quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Josué, Um Exemplo de Perseverança (parte 2)

A IMPORTÂNCIA DO TEMOR AO SENHOR

Temer ao Senhor significa guardar os seus mandamentos e aceitar a sua orientação em todas as esferas da vida (ver Ec 12.13; 1 Sm 12.14); significa reconhecer a sua soberania e onipotência sobre tudo o que existe (ver Lv 25.17). Quando recusamos temer ao Senhor e aceitar a sua direção, o que acontece? Primeiro, sofremos as conseqüências naturais de nossas escolhas (ver Pv 1.31). Segundo: saímos de baixo da proteção de Deus. Neste caso, Ele pode muito bem não fazer coisa alguma para intervir em nossa ajuda (ver Pv 1.28).

Josué já tinha vivenciado muitas vezes as consequências da falta de temor a Deus. Muitas vezes o povo de Israel, sob o comando de Moisés e do próprio Josué, tiveram derrotas vergonhosas porque deixaram o temor do Senhor. Acredito que ainda soava nos ouvidos de Josué as palavras de Deus, dirigidas aos israelitas quando eles estavam a um passo de se apossarem da terra prometida: "Agora, pois, ó Israel, que é que o SENHOR requer de ti? Não é que temas o SENHOR, teu Deus, e andes em todos os seus caminhos, e o ames, e sirvas ao SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração e de toda a tua alma? Ao SENHOR, teu Deus, temerás; a ele servirás, a ele te chegarás e, pelo seu nome, jurarás. Ele é o teu louvor e o teu Deus, que te fez estas grandes e temíveis coisas que os teus olhos têm visto" (Dt 10:12, 20-21). Aliás, foi este o segredo de Moisés, pelo qual se tornou um dos maiores homens da humanidade. Foi também o segredo de Josué durante toda a sua vida. A nova geração não teria que inovar nada, apenas devia continuar usando a velha receita: o temor do Senhor. A Bíblia mostra que o temor a Deus é porta aberta para as suas inestimáveis bênçãos, enquanto que a falta de temor é uma porta aberta para derrotas vergonhosas (Js 7.1, 5-7, 12). Quem teme ao Senhor é bem-sucedido (1 Sm 12.14), tem orientação segura (Sl 25.12), habitará na sombra da bondade e misericórdia divinas (Sl 103.13; Pv 1.7; Lc 1.50), é agradável a Deus (At 10.35).

EXORTAÇÕES À PERSEVERANÇA

E guarda a observância do Senhor, teu Deus, para andares nos seus caminhos e para guardares os seus estatutos, e os seus mandamentos, e os seus juízos, e os seus testemunhos, como está escrito na lei de Moisés, para que prosperes em tudo quanto fizeres, para onde quer que te voltares.*

Guardar tudo quanto está escrito. O que Josué estava anunciando não era nada de novo. Israel havia vencido, milagrosamente, grandes batalhas, subordinado sempre à vontade de Deus, ou seja, guardando diligentemente os mandamentos que o Senhor ordenou para que observassem. Se quisessem continuar triunfando diante de seus inimigos ou de qualquer adversidade, a condição era a mesma: “Esforçai-vos, pois, para guardardes e para fazerdes tudo quanto está escrito no livro da Lei de Moisés” (Js 23.6). Neste caso, é muito pertinente o comentário do pastor Elienai Cabral.

As Escrituras representavam a vida e a morte para Israel, por isso, os escritos de Moisés eram considerados sagrados e deviam ser preservados. Guardar a Palavra de Deus significa tê-la no coração como regra de fé e conduta (Sl 119.11). Não somente guardar a palavra escrita no coração, isto é, na mente, mas fazer aquilo que a Escritura ordena que se faça. Não basta ter fé em Deus e na sua Palavra. É preciso cumprir o que está escrito. Fé e obras são inseparáveis (Tg 2.14-26). O Cristianismo genuíno não é um amontoado de regras prescritas que não sirvam para conduzir as pessoas à felicidade que, por sua vez, só é verdadeiramente alcançada quando agradamos a Deus (CABRAL, 2009).

