sábado, 24 de setembro de 2011

Davi, homem segundo o coração de Deus


E, quando este foi retirado, levantou-lhes como rei a Davi, ao qual também deu testemunho, e disse: Achei a Davi, filho de Jessé, homem conforme o meu coração, que executará toda a minha vontade..." ATOS 13:20-22
Davi era o filho mais novo dos oito filhos de Jessé, o belemita, da tribo de Judá (1 Sm 17.11,12), bisneto de Boaz e Rute, a moabita (Rt 4.18-22), e o segundo rei de Israel. Sua história, realizações e problemas ocupam uma parte extensa das páginas sagradas, de 1 Sm 16 a 2 Reis 1 e em 1 Crônicas 2 a 29. O nome Davi parece significar amado (raiz hebraica dwd – amor) e é aplicado nas escrituras unicamente ao filho de Jessé, talvez para acentuar o eminente lugar que ocupa, como o ancestral, precursor e figura do Messias (Sl 22; R 1.3). Para se ter uma ideia da grandeza desse homem, o Novo Testamento se refere a ele 58 vezes, incluindo-se aí o título constantemente atribuído a Cristo: Jesus, filho de Davi. E, em uma revelação formidável a João, o próprio Jesus diz: “Eu sou a raiz e a geração de Davi, a resplandecente estrela da manhã” (Ap 22.16).

Davi era uma pessoa segundo o coração de Deus (1 Sm 13.14). Sem dúvida esse espantoso elogio feito por Deus a Davi é o principal motivo por que ele se tornou objeto de tanta curiosidade. Em um momento de crise na vida do povo de Israel, quando Deus havia rejeitado Saul por causa dos pecados deste, ordenou que o profeta Samuel ungisse o filho de Jessé rei sobre o seu povo, e ele se tornaria o maior de todos os reis de Israel.


UM SERVO FIEL E RESPONSÁVEL

A primeira vez que Davi aparece no cenário de Israel, encontramo-lo nas colinas de Judá, pastoreando as ovelhas de seu pai. (1 Sm 16.11). Temos então parte importante de sua biografia, a de que seu primeiro emprego foi como pastor de ovelhas, função que ele, paulatinamente, foi deixando para servir ao rei Saul, primeiramente como músico no palácio, depois como pajem de armas do rei (1 Sm 16.21-23). A maneira como ele serviu é objeto de nosso estudo neste primeiro tópico. Num rápido passeio pelos campos de Judá, e depois numa visita ao palácio de Saul, veremos por que Davi chamou a atenção de Deus.
  
1. No pastoreio das ovelhas. O que Deus viu nesse rapaz que o identificou como rei de seu povo em potencial? Primeiro, ele tinha um espírito de servo. A sua prontidão para o serviço está clara no fato de que, ainda muito jovem, foi encarregado de cuidar das ovelhas de seu pai, trabalho que não era visto com bons olhos pelos seus irmãos (1 Sm 17.28). Segundo, ao lermos 1 Sm 17.34,35, saltam aos olhos a responsabilidade e fidelidade com que servia. Davi devotava tanta dedicação e desvelo às ovelhas que era capaz de arriscar a própria vida para arrebatá-las das garras de ursos e leões famintos (1 Sm 17.34,35). Tamanho comprometimento com a tarefa que lhe fora conferida por Jessé, sem dúvida alguma foi um dos fatores pelos quais Davi foi escolhido para rei de Israel.

Vemos ainda, no salmo 23, o quão dedicado ao rebanho era o filho de Jessé. Ele compara o cuidado de Deus para com os seus filhos aos cuidados que um pastor, diligente como ele, dispensa às ovelhas. Deus só pode ser comparado a um pastor responsável e zeloso. Bem a propósito, Davi, consumido de zelo pelo rebanho, viu no cuidado que ele procurava dispensar ao rebanho um retrato do cuidado do Senhor para com os seus. O que Davi procurava ser para o seu rebanho, Deus era para ele. Note a importância disso. Ao comparar “o Senhor é meu pastor e nada me faltará / Deitar-me faz em verdes pastos/ Guia-me mansamente a águas tranquilas / Refrigera minha alma...”, o filho de Jessé dá uma ideia do tamanho de seu compromisso e desvelo para com as ovelhas.

