sábado, 21 de abril de 2012



“Existe uma divisão básica no estilo dos homens: aqueles que desejam a paz de espírito e a felicidade têm que acreditar e abraçar a fé, enquanto aqueles que desejam perseguir a verdade devem renunciar à paz de espírito e devotar sua vida à investigação. É tempo de você aprender sobre isso: deve ser seu ponto de partida básico. Você deve escolher entre o conforto e a verdadeira investigação."
           Do livro quando Nietzsche Chorou (Irvin Yalom)




sexta-feira, 20 de abril de 2012

Guia de seitas e religiões

Resenha

Guias de seitas e religiões, uma visão panorâmica é de autoria de Bruce Bickel e Stan Jantz, com participação especial do dr. Craig Hazen, foi publicado originalmente em 1952, com o título em Inglês Bruce & Stand' Guide to Cults, Religious, and Spiritual beliefs, e publicado no Brasil pela CPAD.


RESUMO

Trata-se de um livro de Religiões Comparadas, com a síntese das principais religiões, seitas e crenças espirituais do mundo, todas classificandas conforme similitudes e diferenças em quatro grupos: 1)Religiões Monoteístas; 2)Crenças mescladas; 3)Religiões filosóficas e 4) Crenças ateístas. O capítulo que encerra o livo - Paticando sua religião - consiste em orientações ao leitor. Todo o conteúdo se distribui em 12 capítulos correspondentes aos nomes das religiões apresentadas pelos autores. No final de cada capítulo, é feito um contraste entre as principais doutrinas apresentadas com a Bíblia sagrada e sugerida uma série de obras sobre a religião abordada para o leitor que porventura queira se aprofundar no assunto.

Na primeira parte estão as três grandes religiões monoteístas: Cristianismo, Judaísmo e Islamismo. Sobre o Cristianismo, primeiramente são mostradas algumas de suas similitudes e diferenças em relação às outras religiões, principalmente em relação às outras duas grandes religiões monoteístas. O que as três tem em comu é que são monoteístas e têm um ancestral bem comu, Abraão. Porém o grande difeencial do Cristianismo é o fato de que o seu fundador, Jesus Cristo, é reconhecido como o Filho de Deus, totalmente igual a Deus. Como os autores são cristãos, este capítulo é uma verdadeira apologia ao Cristianismo, começando com o enaltecimento de seu fundador e a defesa de suas doutrinas basilares.

O Judaísmo é a segunda religião monoteísta tratada aqui. A origem desta religião remonta ao patriarca Abraão, cuja história está registrada no primeiro livro da Bíblia. Abraão deixou sua terra idólatra e politeísta, na Mesopotâmia, para servir a um único Deus numa terra a ele prometida por esta Dividade, na Palestina, onde seria ricamente abençoado e pai de multidões. Dos seus descendentes faria parte o Messias, promessa também feita a Abraão no Gênesis e cujo cumprimento os judeus ainda estão esperando. Partindo da origem desta religião, temos uma visão panorâmica de toda a sua história, passando pela instituição das leis e tradições que a fundamentam, principalmente Os Dez Mandamentos que, segundo a Bíblia, foram ditados pelo Próprio Deus a Moisés, o grande legislador de Israel. Estas leis e tradições estão compiladas na principal literatura do judaísmo, a Torá. Como as demais grandes religiões, o Judaísmo também sofreu algumas divisões e, por isso, apresenta na atualidade várias facções, sendo as principais: os judeus ortodoxos, os judeus reformistas e os judeus conservadores, cada uma com suas peculiaridades, todas bem discriminadas pelos autores. No fechamento deste capítulo, há uma síntese das principais crenças do Judaísmo sobre Deus, a humanidade, pecado, moral, adoração e salvação.