No capítulo 28 de Deuteronômio, vemos, de forma clara, a relação direta entre a obediência à lei e o recebimento de todas as bênçãos divinas, relação que serve para os crentes de todos os tempos. Note que o texto abaixo (1-14) começa e termina com a oração condicional “se ouvirdes a voz do Senhor teu Deus”.

E SERÁ que, se ouvires a voz do SENHOR teu Deus, tendo cuidado de guardar todos os seus mandamentos que eu hoje te ordeno, o SENHOR teu Deus te exaltará sobre todas as nações da terra. Deuteronômio 28:E todas estas bênçãos virão sobre ti e te alcançarão, quando ouvires a voz do SENHOR teu Deus; Deuteronômio 28:Bendito serás na cidade, e bendito serás no campo. Deuteronômio 28:Bendito o fruto do teu ventre, e o fruto da tua terra, e o fruto dos teus animais; e as crias das tuas vacas e das tuas ovelhas. Deuteronômio 28:Bendito o teu cesto e a tua amassadeira. Deuteronômio 28:Bendito serás ao entrares, e bendito serás ao saíres. Deuteronômio 28:O SENHOR entregará, feridos diante de ti, os teus inimigos, que se levantarem contra ti; por um caminho sairão contra ti, mas por sete caminhos fugirão da tua presença. Deuteronômio 28:O SENHOR mandará que a bênção esteja contigo nos teus celeiros, e em tudo o que puseres a tua mão; e te abençoará na terra que te der o SENHOR teu Deus. Deuteronômio 28:O SENHOR te confirmará para si como povo santo, como te tem jurado, quando guardares os mandamentos do SENHOR teu Deus, e andares nos seus caminhos. Deuteronômio 28:E todos os povos da terra verão que é invocado sobre ti o nome do SENHOR, e terão temor de ti. Deuteronômio 28:E o SENHOR te dará abundância de bens no fruto do teu ventre, e no fruto dos teus animais, e no fruto do teu solo, sobre a terra que o SENHOR jurou a teus pais te dar. Deuteronômio 28:O SENHOR te abrirá o seu bom tesouro, o céu, para dar chuva à tua terra no seu tempo, e para abençoar toda a obra das tuas mãos; e emprestarás a muitas nações, porém tu não tomarás emprestado.

Deuteronômio 28:E o SENHOR te porá por cabeça, e não por cauda; e só estarás em cima, e não debaixo, se obedeceres aos mandamentos do SENHOR teu Deus, que hoje te ordeno, para os guardar e cumprir. Deuteronômio 28:E não te desviarás de todas as palavras que hoje te ordeno, nem para a direita nem para a esquerda, andando após outros deuses, para os servires.

No capítulo 7 de Mateus, Jesus faz uma ilustração magistral, comparando aqueles que guardam os mandamentos do Senhor ao homem sensato que edificou sua casa sobre a rocha, de sorte que nem a chuva, nem os rios, nem a impetuosidade do vento conseguiram abater aquela casa. O Mestre apenas confirma tudo o que já fora dito: que a obediência à Palavra de Deus é, em todos os tempos, a porta aberta para doa a sorte de bênçãos.

2. Guardar-se da idolatria e de qualquer mistura com povos pagãos. “Não vos mistureis com estas nações que ainda restam no vosso meio; não fareis menção dos nomes de seus deuses, não os invocareis nos vossos juramentos, não os servireis, nem a eles vos inclinareis” (Js 23.7). Israel fora escolhido para ser nação peculiar de Deus (Dt 7.6), com a incumbência de anunciar a santidade e o poder de Iavé entre as nações (Dt 28.10). Para isso teria que ser diferente de todas (Dt 7.3). Enquanto todas as nações da época viviam na prática do monoteísmo, em um aberrante sincretismo religioso, Israel fora chamado para servir apenas ao único e verdadeiro Deus (Dt 5.7,8; 6.4). Uma aproximação entre os filhos de Abraão e os cananeus seria desastrosa para Israel, posto que serviria de laço para a idolatria. Por isso a preocupação do senhor, desde a saída do Egito, para que a nação santa não se misturasse nem fizesse concerto com povos pagãos (Dt 7.1-5). Como, infelizmente, algumas nações de Canaã não foram exterminadas pelos israelitas e teriam, por conseguinte, que dividir com eles aquela terra, o risco de que Israel se misturasse era muito grande. Josué indica, pois, dois passos que deveriam ser evitados pelos filhos de Israel, sob pena de afastar a bondade e proteção de Deus, conforme comentário abaixo.