A quem Deus está procurando para engrossar sua fileira nos dias hodiernos? Pessoas formadas, capacitadas, belas, adestradas? Não. A história do chamado de Davi e rejeição de seus irmãos contradiz este mito. O Senhor procura sobretudo pessoas que tenham o que o doutor Caramuru, no site da Escola Dominical, chamou de consciência do compromisso assumido, no texto que transcrevemos abaixo.

- Devemos, desde já, verificar que a consciência do compromisso assumido, que a disposição para cumprir com as tarefas que são cometidas por quem de direito é um traço de caráter indispensável para quem quer servir a Deus. Davi foi chamado por Deus como “um homem segundo o coração de Deus” (I Sm.13:14), precisamente porque, no silêncio, no anonimato, fazia questão de honrar o compromisso de cuidar do rebanho que lhe fora confiado. Este mesmo sentimento de dedicação e de consciência do compromisso nas mínimas coisas continua a ser observado por Deus, que conhece os corações (I Sm.16:7 “in fine”). Jesus fez questão de lembrar, na parábola dos talentos, que um requisito para que alguém alcance o gozo do Senhor é o de ter sido fiel sobre o pouco (Mt.25:21,23). Por isso, o profeta nos aconselha a jamais desprezarmos o dia das pequenas coisas (Zc.4:10a). A dedicação de Davi era tanta que seu pai, mesmo sem sequer saber onde se encontrava o pequeno, sabia que ele estava a apascentar as ovelhas, tanto que não houve dificuldade em achá-lo (I Sm.16:12). Esta dedicação e este compromisso são, pois, fatores importantíssimos aos olhos do Senhor. Davi era um homem agradável a Deus por causa deste seu comportamento. Não foram as guerras que fizeram Davi agradável ao Senhor, nem tampouco os salmos ou os esforços em prol da obtenção de materiais para o templo, mas, sim, este sentimento de serviço, de submissão. Este foi o fator que fez com que Deus escolhesse a Davi. E nós, será que temos este mesmo sentimento? Jesus, o Filho de Davi, tinha-o, como nos mostra o apóstolo Paulo (Fp.2:5-8) e o escritor aos hebreus (Hb.10:7-9), que, de resto, apenas confirmam aquilo que o próprio Senhor publicamente afirmou (Mt.5:17), sendo testificado pelo Pai (Mt.3:17). Estamos imitando a Cristo? Temos aprendido esta lição com Davi?

2. Na corte do rei. Davi estava certo de que Deus o faria rei de Israel. Todavia, enquanto o tempo determinado pelo Senhor não chegara, ele continuou demonstrando um espírito de servo fiel e responsável, dessa vez na casa de Saul, o rei que havia sido rejeitado por Deus. Diz-nos a Bíblia que aquele monarca estava sendo atormentado por um espírito maligno e que precisava de alguém que tocasse bem a harpa para trazer-lhe alívio. Buscaram a Davi. Este o fez como tanta dedicação e desvelo que caiu na graça do eminente rei de Israel (1 Sm 16.21,23). Mais tarde, o futuro rei se tornaria pajem de armas de Saul, o que também procurou fazer com a mesma dedicação que havia servido a Jessé no pastoreio das ovelhas. O espírito prestimoso de Davi se traduz de forma precisa nas palavras do escritor sacro: “E saía Davi aonde quer que Saul o enviava, e conduzia-se com prudência, e Saul o pôs sobre a gente de guerra, e era aceito aos olhos de todo o povo, e até aos olhos dos servos de Saul” (1 Sm 18.5). E apesar das posteriores perseguições de Saul contra o futuro rei, este nunca empreendeu esforço algum para usurpar-lhe o trono, pelo contrário, recusou-se terminantemente a dar cabo da vida de seu monarca, quando este caiu em suas mãos (1 Sm 24; 26), e sempre se reportava a ele como “teu servo” (1 Sm 26.19). A disposição para o serviço era, portanto, uma marca registrada do filho de Jessé. Tanta disposição, acrescida de sua grande responsabilidade, contribuiu para que Deus o escolhesse para pastorear as ovelhas da casa de Israel (Sl 78.70-72).


ASPECTOS DO CARÁTER DE DAVI

Esta história é contada e recontada, sempre com uma emoção nova. Deus já havia rejeitado Saul para que não fosse mais rei sobre o seu povo. Então Ele ordena ao profeta Samuel que encha o seu vaso de azeite e vá à casa de Jessé, o belemita, a fim de ungir um de seus filhos como o novo rei de Israel. É interessante notar que o Senhor não antecipa para o seu profeta quem seria o escolhido, como aconteceu no caso de Saul (1 Sm 9.16). Seria uma revelação instantânea. Quereria o Senhor colocar o discernimento de seu servo a prova? Não se tem certeza. De qualquer maneira fica a lição para nós. Os homens de Deus também estamos sujeitos a julgar segundo a aparência das coisas.