O Islamismo aparece por último neste grupo monoteísta.. A forma de abordagem neste capítulo é similar aos dois anteriores. A história desta religião é remontada à Arábia Saudita do século 7, onde nascera seu fundador, Maomé. Nascido em um família aristocrata, ficou órfão logo cedo e, após ter perdido também o avô, foi morar com um tio, por meio de quem Maomé poderia ter desenvolvido alguma sensibilidade espiritual. Os habitantes da região onde Maomé cresceu adoravam vários deuses, apesar da presença considerável das religiões judaica e cristã naquela localidade. Segundo a tradição, Maomé teria-se casado com uma comerciante e foi morar em Meca, onde se desiludiu com as práticas politeístas e idólatras. Um dia, Maomé estava assentado numa caverna quando o anjo Gabriel teria aparecido para ele e lhe entregado uma visão de Alá (Deus para os islâmicos). Dois anos após receber as revelações, Maomé recitou-as aos seu discípulos que as escreveram e compilaram num livro chamado Alcorão, a principal literatura do Islamismo. A persistente disseminação das revelações de Maomé faria do Islamismo a segunda maior religião do mundo na atualidade.

Na parte dois, são apresentadas as crenças mescladas. Os autores as denominam assim porque são segmentos religiosos que pegam alguns princípios do Cristianismo e, a seguir, mesclam com algumas crenças próprias, distintas e divergentes da doutrina cristã tradicional. Depois de uma introdução em que diferenciam seita de facção e mostram dez características que identificam uma seita, Bickel e Jantz apontam três segmentos religiosos se encaixariam nas características de uma seita: Mormonismo, Testemunhas de Jeová e Ciências da Mente.

Para falar sobre os mórmons, a metodologia da abordagem segue como na primeira parte, quando se discorreu sobre as religiões monoteístas. Primeiro temos uma breve história da igreja dos mórmons, cuja fundação se deu em 1830 por Joseph Smith que teria recebido uma revelação de Deus Pai e de Deus Filho afirmando que todas as outras igrejas eram adulteração. Segundo Smith, o anjo Moroni apareceu a ele e lhe revelou a localização de duas placas de ouro que continham o registro do verdadeiro evangelho, e em cujas revelações se fundamenta todo o sistema de crença dos mórmons. Por isso, para Smith, o Livro dos Mórmons é a correta revelação de Deus para o mundo por se tratar do livro mais correto e completo da terra. As suas crenças básicas incluem algumas ideias bizarras sobre Deus – Deus não é eterno e nem Todo-poderoso –; sobre Jesus – este seria o fruto da relação sexual de Deus Pai com a Mãe Deus, o primeiro de muitos filhos, irmão de Lúcifer, também casou-se e teve muitos filhos. O capítulo referido é fechado com uma confrontação entre os principais pontos doutrinários da Igreja dos Mórmons e a Bíblia Sagrada.

Na sequência, o assunto é a Sociedade Torre de Vigia, ou mais precisamente As Testemunhas de Jeová. São apresentados a história, o perfil, a forma de governo, as principais literaturas e crenças deste grupo religioso. Com cerca de seis milhões de testemunhas em duzentos e trinta países do mundo, esta ceita foi fundada por Charles Russell em Pittsburg, em 1872, depois que ele se tornou cético em relação a algumas doutrinas apregoadas pela igreja de então. Hoje são uma organização bem estruturada, sob o auspício da Sociedade torre de Vigia e Tratados. A literatura de controle das testemunhas de Jeová são a Bíblia na Tradução do Novo Mundo e as revistas doutrinárias Despertai e A Sentinela. Embora este grupo se identifique como cristão, rejeita muitas das fundamentais doutrinas do Cristianismo, como a Trindade, a divindade de Cristo e a salvação por meio da morte de Jesus Cristo na cruz.

A última seita aqui classificada são as chamadas Ciências da Mente, que se apresenta em três segmentos: Ciência Cristã, Escola da Unidade do Cristianismo e a Igreja Unida da Ciência Religiosa. Segundo os autores, trata-se de uma escola que resultou do casamento entre o iluminismo europeu e o deísmo norte-americano. Utilizando-se da filosofia, da ciência e da religião de uma forma totalmente diferente, esta escola enfatizava o processo da cura mental cujo precursor foi Phineas Quimby (1802-1866), o fundador do movimento Novo Pensamento. Quimby era estudante de hipnose e acreditava que as doenças se originavam na mente, eram consequência de crenças falsas, podendo ser curadas por meio da mera sugestão. Como se percebe facilmente, não é uma religião como as que já vimos até aqui, trata-se de um princípio impessoal da mente, uma visão panteísta, segundo a qual Deus é apenas uma força de vida universal ou uma ideia infinita. Logo, a vida de Deus e a vida dos seres humanos são a mesma coisa e, portanto, o homem é Deus. Apesar de terem fundadores diferentes, as três ramificações supramencionadas podem traçar suas raízes às crenças do Novo Pensamento de Quimby e compartilham três crenças básicas: 1) Deus é um princípio impessoal; 2) A mente divina é tudo o que é real; 3) O mundo material não existe, pois é apenas uma parte da mente divina. Isso é o básico sobre estas seitas. Os autores resumem a história particular de cada uma delas, mostrando perfis, crenças, dados estatísticos e o seu ponto de vista sobre as principais doutrinas do Cristianismo.