No versículo 7 ele indica especificamente dois passos para longe de Deus, que devem ser evitados. Eram eles: (1) misturar-se com povos rebeldes e (2) dar atenção aos seus deuses (cf Ê 23.13; Dt 10.20). Tiago expressa esse perigo na forma de uma pergunta: “Não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? (Tg 4.4). Os israelitas tinham a responsabilidade de fazer com que outros povos conhecessem o Deus vivo e essa missão não poderia ser levada a cabo com comprometimentos estranhos (Comentário Bíblico Beacon, volume 2, CPAD, p. 75. In Revista Ensinador Cristão, nº 37, CPAD, p. 42).

Paulo adverte a igreja de Corinto a que não se prendesse a um jugo desigual (2 Co 6.14-17), e o apóstolo João, na sua primeira epístola universal, adverte-nos: “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos” (5.21).

3. Os resultados deletérios da desobediência. “Quando traspassardes o concerto do Senhor, vosso Deus, que vos tem ordenado, e fordes, e servirdes a outros deuses, e a eles vos inclinardes, então a ira do Senhor sobre vós se acenderá, e logo perecereis de sobre a boa terra que vos deu” (Js 23.16). Ora, se a condição para a vitória era a obediência ao mandamento do Senhor, o oposto também era verdadeiro: a desobediência redundaria em fracassos e grandes desgraças. Josué ainda trazia na memória o resultado desastroso da desobediência de Acã (Js 7), ou, antes, da desobediência de Arão no deserto (Ex 32). No mesmo capítulo 28 de Deuteronômio (vv 15-68), estão listadas as maldições proferidas contra a nação de Israel, caso ela fosse desobediente aos mandamentos do Senhor. Note que o texto bíblico começa mais uma vez com a oração condicional “se não deres ouvido a voz do Senhor teu Deus”.

Será, porém, que, se não deres ouvidos à voz do SENHOR teu Deus, para não cuidares em cumprir todos os seus mandamentos e os seus estatutos, que hoje te ordeno, então virão sobre ti todas estas maldições, e te alcançarão: Deuteronômio Maldito serás tu na cidade, e maldito serás no campo.Deuteronômio 2 Maldito o teu cesto e a tua amassadeira. Deuteronômio 2 Maldito o fruto do teu ventre, e o fruto da tua terra, e as crias das tuas vacas, e das tuas ovelhas.Deuteronômio 2 Maldito serás ao entrares, e maldito serás ao saíres. Deuteronômio 28 O SENHOR mandará sobre ti a maldição; a confusão e a derrota em tudo em que puseres a mão para fazer; até que sejas destruído, e até que repentinamente pereças, por causa da maldade das tuas obras, pelas quais me deixaste.Deuteronômio 28 O SENHOR fará pegar em ti a pestilência, até que te consuma da terra a que passas a possuir. Deuteronômio 28

De volta ao capítulo 7 de Mateus, vemos Jesus mostrar o outro lado da moeda: a insegurança e os prejuízos daqueles que não obedecem a Palavra de Deus. O Mestre os compara ao homem insensato que edificou sua casa sobre areia. Vindo a chuva, correndo os rios e soprando o vento, aquela casa não resistiu, e grande foi a sua ruína. O Senhor cuidou apenas de ratificar o que já fora dito: a desobediência aos mandamentos do Senhor é, em todos os tempos e lugares, uma porta aberta para todos os tipos de males.