Chegado Samuel à casa de Jessé, este faz passar todos os seus belos filhos diante do profeta. Eram sete no momento. Fisicamente, todos eram fortes concorrentes ao cargo, tanto que Samuel teria elegido Eliabe, enquanto que Jessé elegeria Abinadabe ou Samá. Desta vez o critério usado na escolha seria diferente, todavia. Não consoante a aparência física, como no caso da escolha de Saul, mas segundo os valores arraigados no coração.

O Eterno não se impressiona com a aparência dos homens, diria Paulo (Gl 2.6), porque ele enxerga o que está nos recônditos da alma. “Porém o Senhor disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a altura da sua estatura, porque o tenho rejeitado, porque o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração” (1 Sm 16.7). “Acabaram-se os moços?”, pergunta o profeta. “Ainda falta o menor, e eis que apascenta as ovelhas”, responde Jessé, um tanto confuso. Pois é: aquele pastor de ovelhas seria o escolhido e se tornaria o maior rei de Israel. Mas o que havia de tão importante no coração dele para vencer a forte concorrência? Vejamos.

1. Coração de servo. Já vimos que Davi ganhara certa notoriedade após ser ungido por Samuel. Ele estava servindo a Saul, no palácio real. Todavia tal notoriedade não o impediu de continuar cuidando das ovelhas do pai. Diz-nos a Bíblia que “Davi ia e voltava de Saul para apascentar as ovelhas de seu pai em Belém (1 Sm 17.15). Veio a guerra com os filisteus, e Jessé precisou enviar mantimento para os seus filhos que estavam em campo de batalha. Buscou, então, a Davi lá no meio das ovelhas. “Então Davi de madrugada se levantou pela manhã, e deixou as ovelhas a um guarda, e carregou-se e partiu, como Jessé lhe ordenara...” (1 Sm 17.20). Realmente, Davi tinha um coração de servo, pois servia prazerosamente. Usando uma expressão atual, o nome de Davi era Trabalho, sobrenome era Dedicação.

Há três tipos de servos: a) os inferiores são aqueles que vivem cheios de apatia e descontentamento com o que fazem, por isso estão sempre cometendo atos desabonadores sem refletir nos prejuízos que possam causar aos outros; b) os ordinários vêem o serviço apenas como obrigação, dele esperando lucros, riquezas e posições; c) os verdadeiros servem por prazer e amor. Davi não pertence à primeira categoria, porque não o encontramos em lugar algum se queixando do seu laborioso trabalho. Também não pertence ao segundo grupo, porque, em termos de lucro financeiro e posição social, o seu trabalho lhe rendia muito pouco. Davi pertencia ao último grupo, porque amava o que fazia. Jesus também fazia parte desse último grupo (Jo 4.34; Fl 2.5-8). A que categoria você pertence?

2. Humildade. A humildade é a virtude que nos dá o sentimento de nossas fraquezas e limitações; é demonstração de respeito e submissão. Vamos primeiramente encaixar Davi na primeira definição. Ele atribuía todas as suas vitórias ao Senhor. Ao chegar no arraial, onde seus irmãos estavam, viu o campeão dos filisteus, Golias, de Gate, desafiar vergonhosamente o exército de Israel, enchendo os israelitas de pavor. Golias queria um homem para lutar com ele, mas ninguém do exército de Saul se dispunha. Davi se oferece para pelejar contra o incircunciso filisteu, o que despertou a ira de seu irmão contra ele. Diante de Saul, questionado se podia ir contra Golias, homem adestrado na guerra, respondeu: “Teu servo apascentava as ovelhas de seu pai; e vinha um leão e um urso, e tomava uma ovelha o seu rebanho; e eu saí após eles, e os feri, e livrei-a de sua boca. Levantando-se eles contra mim, lancei-lhe mão da barba, e o feri, e o matei... O Senhor me livrou da mão do leão e da do urso; ele me livrará da mão desse filisteu (ler 1 Sm 17.32-37). Mais tarde, diante do descomunal guerreiro, Davi diria: “Eu venho a ti em nome do Senhor dos exércitos... hoje mesmo o Senhor te entregará na minha mão...”. Note: Davi não confiava nas suas habilidades, atribuía todas as suas vitórias ao Senhor”, sentimento que ele melhor traduziu nos salmos que compôs (Sl 131; 40; 124 etc.). A quem você tem atribuído as suas vitórias?