Na terceira parte, são apresentadas as religiões filosóficas. Os autores as denominam assim porque, diferentemente daquelas estudadas até aqui, há menor ênfase na doutrina formal de Deus, o foco volta-se para os aspectos internos humanos. As doutrinas rígidas sobre Deus dão lugar a abordagens do pensamento e do foco interno pelo qual uma pessoa pode transcender a existência material.

A primeira dessas religiões é o Induísmo, a terceira maior religião do mundo, a qual não tem um fundador específico nem um evento histórico que marque o seu início. Esta religião não apresenta um credo ou doutrina única, compõe-se de um entremeado de crenças oriundas da cultura indu. A ideia central é que seus adeptos libertem-se do mundo material para unir-se com a realidade final, ou com o todo universal. Os indus são panteístas, politeístas e acreditam na reencarnação e na essência da unidade espiritual da humanidade. As suas escrituras mais importantes são Os Vedas , compostos por um período que se estendeu por mais de mil anos. Adoram especialmente três deuses: Brama, Vishnu e Shiva, a cujo trabalho estão os sacerdotes brâmanes, que galgaram o topo da ordem religiosa e social e estabeleceram o sistema de castas. O pensamento central do Induísmo é que a plenitude de vida consiste em a alma individual se unir com a alma universal, o que só se pode conseguir através da reencarnação e do carma. Hoje, o Hinduísmo soma cerca 13% da população mundial, num total de 790 milhões em todo o mundo, e se expressa por meio de práticas bem conhecidas entre nós, como ioga, meditação e misticismo.

A segunda religião deste grupo é o Budismo que iniciou-se no século VI, quando o príncipe Sidarta Gautama abandonou seu estilo de vida palacial, de estilo extravagante e totalmente isolado do mundo, e foi confrontado com a dura realidade da vida. Sidarta, então, iniciou uma vida de austeridade em busca de uma iluminação espiritual que lhe trouxesse verdadeira satisfação, busca que consumiu seis anos de sua vida. Finalmente ele vivenciou um grande despertar que lhe trouxe a compreensão de que o verdadeiro conhecimento estava no caminho do meio, entre os extremos da autonegação e da autoindulgência, verdade que o tornou o iluminado,ou Buda, como passaria a ser chamado a partir de então.

O Budismo tem muita similaridade com o Hinduísmo. Além de ter-se desenvolvido na Índia, acredita na reencarnação, sendo que em cada encarnação, o indivíduo alcançaria um nível mais alto de compreensão até que finalmente possa alcançar o nirvana. É dedicada uma prática intensa à meditação, com o objetivo de encontrar a natureza espiritual no interior do indivíduo. Os budistas seguem as quatro verdades nobres que articuladas por Buda, reconhecendo que a vida resume-se em sofrimento ocasionado por nossa própria agência e anseio, porém o sofrimento pode ser sobrepujado, quando a pessoa segue o caminho nobre Óctuplo (processo de oito passos apresentado por Buda), transcende a ganância e alcança o estado de nirvana, que é a realização da verdade e da compreensão final. Essa religião tem mais de 350 milões de adeptos no mundo todo e é a mais prevalecente em países do sudoeste da Ásia, na China, no Japão e na Coreia.

No último capítulo desta seção, são apresentadas três religiões peculiares. Elas são peculiares porque, além de emprestarem muitos princípios umas das outras, diferenciam-se muito de tudo o que já vimos até aqui. Parecem mais filosofia do que religião. Elas não se baseiam na reverência ou prestação de contas a um ser divino ou a uma figura de autoridade por meio de códigos de conduta; ensinam responsabilidade pessoal em um contexto que parece mais social do que religioso. São basicamente um sistema de pensamentos sobre comportamento moral, relacionamentos pessoais, arte, teatro e forma física.