3. Guardar a alma para amar ao Senhor. “Portanto, guardai muito a vossa alma, para amardes ao Senhor, vosso Deus” (Js 23.11). “Amar a Deus” era o primeiro e grande mandamento da lei (Dt 6.6; Mt 22.37-40). A Bíblia Sagrada está repleta da advertência “Amai ao Senhor”. Josué acrescenta que este amor deve ser com a alma guardada. Uma expressão equivalente seria “amar a Deus de toda a alma” (Dt 6.5). O comentário do pastor Elienai Cabral, exposto abaixo está riquíssimo.

A alma é a sede das emoções, dos sentimentos. Podemos dizer que é o centro da personalidade humana. Ela representa a nossa vida pessoal, moral e espiritual. Guardar a alma significa protegê-la de toda forma de corrupção que pode torná-la doente. Como podemos guardar a alma de modo que permaneça sempre saudável? Não há outra maneira senão através da leitura diária da Palavra de Deus, da oração e sendo cheio do Espírito Santo (Sl 119.97; Ef 6.18; 1 Pe 1.22). (Lições bíblica CPAD, 1º trimestre 2009, p.88).

Josué relacionou a alma ao ato de amar, porque, como nós sabemos hoje, ele já sabia que a ação de amar brota diretamente do âmago da alma de cada pessoa. Todo crente que ama a Deus de verdade guarda a sua alma dos corruptores morais que podem torná-la enferma. Ainda o pastor Elienai Cabral:

O apóstolo Pedro escreveu que as concupiscências da carne combatem contra a alma. Essas concupiscências são aqueles desejos incontinentes que procuram destruir a nossa alma (1 Pe 2.11). Amar a Deus com toda a força da alma (Mt 22.37) é colocá-lo acima de tudo em nossa vida (CABRAL, Elienai. Josué, um líder que fez a diferença. Rio de Janeiro: CPAD, 2008, p. 130)


JOSUÉ, UM INSTRUMENTO NAS MÃOS DE DEUS

Por favor, não me idealize nem me sentimentalize. Se realizei alguma coisa digna de admiração, foi por causa da grandeza de Deus. Ele tomou uma pessoa comum e fez coisas extraordinárias.*


A frase acima poderia ser dita por Josué em seu discurso de despedida. Ele foi realmente usado de forma poderosa por Iavé. Aliás, Deus sempre usou homens como instrumentos de suas mãos para executar seus desígnios. A Bíblia está repleta de casos de pessoas que foram chamadas, afinadas e usadas poderosamente. Ele chamou José da terra de Canaã e o afinou, a fim de usá-lo na preservação dos filhos de Israel em um período de grande fome (Gn 37; 39-47); chamou Moisés do palácio de Faraó, e o afinou no deserto durante quarenta anos, e o usou como instrumento para libertar os filhos de Israel da escravidão egípcia (Ex 2-12). Morto Moisés, o Senhor levantou Josué, o qual se tornaria um dos maiores líderes do povo de Deus de todos os tempos. Além de ser um excelente estrategista de guerra, Josué incentivou o povo, durante toda a vida, a amar e a servir ao Senhor. Nos seus dias, Israel enfrentou batalhas não só de ordem corporal com seus inimigos, mas também de ordem cultural e religiosa. O povo santo estava vivendo cercado por povos pagãos e idólatras, de costumes totalmente diferentes, porém mesmo assim, nos dias de Josué, o povo permaneceu servindo ao Senhor. Podemos dizer que Josué foi uma pessoa comum que foi usada para fazer coisas extraordinárias, como no comentário do escritor Lloyd Ogilvie:

Uma pessoa comum que faz coisas extraordinárias!. Pode-se dizer o mesmo de todos os heróis da fé. É tão confortante como desafiador descobri as pessoas comuns atrás das realizações extraordinárias. Somos confortados ao descobrirmos que essas pessoas enfrentaram as mesmas lutas e imperfeições que todos nós enfrentamos. Mas, também somos desafiados a perceber que a causa de sua grandeza é o que Deus realizou nelas e através delas. Não poderia Deus fazer o mesmo conosco se estivéssemos dispostos?