Em se tratando de submissão e respeito aos seus superiores, o filho de Jessé sempre foi um exemplo. Era um filho totalmente submisso ao seu pai. Era um súdito totalmente submisso ao rei, apesar da patente aleivosia deste contra ele (diga-se de passagem o fato de Saul não ter-lhe dado a filha mais velha por esposa, conforme prometera ao que vencesse Golias – 1 Sm 17.25; 18.17). Mais tarde, como o grande rei de Israel, foi um servo submisso em tudo ao Senhor e aos seus profetas – Natã que o diga. Terminado este subtópico, seria um desperdício não transcrever aqui as palavras do pastor Eliezer de Lira e Silva: “Quanto mais o homem se aproxima da bondade, santidade e grandeza do altíssimo, mas consciente se torna de seus pecados, mazelas e misérias” ( [Rm 7.24,25; 12.3] revista de mestre da escola dominical/ 3º trimestre 2007/ p 14).

3. Sincero. Davi sabia que todas as coisas estão diante do Senhor (Sl 139), por isso nunca quis ser uma pessoa diferente do que realmente era. No salmo 15, ele põe a sinceridade entre as características dos que andam com Deus, bem como define o caráter de uma pessoa sincera. “Senhor, quem habitará no teu tabernáculo? quem morará no teu santo monte? Aquele que anda em sinceridade e pratica a justiça, e fala verazmente segundo o seu coração”. Não podemos esquecer que a nossa  sociedade valoriza excessivamente o exterior, mas Deus olha para a essência do indivíduo. Por isso, ser sincero é requisito indispensável para quem quer andar com Deus
4. Coragem. A coragem de Davi fez dele um guerreiro sem par, o maior de todos os conquistadores da história de Israel (1 Sm 18.5). As mulheres israelitas reconheceram isso quando cantaram: “Saul feriu os seus milhares, porém Davi os seus dez milhares” (1 Sm 18.7). Essa virtude começou aflorar logo cedo, quando, ainda pastor, se arremeteu contra um leão e um urso e os matou, e foi crescendo na mesma proporção em que cresciam os desafios. Mais tarde, arrostaria o incircunciso gigante que causava pavor até aos mais adestrados guerreiros de Israel. Em outra ocasião, matou, com seus homens, duzentos filisteus e trouxe os prepúcios de cem deles ao rei Saul. Este condicionou dar sua filha Mical a Davi ao sucesso dessa empreitada (1 Sm 18.20-27). Note a progressão dos atos de bravura do filho de Jessé. De onde vinha tanta coragem? Ele mesmo responde: “Com a tua ajuda passo pelo meio dum esquadrão; com o meu Deus salto uma muralha” (Sl 19.29). Sua coragem, portanto, se afirmava na autêntica fé em seu Deus (Sl 17.37,45-47).

5. Gratidão. “Mede-se o caráter de um homem pelo tamanho da sua gratidão”, disse alguém. A gratidão de Davi a Deus diz muito sobre a grandeza de seu caráter. Os salmos que escreveu (São ao menos 73 salmos) estão repletos de gratidão ao Senhor. Ele é considerado “o suave em salmos”, porque seu louvor emana das profundezas de um coração agradecido. Expressões do tipo “Eu te louvarei, Senhor”, “Exaltar-te-ei, ó Deus”, “Em todo tempo louvarei ao Senhor”, são copiosas em seus poemas (Sl 9; 30; 34;145, etc.).