A primeira é o confucionismo, fundada por Confúcio, cuja ênfase recai no comportamento moral e virtuoso. Confúcio teria desenvolvido seu pensamento à guisa de crítica à sociedade de sua época, famosa pela ausência de civilidade e moral bastante flexível. Ele acreditava que, se aquela sociedade não fosse colocada em cheque, iria se deteriorar em selvageria, por isso considerou que a sua missão era manter viva a ideia da conduta digna e graciosa. O foco do Confucionismo é o significada vida e a suprema valorização do relacionamento marido/mulher, pais/filhos, entre os irmãos e amigos, assim como do governo com seus cidadãos.

O Taoismo, segunda religião deste grupo, tem uma íntima relação com o confucionismo. A diferença está em que, enquanto o primeiro foca a moralidade e a civilidade sociais, o segundo preocupa-se com o mundo da natureza. O objetivo de toda pessoa que professa esta fé é tornar-se um com o Tao, traduzido por O “Caminho”. Acredita-se o fundador do Taoismo tenha sido Laozi, contemporâneo de Confúcio. Preocupado com a brutalidade, que crescia à medida em que os governantes locais lutavam para conquistar seus vizinhos e oponentes, montou um boi e fugiu para as montanhas do oeste. No caminho, teria sido confrontado por místicos que lhe pediram para que escrevesse sua sabedoria e ensinamentos. Foi então que ele escreveu o livro Daodejing, principal livro do Taoísmo. Assim que Laozi compôs sua obra, desapareceu e nunca mais foi visto. Seus adeptos reverenciam e adoram o poder e a força energética da natureza, ressaltam a importância do indivíduo e afirmam que todo indivíduo é parte integrante da natureza. Acreditam ainda que, assim como devemos permitir que a natureza siga o seu próprio curso, devemos deixar que os indivíduos sigam sua próprias inclinações, livres de obrigações impostas, pois as pessoas são compassivas por natureza e que naturalmente demonstrariam compaixão aos outros se lhes fosse permitido seguir seu curso natural.
O Xintoísmo, terceira religião deste grupo, começou no Japão em cerca de 500 a. C. como uma mistura de adoração à natureza, de cultos da fertilidade e de técnicas de divinização. É uma religião politeísta e não tem um conceito de Deus Criador, também não dispõe de texto sagrado, sobretudo foca o aqui-e-agora, uma vez que não acreditam em nenhuma  vida após a morte. Os seus deuses estão em toda a natureza, e as práticas de adoração a estas divindades são mais importantes do que a crença real nelas.

A quarta parte do livro em apreço trata das crenças ateístas. São chamadas assim porque, apesar de algumas delas terem nuances de espiritualidade, dispensam totalmente a ideia de Deus. Os autores começam pelo Movimento Nova Era, movimento definido como mistura híbrida das forças espirituais, sociais e políticas, englobando a sociologia, teologia, as ciências físicas, a medicina, a antropologia, a história, o movimento do potencial humano, os esportes e a ficção científica. O termo Nova Era encerra uma visão utópica que descreve uma época de harmonia e progresso humano. Trata-se da Era de Aquário que diz respeito ao primeiro signo do zodíaco. Como já observado, é uma ideologia que permeia todas as camadas sociais, não tem declaração de crenças definida, não há fundador, nem uma igreja central ou matriz e, tampouco, uma estrutura formal. Para os adeptos deste movimento, estamos numa nova época, do descobrir a si mesmo, da consciência espiritual, da iluminação pessoal e da unidade global. Caracteriza-se especialmente pelo sincretismo religioso, monismo, panteísmo, divinização da humanidade, transformação radical das tradições e a crença em uma nova ordem mundial. Eles misturam práticas de várias religiões e crenças antigas como o hinduísmo, budismo, taoísmo, gnosticismo, ocultismo e espiritismo. Atualmente, só no continente americano, existem cerca de doze milhões de participantes deste movimento e há mais de três mil editoras que publicam livros sobre a Nova Era e o ocultismo.