CONCLUSÃO

Lembro-me de um querido irmão que, quando interrogado por alguém sobre qual teria sido o grande feito de sua vida, ele respondeu com gratidão: o meu grande feito foi ter aprendido a confiar em Deus. E foi o que Josué, o líder, agora encanecido, logrou com todos os anos de batalha à frente do povo de Israel. Tanto é que o seu discurso final, orientado a incentivar à nova geração de israelitas, atesta o fato de que Ele amou a Deus, guardou os seus mandamentos e venceu. Necessariamente nesta ordem.

Josué, Um Exemplo de Perseverança (parte 1)

Passados muitos dias, tendo o Senhor dado repouso a Israel de todos os seus inimigos em redor, e sendo Josué já velho, de idade muito avançada, chamou Josué a todo o Israel, aos seus anciãos, aos seus cabeças, aos seus juízes e aos seus oficiais, e disse-lhes: Eu já sou velho, de idade muito avançada; e vós tendes visto tudo quanto o Senhor vosso Deus fez a todas estas nações por causa e vós, porque é o Senhor vosso Deus que tem pelejado por vós.  Esforçai-vos, pois, para guardar e cumprir tudo quanto está escrito no livro da lei de Moisés, para que dela não vos desvieis nem para a direita nem para a esquerda (Js 23.1-3,6).  


INTRODUÇÃO

Ultimamente tenho meditado no livro bíblico de Josué. Fortes emoções me assaltam na mediada em que me debruço sobre cada página da história de um dos maiores líderes de Israel, responsável por conduzir a nação hebréia à conquista da terra prometida. Emocionou-me ver como Deus o escolheu para suceder a Moisés, dada a sua fidelidade, obediência e caráter ilibado. Tenho vivenciado sua coragem e determinação como se fossem minha própria coragem e determinação, vivido sua fé como se fosse a minha própria fé, e me empolgado com suas estratégias e vitórias espetaculares como se fosse um coadjuvante seu nas batalhas. E até me indignei ao ler sobre os seus erros como se tivesse sido também afetado pelas consequências deles. Mas agora chego ao capítulo 23, que considero a parte mais importante da biografia desse grande homem, inspiradora de emoções ainda maiores. Melhor parte porque mais importante que começar bem é terminar bem. E o grande líder de Israel terminou bem. Tão bem que, agora, avançado em idade, num discurso de despedida, vai dar a receita que usou para superar os desafios de sua missão. É uma prescrição que serve para os crentes de todos os tempos. Convido o leitor para que nos deleitemos com essa tremenda lição extraída das Páginas Sagradas.


A. RECOMENDAÇÕES FINAIS DE UM HOMEM DE DEUS

Afinal, de que homens idosos lembram? Quando homens idosos sentam na sua varanda e refletem sobre sua vida que passou rapidamente, quais são os marcos que se destacam na memória dos anos passados? Quais são os eventos que realçam a neblina do tempo confuso? *
1. O povo é convocado para uma reflexão. Muitos anos haviam-se passado desde que o Senhor deu vitória a Israel e o fez repousar na terra dos seus inimigos. Josué contava aproximadamente 1110 anos de idade. As forças já se esgotaram no transcorrer dos anos. Ele percebe que está próximo da morte. O que poderia fazer pelo povo agora, ele que tanto já fizera por Israel? O grande líder está cônscio de sua responsabilidade com a nova geração de israelitas. Muitos daqueles filhos de Abraão não tinham vivenciado os grandes momentos da história de Israel no pós-Jordão, dos feitos extraordinários do Senhor em prol de seus pais. Porém Josué tinha lembranças que ultrapassava o Jordão e ia até ao Egito. Os tempos de escravidão, a libertação operada por Deus através de Moisés, a travessia do mar vermelho e a trajetória no deserto por quarenta anos permeada por extraordinárias intervenções do Senhor. Acredito que o momento que mais o marcou foi a despedida de Moisés, seu líder. Como podia esquecer o momento em que o grande legislador do Êxodo lhe transfere a responsabilidade de guiar o povo. E Moisés o fez convocando os israelitas para dar-lhes orientações finais, palavras de instruções e advertência (Dt 32). Josué, pois, não podia fazer diferente. Convoca o povo para ministrar-lhe uma mensagem final de advertência e encorajamento. Mas como elaborar um sermão para um momento tão célebre? Entendeu que precisava de um sermão que mirasse as próximas gerações. Foi então que ele esboçou assim o seu sermão:

