

Em quarenta anos de ministério profético, Jeremias testemunhou crises e convulsões no cenário nacional e internacional. Ele testemunhou a bancarrota dos impérios assírio e egípcio diante da elevação da Babilônia. Enquanto estes fatos aconteciam, Jeremias assitia Judá em agonias diante da iminência da destruição, servindo de joguete aos interesses das potências beligerantes. Ora buscava socorro no Egito, ora apelava para a Babilônia. Enquanto isso, Aquele que fora sempre a sua fortaleza em tempos de angústia parecia esquecido. Jeremias viu um rei justo (Josias) tombar no campo de batalha (2 Cr 35.35), e reis ímpios subirem ao trono; assistiu a execução sumária do profeta Urias que, como ele, anunciava a verdade de Yhavé (26.20-24) . Foi vítima de desprezo e conspirações em todos os seguimentos (Jr 11.19-21; 12.6; 20.1,2; 18.1-17). A sua mensagem de uma possível destruição de Jerusalém esbarrava com a presunçosa Teologia do Templo (7.4), e parecia inócua diante da cada vez mais crescente iniquidade de seu povo. O profeta pressentia que a nação judaica estava agonizando os seus momentos finais. Movido, então, pelo chamamento divino, entrega-se à ação inútil de chamar o povo ao arrependimento. Os sentimentos do profeta, impressos nas páginas de seus dois livros (Jeremias e Lamentações), mostram-nos que ele, apesar da dureza do povo, acreditava numa possível intervenção de Deus em favor de Judá, tanto é que ele vaticinava a destruição, mas torcia para que as suas palavras não se cumprissem. Como a nação eleita não mostrava nenhum sinal de arrependimento, o profeta derrama seu coração em oração intercessora para que Deus tenha misericórdia de seu povo (ver cap.14). Porém ouve de Deus a ordem para que não mais intercedesse por Judá, então o profeta começou a perceber que o fato de aquela nação ser detentora das promessas do Senhor a abraão não a preservaria incólume, e as suas expectativas foram se arrefecendo à medida em que o quadro se agravava.

Todo o conturbado cenário acima descrito leva o profeta ao desespero existencial e fá-lo enxergar uma aparente soberania do mal em contraste com uma suposta incapacidade de Deus. Nas palavras dele mesmo: “Por que serias como um homem surpreendido, como o guerreiro que não pode livrar?” ( Jr 14.9). A resposta de Deus a Jeremias não foi a promessa de livramento, nem uma explicação sobre a sustentação de sua promessa a Abrão, mas uma lição prática: “Vai à casa do Oleiro e lá te farei ouvir as minhas palavras”. Ali, observando o manejo do artífice com o barro sobre as rodas, Jeremias aprendeu que Deus detém o controle absoluto de tudo o que existe e acontece, que o mal não prevalecerá, que no final o seu propósito se mostrará firme. Como o vaso se quebrou na mão do oleiro, e este voltou a fazer um novo vaso conforme o seu desejo, Deus estava – e está – determinando o curso da história humana da forma que lhe apraz, ainda que, às vezes, não vejamos nenhuma evidência disto. Foi sem dúvida a cura para o desespero do profeta.


III. O CRENTE E A VONTADE DE DEUS

Deus é o Oleiro, nós somos o barro. À vezes, as contingências da vida tornam difícil a aceitação desta verdade. Submeter-se única e exclusivamente à vontade de Deus tem sido um dantesco desafio para os homens de todos os tempos, uma vez que o orgulho é parte integrante da essência humana. Foi assim nos dias de Jeremias. É assim ainda mais em nossos dias. Até porque há uma dificuldade muito grande em se conciliar a doutrina bíblica do livre arbítrio humano com a doutrina da soberania de Deus. Outrossim, a cultura pós- iluminista criou um homem autônomo, autossustentável, abusivamente livre, que constrói, ele próprio, o seu próprio destino e determina a história; logo não precisa de Deus nem o considera. Mas a Bíblia tem falado para os homens de todos os tempos . Ela, amiúde, relata casos de uma relação conflituosa entre a criatura e o Criador, o barro e Oleiro (Sl 2.9; Is 64.8) . Em alguns casos, vê-se a intenção de inversão dos papéis por parte do barro: “Vós tudo perverteis, como se o oleiro fosse ao barro e dissesse do seu artífice: Não me fez; e o vaso formado dissesse do seu oleiro: Nada sabe”(Is 29.16). Mas a inquestionabilidade do Oleiro é reivindicada: “Ai daquele que contender com o seu Criador, caco entre outros cacos de barro! Porventura, dirá o barro ao que o formou: Que fazes?” (Is 45.9). E terá que ser reconhecida: “Mas agora, ó Senhor, tu é o nosso Pai; nós, o barro, e tu, o nosso oleiro; e todos nós, obra de tuas mãos” (Is 648).

Existe hoje no meio de alguns seguimentos evangélicos um desrespeito total à soberania de Deus. Vemos pessoas questionando, inquirindo, reivindicando e até “encurralando”o Senhor, como se Este estivesse subordinado a eles e, portanto, tivesse a obrigação de atender às exigências dos reivindicadores. Aos tais, a voz de Paulo ecoa pelos séculos: “Mas, ó homem, quem és tu que a Deus replicas? Porventura a coisa criada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim?” (Rm 9.20). Ademais, como observa o pastor Claudionor Andrade, é chegado o momento de encararmos com seriedade a soberania de Deus. O mesmo Oleiro que de uma argila disforme formou Israel, também nos chamou de entre as nações, constituindo-nos um povo santo, especial e de boas obras.

CONCLUSÃO

A aula de hoje nos convidou a descer à casa do oleiro com Jeremias, a fim de aprendermos que somente um conhecimento prático do caráter de Deus, conforme descrito nas Escrituras, capacita o crente a encarar as circunstâncias da vida com fé, mudar o que ele pode mudar e conviver com o que ele não pode alterar, consciente de que Deus é soberano, está no controle de tudo o que acontece, e a sua vontade não pode ser frustrada. Como sua soberania está em harmonia total com os atributos do seu caráter santo e com a sua sabedoria infinita, podemos, confiantemente, submeter-nos ao seu senhorio.

Um comentário:

Ministro Fabio dos Santos disse...

Parabéns pela explanação, desde o contexto histórico, teológico e devocional. Deus é soberano e imutável.