O último capítulo desta seção trata do ateísmo, darwinismo e naturalismo. É intrigante que em um livro sobre as principais religiões e crenças do mundo, haja um capítulo sobre o ateísmo, mas os autores se justificam dizendo que todos os ateístas têm uma religião: a do não-Deus. O título engloba naturalismo e darwinismo porque, segundo os autores, o movimento ateísta cresceu e se solidificou na esteira da Teoria da Evolução de Charles Darwin, a qual jogou o mundo acadêmico e científico a partir de então em um naturalismo radical que dispensa qualquer realidade sobrenatural. Hoje estima-se que 20% da população mundial façam parte desse movimento, com predominio nas áreas acadêmicas, políticas e jornalísticas.

Por fim, no capítulo O que fazemos com o que acreditamos, há uma apologia ao Cristianismo, onde os autores assumem e reforçam a sua identidade cristã e apresenta dicas importantes para aqueles que se interessam por estudar as grandes religiões do mundo e evangelizar os seus adeptos. As principais dicas orientam o leitor a conhecer profundamente a sua própria crença antes de começar a estudar a crença dos outros, em seguida a conhecer o que os outros acreditam, afim de que possa, finalmente, estar pronto para explicar aos outros em que ele acredita.

COMENTÁRIO
Guia de Seitas e Religiões se diferencia positivamente de outros livros desta natureza pela clareza e concisão somadas à abordagem bem-humorada dos autores. Ler sobre os entremeados de crenças e costumes das grandes religiões do mundo pode não ser estimulante para o leitor leigo e se mostrar enfadonho para quem leu várias obras sobre o assunto e percebeu que não há muita diferença de conteúdo entre elas. Acredito que Stan e Jantz, conscientes desta realidade, resolveram fazer diferente, escrevendo uma obra de fácil compreensão a partir de ilustrações interessantes, por exemplo quando comparam o movimento Nova Era a uma cebola com suas várias camadas. Os quadros ilustrativos, espalhados por todo o livro, como A voz do professor, Comentários dos autores, Veja também, Saiba mais, Boa pergunta, ajudam muito o leitor na compreensão do assunto e lhe confere novo ânimo toda vez que se encontra diante de alguns pontos mais difíceis das religiões analisadas.

Talvez o fato de os autores terem mostrado, desde o início, a sua identidade cristã feche as portas para leitores de outras religiões, por isso um pouco de neutralidade seria muito importante em uma obra que se destina a um público tão vasto e diverso, considerando que todas as pessoas se encaixam perfeitamente nas categorias religiosas referidas. A não ser que tivessem inicialmente um objetivo apologético, o que deveria estar claro no prólogo do livro, eles poderiam ter sido mais discretos em relação às suas convicções religiosas, impedindo que ela se limitasse apenas ao público cristão.

Entretanto, estamos falando de um livro riquíssimo, que vai além de uma análise sobre religiões e fala de espiritualidade. Espiritualidade e religião são coisas diferentes. Enquanto que a primeira é o foco em coisas espirituais e no mundo espiritual, ao invés de coisas terrenas e físicas, a segunda é um conjunto de crenças e rituais que objetiva colocar seus seguidores em um relacionamento correto com a divindade, seja lá o que esta divindade signifique.


OS AUTORES
Bruce Bickel é advogado, mora em Fresno, Califórnia, é professor e membro da diretoria de coradores do Westmont College.

Stan Jantz é consultor de marketing, mora em Fresno. Stan está muito envolvido como as atividades em sua igreja e atua junto à diretoria de curadores da Universidade de Biola.


























quinta-feira, 19 de abril de 2012

O Perfil de Três Reis

Resenha

Livro voltado para o ensinamento prático a partir na análise e exploração dos perfis e das experiências de vida de três figuras bem importantes da história da nação Israel: Saul, o primeiro rei da nação referida; Davi, sucessor de Saul no trono; e Absalão, filho de Davi que, por um momento, usurpou o trono de seu pai. O autor divide a obra em duas partes. Na primeira, aborda os dois primeiros personagens, o rei Saul e Davi, o homem que fora ungido por Deus para suceder-lhe no trono, bem como a relação conturbada entre eles. Na segunda, Saul sai de cena e a atenção se volta para o agora rei de Israel, Davi, e o seu subversivo filho Absalão.  