Gratidão implica em reconhecimento por todos as dádivas recebidas. No salmo 124, numa festa solene, Davi externa seus mais profundos sentimentos ao dizer: “Se não fora o Senhor que esteve ao nosso lado, ora diga Israel: se não fora o Senhor que esteve ao nosso lado quando os homens se levantaram contra nós, eles então nos teriam engolido vivos”. Acredito que naquele momento passavam pela cabeça do salmista os vários livramentos da parte do Senhor - quando enfrentou Golias (1 Sm 17.48); quando implacavelmente perseguido por Saul, teve que fugir para Áquis, rei de Gate e ali se fingiu de louco para não ser morto, ou quando se refugiou na caverna de Adulão e habitou entre homens proscritos, os quais conquistou de forma tal que se tornaram os valentes de seu reinado (1 Sm 22.1,2); quando teve que perseguir os amalequitas para recuperar os seus bens, inclusive suas mulheres que foram levadas por eles (1 Sm 30.1-17); quando estourou a guerra civil em Israel, no tempo em que Absalão, seu filho, intentou contra seu reino ( 2 Sm 15.1-18.22). Seria desnecessário e até enfadonho anotar aqui todas as dádivas e livramentos de Deus ao seu servo Davi. Isso o leitor pode encontrar na Bíblia. Por ora, é importante anotar que Davi era todo gratidão, tanto que encerra os seus dias com dois cânticos (2 Sm 22; 23.1-7), em um dos quais, ele se derrama : “Por isso, Senhor, te louvarei entre as gentes, e entoarei louvores ao teu nome” (22.49).

6. Dependência de Deus. Davi aprendeu a depender totalmente de Deus mediante as fortes intempéries da vida. Quando Saul o expulsou como proscrito e começou uma caçada implacável contra ele, o filho de Jessé buscou um relacionamento ainda mais profundo com o seu Pastor, a fim de suportar a rejeição e a hostilidade do rei. Alguns de seus salmos externam os pensamentos e sentimentos de seu coração nessa época, revelando sua total dependência de Deus. Quão maravilhoso é o salmo 18, que ele escreveu quando escapava de Saul: “Eu te amarei do coração, ó Senhor, fortaleza minha. O Senhor é o meu rochedo, e o meu lugar forte, e o meu libertador; o meu Deus, a minha fortaleza em quem confio; o meu escudo, a força da minha salvação, e o meu alto refúgio...” (vv 1,2). Veja também alguns versos do salmo 3, que ele compôs quando fugia da face de Absalão, seu filho: “Muitos dizem da minha alma ‘não há salvação para ele em Deus’. Mas tu, Senhor és um escudo para mim, a minha glória, e o que exalta a minha cabeça...” (vv 2,3). Convém lembrar ainda que Davi, apesar de ser um guerreiro excelente, não fazia coisa alguma sem antes consultar ao Senhor. Por diversas vezes, vemo-lo consultando a Deus a respeito de como se deveria conduzir nas batalhas (1 Sm 22.10; 23.2; 30.8; 2 Sm 5.19). Em todas as vicissitudes da vida, ele confiava e dependia do Senhor. Num mundo de tantas incertezas e fatalidades como o nosso, “feliz é o homem que tem o Deus de Jacó por seu auxílio e cuja esperança está posta no Senhor seu Deus” (Sl 146.5).

7. Arrependimento. Nesse espaço, veremos uma fase de declínio na vida do grande rei de Israel. Sua história ficaria manchada para sempre pela mácula de um adultério e, conseqüentemente, um homicídio. No capítulo 11 de 2 Sm, encontramos o relato de um crime brutal. Está escrito que, nos tempo em que os reis saem para a guerra, Davi enviou Joabe e seus servos para destruírem os filhos de Amom. Davi, porém, ficou em Jerusalém. Passeando no terraço do palácio real, ele viu Bat-seba, mulher de Urias, um de seus homens valentes, lavando-se. Davi, consumido por um desejo carnal desenfreado, mandou que buscassem a mulher e se deitou com ela. Para desespero do rei, a mulher ficou grávida. Ele então mandou buscar Urias, seu marido, no campo de batalha para que ficasse com sua mulher algum tempo, a fim de imputar-lhe aquela concepção. Como Urias se recusou a proceder conforme Davi ordenara, este arquitetou a sua morte, ordenando a Joabe que o colocasse à frente do campo de batalha, em local indefensável, para que morresse. Morto Urias, Davi tomou sua viúva como esposa. Como ninguém mais sabia do ocorrido, o rei se comportou como se nada houvera acontecido.