1.1 O que o Senhor fez. 
“E vós já tendes visto tudo quanto o Senhor, vosso Deus, fez a todas estas nações por causa de vós, porque o Senhor, vosso Deus, é o que peleja por vós” (Js 23).
Josué desafia a nova geração a lembrar a bondade de Deus, sua misericórdia e cuidado para com Israel. Moisés fizera o mesmo antes de sua morte. Note como Josué atribui a causa de todas as vitórias de Israel ao Senhor, nada aos seus dotes e estratégias.

Aprendemos aqui lições preciosas. Primeiro, vemos que um povo que se preza não deve nunca desprezar o seu passado, porque isso equivaleria esquecer seus princípios e tradições, desprezar seus heróis e ser ingrato com seus predecessores. Além de que, um olhar para o passado nos trás lições preciosas de como devemos proceder no presente . Como lembra Alexandre Coelho:  "É importante observar que não se pode desprezar o passado, pois ele dá informações preciosas de como devemos ou não proceder em relação às questões da vida". O mesmo escritor observa que na afirmação "o Senhor pelejou por vós” (Js 23.3)*, residia a evidência da história, alertando que Deus os levara até ali e, portanto, os israelitas não poderiam dominar a terra sem a ajuda de Deus.

1.2 O que o Senhor fará.

“Vede aqui que vos fiz cair em sorte às vossas tribos estas nações que ficam desde o Jordão, com todas as nações que tenho destruído até ao mar grande para o pôr do sol. E o Senhor, vosso Deus, as impelirá de diante de vós; e as expelirá de diante de vós; e vós possuireis a terra, como o Senhor, vosso Deus, vos tem dito” (Js 23.4,5).

1.3 O que o Senhor exige. Aqui, Josué desafia o povo a uma obediência constante.
“Esforçai-vos, pois, muito para guardardes e para fazerdes tudo quanto está escrito na lei de Moisés, para que dela não vos aparteis, nem para a direita nem para a esquerda” (Js 23.6).
Anos atrás, Josué tinha ouvido, do próprio Deus, um desafio do mesmo teor (ver Js 1.7,8). Caso eles servissem com diligência ao Senhor, tendo o cuidado de guardar toda a sua lei, eles continuariam sendo vitoriosos contra as nações que ainda restavam em Canaã: “Um só homem dentre vós perseguirá a mil, pois é o mesmo Senhor, vosso Deus, que pelejará por vós, como já vos tenho dito” (Js 23.10).


CONCLUSÃO

Lembro-me de um querido irmão que, quando interrogado por alguém sobre qual teria sido o grande feito de sua vida, ele respondeu com gratidão: o meu grande feito foi ter aprendido a confiar em Deus. E foi o que Josué, o líder, agora encanecido, logrou com todos os anos de batalha à frente do povo de Israel. Tanto é que o seu discurso final, orientado a incentivar à nova geração de israelitas, atesta o fato de que Ele amou a Deus, guardou os seus mandamentos e venceu. Necessariamente nesta ordem.


NOTAS

* Veber, Stu. Um abraço amigo. São Paulo: Quadrangular, 1995, p. 16.
 **COELHO, Alexandre. Subsídios para Livro de Josué. Ensinador Cristão. Rio de janeiro: CPAD, ano 16,  n. 37, p. 42.
 *** OGILVIE, Lloyd John. O senhor do impossível. São Paulo: Vida, 1984, p. 105.

Veja mais Josué, um exemplo de perseverança II
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                Josué, um líder engrandecido por Deus