Edwards inicia pela história de Davi, retomando os dias tenros em que o filho de Jessé ainda pastorava o rebanho do pai. Destacam-se a solidão em que vivia enquanto, isolado de todos, cuidava diligentemente daqueles animais, e a maneira como usou aqueles momentos para aprofundar sua comunhão com Deus por meio do louvor incessante que saia de seus lábios. Também é levantada a possibilidade de que foi ali, na solidão, que o futuro rei aprendeu a manejar a funda como ninguém, habilidade que seria muito importante em um momento crucial de sua vida.

De pastor de ovelhas para o ungido rei. Segundo a ideia desenvolvida no livro, a devoção daquele pastor chamou de tal modo a atenção de Deus que foi escolhido por Este para ser pastor do grande rebanho de Israel, unção que ficou a cargo do profeta Samuel. Logo após receber a unção, Davi é comissionado por seu pai para levar comida aos seus irmãos no acampamento do exército de Israel, onde tem o primeiro contato com as tropas do rei Saul e com a realidade da guerra.

A partir de então entra em cena o rei Saul, segundo o autor, o instrumento usado por Deus para preparar o "infante" Davi para a grande missão que lhe esperava. Tudo começa quando Davi é convidado para tocar seu instrumento musical a fim de acalmar a alma de Saul, um rei enlouquecido e doente de ciúmes a ponto de repelir violentamente qualquer rumor de ameaça ao seu trono. E Davi começou, com o passar do tempo, a parecer uma ameaça para Saul, o que resultou em muita perseguição, ameaça e tentativa de morte contra o ex pastor de ovelhas.

Agora, as lições apreendidas pelo autor dos perfis de Saul e Davi são entremeadas com o desenrolar da própria história. E ressalta-se o fato de Saul não reconhecer que era Deus quem deveria decidir o destino do trono de Israel e não a sua lança, a qual arremessou contra Davi algumas vezes. O reconhecimento que faltava em Saul marcará o perfil de Davi por toda sua vida, ou seja, desde cedo, o filho de Jessé reconhecerá que cabia a Deus conduzi-lo ou não ao trono de Israel, o que o poupou de perpetrar qualquer violência vingativa contra Saul. Apesar de ter consciência dos atos insanos do rei, de sofrer várias tentativas de assassinato, Davi não deixava de reconhecer que Saul havia sido ungido por Deus e, portanto, cabia somente ao Senhor o direito de depô-lo. Tanto é que, nas ocasiões em que teve a oportunidade de acabar com a vida de Saul, preferiu poupá-lo. Então, uma das idéias centrais do livro é este reconhecimento de que Deus é quem determina e dirige o destino do seu povo, e nós precisamos aprender com Davi a reconhecer tal realidade.

No capítulo 15, é descrita a personalidade paradoxal de Saul. Paradoxal porque, no registro de sua história de vida, são inescapáveis suas impressionantes prerrogativas, como aquele que foi ungido por Deus, filho de excelente família, libertador de Israel, vencedor de muitas guerras, batizado com o Espírito Santo, porém, apesar de tudo isso, um homem corroído pela inveja, ciumento e irascível. A intenção do autor do livro em apreço parece ser demonstrar, com o exemplo deste monarca, que essas características podem fazer parte de uma mesma pessoa. Ademais, pretende mostrar a diferença entre homens dotados e homens quebrantados, contrastando Saul e Davi. Edwards considera que aqueles que são ungidos por Deus podem ser ou da ordem de Saul – os dotados, revestidos exteriormente – ou da ordem Davi – os quebrantados, revestidos interiormente. O contraste entre os dois monarcas é realçado no capítulo 17 onde o autor descreve um diálogo fictício entre um ex soldado de Davi e um neto deste, ocasião em que o soldado relata a maneira peculiar de governar do segundo rei de Israel que priorizava uma vida de submissão a Deus  e desprovida de qualquer autoritarismo. No diálogo está resumidamente implícita a maneira como Davi chegou ao trono sem fazer uso da violência um só momento.