A Bíblia é categórica em afirmar que aquilo parece mal aos olhos do Senhor, o qual enviou o profeta Natã para repreender a Davi. Após contar uma parábola que dimensionou a gravidade do ato, o profeta declara a sentença de Deus para o rei. É aí que aflora uma característica fantástica de Davi: a sua capacidade para reconhecer seus erros e arrepender-se. Ele não mandou prender o profeta como se esperava e como fez Asa (2 Cr 16.10), também não transferiu responsabilidades, nem procurou justificar-se como fez Saul (1 Sm 13.13-14; 15.1-3,9,15-31), todavia arrependeu-se profundamente e disse: “Pequei contra o Senhor”. A Palavra de Deus afirma que “o que encobre suas transgressões nunca prosperará; mas o que as confessa e deixa alcança misericórdia” (Pv 28.13). Um dos grandes legados de Davi para os cristãos de todos os tempos é o salmo 51, que mostra a oração de um homem profundamente arrependido. Tal arrependimento levou o Senhor a perdoá-lo, apesar de que as conseqüências de seus pecados não tardariam chegar (2 Sm 12.10-12).


CONCLUSÃO

Davi morreu com idade entre 70 e 80 anos, sendo que quarenta deles reinou sobre o povo de Deus. Foi um personagem singular na história bíblica. Seus erros e fracassos não sepultaram as glórias de suas virtudes, virtudes que lhe asseguraram um lugar proeminente no plano divino de salvação para a humanidade, tanto que recebeu a promessa messiânica, ou seja, que não faltaria rei sobre o trono de Israel da casa de Davi (2 Sm 7.16). A sua grade diferença residia no fato de que ele desejava ardentemente o coração do Eterno. E isso lhe rendeu o título “um homem segundo o coração de Deus”, o que significa dizer que o coração do altíssimo se reproduzia no coração de Davi na medida em que este ansiava pela presença do Santo de Israel e primava por uma vida de intensa devoção e comunhão com Ele. Assim sendo, um crente segundo o coração de Deus é alguém que deseja ardente e constantemente a presença do Eterno. Finda essa aula, a nossa oração é para que o Espírito Santo faça brotar no coração de cada cristão um propósito básico: ser uma pessoa conforme o coração de Deus. Amém.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Jesus, Mestre dos Mestres

“E, chegando o sábado, começou a ensinar na sinagoga; e muitos, ouvindo-o, se admiravam dizendo: De onde lhe vêm essas coisas? E que sabedoria é esta que lhe foi dada? E como se fazem tais maravilhas por suas mãos?” (Mc 6.2).


“Nunca homem algum falou como este homem”. Com essa frase dois servidores testemunharam acerca do impacto dos ensinos de Jesus sobre seus alunos. A clareza, autoridade e originalidade com que o Mestre de Nazaré ensinava encantavam até os seus adversários e lhe renderam o título de maior Mestre de todos os tempos. Nos dias de Jesus, Sócrates, o grande mestre grego, já havia passado por aqui; Moisés, o grande legislador de Israel também; Esdras, o mestre do pós-cativeiro também – sem falar de outros grandes nomes como Platão, Aristóteles, etc.; mas foi do homem de Nazaré que alguém comentou: NUNCA HOMEM ALGUM FALOU ASSIM COMO ESTE HOMEM. Só prara se ter uma ideia mais clara do reconhecimento do magistério deste homem, das 90 vezes que alguém se dirige a Ele, em 60 Ele é chamado de Mestre

Ensinar era algo  que estava no âmago da missão de Jesus, a maior parte do seu ministério foi ocupada pelo ensino. O Mestre de Nazaré deu importância e dimensão ao ministério do ensino como ninguém jamais houvera feito. Ele começou seu ministério ensinando (Mt 4.5), passou seus últimos dias entre os homens ensinando (Jo caps 14;15;16) e a sua última comissão á igreja foi: “Ide e ensinai” (Mt 28.19,20). ! Era impossível ouvi-lo e ficar indiferente ou inerte. Os que o ouviam, ou o amavam profundamente ou o odiavam com ódio cruel, isso porque ele quebrou os paradigmas de sua época. Em uma ocasião, após ouvirem um de seus discursos, muitos dos seus discípulos o abandonaram dizendo: "Duro é este discurso; quem o pode ouvir?" (Jo 6.60). João tem o cuidado de registrar que a partir daquele momento, muitos de seus discípulos tornaram para trás e já não andavam com ele (Jo 6.66). Mas qual o grande diferencial do Mestre de Nazaré? Que predicados o consagraram como o maior de todos os tempos? Vejamos alguns.

