domingo, 9 de outubro de 2011

Subsídio para professores de Escola Dominical

Psicologia Educacional 1
O aluno

“Num conceito moderno de ensino, o professor é, em síntese, um educador. Para cumprir seu papel, precisará mergulhar primeiro no mundo do aluno que, o quanto possível, precisará ser o seu” (Lécio Dornas).

Talvez o maior erro que nós cometemos no magistério cristão é, no nosso preparo como professores, focar demasiadamente o estudo do conteúdo ministrado e, por outro lado, esquecer de estudar a pessoa do aluno. Paulo Freire já se referia a um tipo de educação que ele denominava de bancária, em que a função do professor se divide em dois momentos: na biblioteca, preparando a aula, e na sala de aula, despejando conhecimento nos alunos. Essa maneira de encarar o magistério, tendo o aluno como simples depositário do conhecimento, é retrógrada e não contribui em nada para a a educação de qualidade. Como alerta o pastor Antônio Gilberto, para o êxito do ensino, é indispensável ao professor conhecer não apenas a sua matéria, mas também o seu campo de aplicação, o aluno. Ainda segundo o Gilberto,o semeador deve conhecer o terreno onde vai semear, que o aluno é a matéria-prima da escola e, portanto, o professor deve estudar não só a lição, mas também o aluno. O estudo das teorias a seguir ampliará nossa compreensão acerca desse tesouro a nós confiado.

1. Teorias do desenvolvimento

O desenvolvimento humano resulta da aprendizagem, com base na experiência ou adaptação ao ambiente. Assim, a vida é um contínuo processo de aprendizagem em que  novos eventos e novas experiências desenvolvem novos padrões de comportamento.

Desenvolvimento é o processo através do qual o indivíduo constrói ativamente, nas relações que estabelece com o ambiente físico e social, suas características. Ao contrário de outras espécies, as características humanas não são biologicamente herdadas, mas historicamente formadas.

De geração em geração, o grau de desenvolvimento alcançado por uma sociedade vai sendo acumulado e transmitido, indo influir, já desde o nascimento, na percepção que o indivíduo vai construindo sobre a realidade, inclusive no que se refere às explicações dos eventos e fenômenos do mundo natural.

1.1 A concepção inatista. As qualidades e capacidades básicas de cada ser humano – valores, hábitos, crenças, sua forma de pensar, reações emocionais e até sua conduta social – já se encontrariam basicamente prontas, em sua forma final, por ocasião do nascimento. Aqui o ambiente e a educação influem muito pouco.

1.2 A concepção empirista. O empirismo enfatiza a experiência sensorial como toda fonte de conhecimento. Aqui o homem nasce como uma folha de papel em branco e será apenas aquilo que lhe for impresso pelo meio social onde vive, sem nenhuma liberdade para escolher.

1.3 A concepção construtivista (Piaget). Segundo Piaget, o desenvolvimento acontece de forma dinâmica, a partir da constante interação entre o sujeito epistêmico e o meio onde ele vive. Na sua perspectiva, não é possível conceber a ideia de desenvolvimento separando sujeito e objeto. Ainda de acordo com Piaget, o desenvolvimento obedece a etapas sequenciais e regulares que ele chama de estádios, os quais vão complexificando numa sequência hierárquica, a partir das experiências que são proporcionadas aos sujeitos em desenvolvimento.

Estádio Sensório Motor (0 a 2 anos0
Estádio Pré-operacional (2 a 6 anos)
Estádio Operatório Concreto (7 a 11 anos).
Estádio Operatório Formal (12 a 15 anos

2. Teorias da aprendizagem

Teorias da aprendizagem são os diversos modelos que se propõem explicar como se dá o processo de aprendizagem pelos indivíduos. A partir da compreensão coerente de como o sujeito chega ao conhecimento, é possível confeccionar e aplicar os meios mais adequados à educação.


“No final, o processo educacional será todo permeado pela compreensão de homem do educador” (J. L.).

Muitas teorias já foram formuladas sobre a aprendizagem, porém aqui exporemos apenas as duas de maior destaque na educação contemporânea: As teorias de Piaget e de Vigotsky.

2.1Teoria do desenvolvimento cognitivo (Piaget)

a) Assimilação: Processo cognitivo pelo qual uma pessoa integra um novo dado perceptual, motor ou conceitual às estruturas cognitivas prévias. Quando uma criança tem novas experiências (vendo ou ouvindo coisas novas), ela tenta adaptar esses novos estímulos às estruturas cognitivas que já possui.

b) Acomodação: É a modificação de um esquema ou de uma estrutura em função das particularidades do objeto a ser assimilado. Pode acontecer de duas maneiras: Criar um novo esquema no qual se possa encaixar o novo estímulo ou modificar um já existente de modo que o estímulo possa ser incluído nele.

Um exemplo de acomodação e assimilação é quando uma criança que, do mundo animal, conhece apenas cachorro, vê pela primeira vez um cavalo: pela semelhança entre os dois animais, ela vai achar que se trata de um cachorro grande (assimilação), mas quando avisada tratar-se de outro animal, ou seja, um cavalo, a criança acomodará (acomodação) aquela nova informação a uma nova estrutura cognitiva, criando um novo esquema. Agora ela tem bem claros o conceito de cachorro e o conceito de cavalo.

c)Equilibração: Trata-se de um ponto de equilíbrio entre o processo de assimilação e acomodação, funcionando como um elemento regulador. “Para Piaget, o desenvolvimento cognitivo do indivíduo está sempre passando por equilíbrios e desequilíbrios. Isso se dá com a mínima interferência, seja ela orgânica ou ambiental. Para que passe do desequilíbrio para o equilíbrio são acionados dois mecanismos: O de assimilação e acomodação”.1

2.2 Teoria da mediação (Vigotsky)

2.2.1 Os níveis de desenvolvimento. Para Vigotsky, existem dois níveis de desenvolvimento: Desenvolvimento real e desenvolvimento potencial. O nível de desenvolvimento real consiste no conhecimento que o indivíduo já possui, que foi consolidado por ele e o torna capaz de, de maneira autônoma, resolver situações. O nível de desenvolvimento potencial, como indica o próprio nome, diz respeito a habilidade que o indivíduo possui apenas em potencial, não foram desenvolvidas, mas estão nele. É o desenvolvimento que poderá “vir a ser” construído pelo sujeito.

2.2.2 Zona de desenvolvimento potencial ou proximal. Diz respeito ao campo intermediário do processo entre as zonas de desenvolvimento real e potencial.

Tomando-se como premissa o desenvolvimento real como aquilo que o sujeito consolidou de forma autônoma, o potencial pode ser inferido com base no que o indivíduo consegue resolver com ajuda. Assim, a zona proximal fornece os indícios do potencial, permitindo que os processos educativos atuem de forma sistemática e individualizada.2