Na segunda parte do livro, segundo a perspectiva do autor, a história parece se repetir, agora com Davi no lugar de rei e tendo seu trono ameaçado por um usurpador, seu próprio filho Absalão.  É importante notar que, no momento, Davi estava no mesmo lugar do rei Saul quando este o via como ameaça ao seu reino; por outro lado, Absalão estava na mesma posição de Davi quando representava uma ameaça ao trono de Saul. Cabia, portanto, ao rei de Israel escolher entre agir como Saul agira uma vez contra ele a fim de defender seu trono ou deixar a cargo de Deus de quem seria o reino. Era uma questão de ser coerente ou não com os princípios de sua mocidade. O que é mais notável nesta parte do livro são os diálogos altamente instrutivos imaginados pelo autor entre Davi e algumas figuras importantes de seu reinado. Nos colóquios, ora ele era instado a repelir violentamente a rebelião de Absalão, ora era instruído com o exemplo de homens como Moisés a deixar Deus resolver a situação. E o livro termina com a questão sobre a decisão de Davi em aberto. O importante, porém, é atentar para o princípio essencial que o autor quer ensinar nos diálogos que criou: que há homens segundo Davi e homens segundo Saul, porém discernir entre uma classificação e outra é muito difícil, senão impossível, só Deus conhece perfeitamente quem é quem.

Perfil de três reis é uma obra admirável pelo estilo simples do autor e pela clareza com que aborda assunto tão profundo. Sinceramente nunca tinha lido um livro que apresentasse lições tão importantes a partir dos três homens referidos nesta obra. Lições como desprendimento, resignação e confiança absoluta nos desígnio de Deus estão presentes em todo o livro. Outrossim, fiquei maravilhado com o tratado sobre as nuances da natureza humana apreendias pelo autor a partir dos personagens estudados.

Introdução à Filosofia

Resumo

Livro: Introdução a Filosofia, Uma Perspectiva Cristã.
Autoria: Norman L. Geisler e Paul D. Feinbeerg.
Publicado no Brasil pela editora Vida Nova.

 
Obra que objetiva analisar os fundamentos da filosofia numa perspectiva cristã. Os autores discutem as questões filosóficas de há muito debatidas e lançam luz sobre algumas controvérsias que pairam entre filósofos modernos. Poderíamos mesmo dizer que se trata de uma obra de cunho apologético, porque se destaca de outras desta natureza, pelo fato de que os pilares da filosofia são examinados a partir de uma ótica cristã, com refutações ao que contrasta com essa visão,  todavia sem desconsiderar a grande importância da filosofia entre as ciências humanas e o reconhecimento de que o pensamento filosófico pode contribuir de modo relevante à compreensão teológica.

Divisão do livro: Introdução à filosofia/ O que é o conhecimento? / O que é a realidade?/ O que é a realidade ulterior?/ O que é bom ou certo? Nos capítulos que se distribuem por entre essas seções, são discutidas as principais questões de que se ocupa a filosofia e que englobam seis áreas do conhecimento humano: ética, estética, política, metafísica, lógica e epistemologia.

Na primeira seção, são apresentadas as disciplinas, a metodologia, as ferramentas e os desafios da filosofia. Os autores, antes de darem uma definição para o termo filosofia, fazem uma consideração sobre a dificuldade de tal tarefa, dificuldade que se deve ao desacordo entre os filósofos no tocante à questão sobre de que efetivamente a filosofia se ocupa. A partir desta reflexão, são apresentadas duas abordagens da filososfia: a filosofia analítica e a especulativa. Após a explicação da natureza das duas abordagens, vemos as objeções levantadas pelos estudiosos do assunto sobre cada uma delas, elencadas as principais características da pesquisa filosófica e aquilatada a real importância da filosofia como um instrumento que possibilita uma compreensão da sociedade e uma libertação de preconceitos.

O capítulo três trata dos métodos da filosofia, os mecanismos de que se valeram e ainda se valem os filósofos para chegarem à verdade sobre os fenômenos. Primeiramente os métodos do mundo antigo: a maiêutica de Sócrates e o método dedutivo de Aristóteles; em seguida os métodos modernos e contemporâneos: o método indutivo de Bacon e os métodos existencial e fenomenológico de Kierkegaard e Husserl, respectivamente.

Na sequência, o leitor tem diante de si as ferramentas da filosofia (os argumentos). São apresentadas a definição, natureza e importância dos argumentos, chamados de a ferramenta indispensável dos filósofos.
E encerra-se a primeira parte com considerações dos autores sobre os desafios da filosofia ante as grandes questões da existência e sobre o grande desafio que esta ciência representa para os cristãos.