1. Jesus ensinava com autoridade . É comum, em um texto dissertativo, para ser convincente, alguém usar “argumento de autoridade”. Por exemplo, se queremos defender uma tese de cunho científico, citamos as palavras de um grande cientista; se a tese é de cunho religioso, citamos um grande religioso; se é de cunho econômico, citamos um grande economista, e daí por diante. Os mestres de Israel, a fim de endossar seus ensinos, citavam as tradições e a autoridade destas para apoiar seus argumentos e interpretações. Outrossim, citavam Moisés, cuja autoridade impunha respeito sobre o povo. Afinal de contas, até o momento, nunca havia se levantado em Israel um profeta ou legislador da envergadura de Moisés. Por isso era comum se ouvir “assim como escreveu Moisés” ou “como nos ensinou Moisés”. Dessa sorte, a autoridade que calcava o discurso pertencia ás tradições ou àquele que era citado. De repente aparece Jesus com uma forma argumentativa centrada nele próprio, dizendo “ouviste o que foi dito... eu, porém, vos digo” (Mt 5.21,22,27,28, 31-34, 38,39, 43, 44). Essa forma inédita de argumentar causou espanto nos ouvintes de Jesus. A autoridade em que ele alicerçava seu ensino era nele mesmo, não nos antigos. O Mestre não precisava citar outras fontes, pois ele mesmo era a Palavra de Deus e o Verbo vivo. Por isso que Lucas observa que a multidão se maravilhava de seus ensinos, porque ele ensinava com autoridade, e não como os escribas e fariseus (Mt 7.29).

2. Jesus ensinava em todos os lugares, a todas as pessoas. Ninguém era tão sábio ou indouto que pudesse ser dispensado dos ensinos de Jesus. Ele lecionou para um mestre de Israel chamado Nicodemos (Jo 3.1-21); como também lecionou para uma mulher simples de Samaria (Jo 4.1-30). Ele ensinava a grandes multidões (Mc 6.34), a pequenos grupos e também individualmente (Lc 24.27; Jo caps 3 e 4). Em todos os lugares, eis o incansável Mestre ensinando: nas sinagogas (Mc 6.2), em casas particulares (Mc 2.1; Lc 5.17), no templo (Mc 12.35) e nas aldeias (Mc 6.6). Para ser aluno de Cristo, bastava está em seu caminho em qualquer lugar onde Ele estivesse.

3. Usava e abusava dos mais variados métodos de ensino. O Mestre se valeu de vários métodos pedagógicos, de acordo com a capacidade cognitiva de seus ouvintes, a fim de comunicar com eficiência. Ele criava condições favoráveis ao aprendizado de seus alunos, adaptando a lição ao aluno, não ao contrário. Ele analisava as condições psicológicas das pessoas, atentava para suas necessidades, interesses problemas pessoais e, a partir daí, mostrava caminhos e meios. Vejamos alguns métodos usados por Jesus.

a) Método expositivo (Mt 5.1,2; Lc 4.22).
b)Método socrático (Mt 22.42-45; ver Mt 13.51; 22.20; Mc 13.2; Lc 10.26).
c) Método de discussão (Lc 24.15-27,32; ver At 17.3,17; 18.4).
d) Método audiovisual (Mt 6.26, 28; Mc 12.15,16).
e) O método narrativo (Mt caps 13, 25; Lc caps 10, 15).
f) O método de leitura (Lc 4.16).
g) O método demonstrativo (ver Jo 13.15; At 1.1).

4. Jesus era pertinente. Ser pertinente significa ser próprio, concernente, adequado. Jesus arrebatava as multidões porque tinha uma mensagem que satisfazia a necessidade espiritual das pessoas. Ele tinha um método eficientíssimo de comunicar sua mensagem e uma vida que a endossava. Então o seu sucesso devia-se a junção destes três elementos: uma mensagem (que ensina e satisfaz), um método (que comunica) e uma vida (que conserva). Uma vez o Mestre disse aos seus discípulos: “Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu fiz, façais vós também” (Jo 13.15). Em outra oportunidade advertiu-os: “No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci o mundo” (Jo 16.33). Mais tarde, o escritor aos hebreus traduz a coerência entre os ensinos de Jesus e a sua vida exemplar ao dizer: “Porque não temos um sumo sacerdote que não possa se compadecer de nossas fraquezas; porém um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado” (Hb 4.15); e “... naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados” (Hb 2.18). Por isso que até mesmo os que não gostavam de Jesus voltavam dizendo: Nunca homem algum falou como este homem(Jo 7.46).

5. Ilustrava sua mensagem com belas parábolas. O termo parábola significa, etimologicamente, colocar uma coisa do lado da outra, a fim de comparar. Segundo a hermenêutica bíblica, parábola é uma narrativa alegórica constituída de personagens, coisas, incidentes e atitudes que, através de comparações, facilita a compreensão de realidade que se acham além do nosso entendimento.

Dos vários métodos usados por Jesus a fim de favorecer a compreensão, o que se sobressaiu foi o método narrativo, que consiste em contar histórias do cotidiano para ilustrar verdades que, de outra forma, seria de muito difícil compreensão. Dessa forma, as parábolas foram um recurso didático abundantemente usado pelo Mestre de Nazaré. Jesus era um excelente contador de histórias. Suas parábolas até hoje são apreciadas por leitores de todo o mundo, tanto adultos como crianças. Dentre as mais conhecidas, temos a Parábola do bom samaritano (Lc 10), da ovelha perdida (Lc 15), das dez virgens (Mt 25), do filho pródigo (Lc 15). Além de que Jesus era um exímio observador. Tudo em seu campo de visão podia ser usado como objeto ilustrativo para comunicar seu pensamento.

Ao ensinar verdades profundas por meio de parábolas, Jesus tinha objetivos bem definidos: Ele queria esclarecer o Reino de Deus aos pequeninos e ocultá-lo daqueles que, julgando-se mestres, recusavam a sua doutrina. Em certa ocasião, ele mesmo disse: “Por isso vos falo por parábolas, porque eles [os religiosos de Israel], vendo, não vêem; e, ouvindo, não ouvem, nem compreendem” (Mt 13.13). Aliás, essa atitude do Mestre já havia sido predita pelo profeta Isaías (Is 6.9,10). Achamos por bem transcrever abaixo o comentário preciso do pastor Ezequias Soares a respeito do assunto em apreço.

“Nem todos os que seguiam a Jesus estavam preocupados com o Reino de Deus e muito menos interessados em aprender. O propósito do Mestre era atrair os verdadeiros interessados por sua mensagem, pois, não entendendo, iam pedir-lhe explicações (Mt 13.10). Como toda a Palavra de Deus, as parábolas do Senhor Jesus eram como espadas de dois gumes. Se por um lado explicavam os mistérios do Reino de Deus aos pequenos e humildes (Lc 10.21), por outro, ocultava esses mesmos mistérios aos sábios e inteligentes. Se quisermos aprender os mistérios do Reino de Deus, devemos nos prostrar aos pés do Mestre divino e, assim, em profunda humildade, guardar seu ensinamentos em nosso coração”.

6. O ensino de Jesus era prático e desafiador. Ao proferir seus magistrais ensinamentos, Jesus não tinha como objetivo embevecer seus ouvintes com a sua incrível sabedoria ou encher-lhes o coração e a mente com princípios impraticáveis, absolutamente não, ele tencionava transformar-lhes a vida através da prática de tudo o que ele ensinava. Em certa ocasião, uma mulher ficou tão maravilhada com as palavras do Mestre que exclamou: “Bendito o ventre que te trouxe e os peitos em que mamaste!” (Jo 11.27). Jesus, porém, a corrige, dizendo: “Antes, bendito os que ouvem a Palavra de Deus e as guarda” (Jo 11.28).

O Mestre foi muito pertinente em encerrar o Sermão do Monte com a parábola dos dois construtores. Ele queria advertir a multidão sobre o fato de que de nada adiantaria ouvi-lo, maravilhar-se de sua doutrina e em seguida lançar para trás tudo o que fora aprendido. Assim ele apresenta a figura do insensato, o qual ouve, mas não se dá ao trabalho de praticar, este é o que edifica na areia, cuja construção não resiste às intempéries da vida. Da mesma forma, o Senhor apresenta a figura o homem prudente, o qual, não só ouve, mas pratica o que ouviu, este é comparado ao homem que edificou sobre a rocha, cuja construção resistiu firmemente contra as tempestades. Tiago, mais tarde, aconselharia aos irmãos: “E sede cumpridores da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos com falsos discursos” (Tg 1.22).


CONCLUSÃO

Já li muitos dos grandes mestre, pensadores de projeção universal que mudaram culturas e  influenciaram sociedades inteiras; todavia, ao compará-los a Jesus, só me resta fazer uso das palavras dos servos do sacerdote, citadas no início do texto: “Nunca homem algum falou como este homem”. Sinceramente, não tem "pra" ninguém.