A segunda parte trata da natureza do conhecimento (epistemologia). Inicialmente são abordadas duas questões: O que é o conhecimento? e Podemos conhecer? Essas questões dão ensejo à análise e crítica  do Ceticismo - de David Hume e Immanuel Kant. a questão seguinte é como podemos conhecer? São apresentados cinco veículos capazes de transportar o indivíduo ao saber prático ou mesmo teórico: a fé, o subjetivismo, o racionalismo, o empirismo e o pragmatismo, e feita uma avaliação destes canais para o conhecimento com os prós e contras atinentes a cada um deles.

Outras três questões levantadas nesta parte são: A certeza é possível?/ Como percebemos o mundo externo?/ Como são justificadas as crenças? Em função da primeira pergunta, são apresentados os tipos de certeza (apodítica, psicológica, convencional, pragmática) e os tipos de conhecimentos (os mandamentos morais, o conhecimento acerca do mundo externo, a autoconsciência, o conhecimento lógico e matemático), cada ponto de vista com sua peculiaridade e principais representantes.

A segunda pergunta dessa série - como percebemos o mundo externo? – destina-se a saber se aquilo que percebemos retém sua existência independente do olhar do observador, ou não. Há três posições filosóficas que se propõem a resolver esta questão. O realismo, o dualismo e o idealismo. O primeiro sustenta que os objetos existem independentes de um observador. O segundo defende que existem duas ordens distintas e independentes na existência: as ideias, que são impressões ou atos dos sentidos, e o mundo independente e externo que inferimos como sendo a causa dos dados dos sentidos percebidos por nossas consciências. O idealismo sustenta que os objetos, principalmente os materiais, não podem existir independentes de alguma consciência deles. São apresentados os mais eminentes defensores de cada uma das posições e as objeções a cada uma delas.

A terceira questão - como são justificadas as crenças? – investiga a maneira como justificamos nossas alegações de conhecimento. Aparecem, então, duas estruturas de justificativa epistemológicas: a fundamentação e o coerentismo.  A primeira afirma que há uma estrutura de conhecimento, cujos fundamentos, embora sustentem todo o resto, não precisam de apoio algum, pois são por si só justificadas. O segundo defende que inexistem crenças epistemologicamente anteriores ou básicas, auto-sustentáveis, o que há é uma teia de crenças que se relacionam e que se sustentam apenas dentro desta relação, sendo que as crenças que encontram-se mais no centro da teia são mais dificilmente abandonadas.

A parte três da obra referida traz a questão: o que é realidade? Primeiramente se discute um dos problemas mais persistentes na filosofia, se a realidade é una ou múltipla.  Quatro teorias propõem resposta a esta pergunta: monismo, pluralismo, o modelo de Plotino e o modelo cristão da Trindade. Para a primeira teoria, cujo representante maior foi o filósofo grego antigo Parmênides, toda a realidade é una. A segunda, em contraposição ao monismo, argumenta pela multiplicidade da realidade. Para a terceira, cujo  representante foi o  filósofo grego Plotino, toda a multiplicidade e todo ser fluem de uma unidade ulterior. Por último, o modelo cristão da Trindade, com a ideia de um só Deus em três pessoas, concilia unidade e multiplicidade ao afirmar que, na Deidade, há tanto a pluralidade (de pessoas), como a unidade (de essência).

Outra questão é sobre o relacionamento entre a mente e o corpo. As teorias que tratam desse assunto estão organizadas em duas categorias: as teorias monistas e as teorias dualistas. A primeira categoria engloba o materialismo, o qual propõe que o homem é apenas o seu corpo; o idealismo, que advoga que a mente e suas percepções são a única coisa que existe; a teoria do aspecto duplo, segundo a qual o físico e o mental são simplesmente aspectos diferentes de alguma coisa que, em si mesma, não é nem físico nem mental. A segunda categoria engloba o interacionismo, que defende que a mente e o corpo agem casualmente um sobre o outro, sendo que eventos mentais podem causar eventos corporais e vice-versa; o paralelismo, que sustenta que a mente e o corpo são correlacionados de maneira sistemática, mas que não há interação direta ou indireta entre os dois; o ocasionalismo, que propõe que Deus é o único elo entre a mente e o corpo; o epifenomenalismo, que sustenta que há um relacionamento ou interação causal que vai numa só direção, do corpo para a mente, sendo que os eventos físicos têm efeitos mentais, mas não ao contrário.

Na sequência, levanta-se a questão da liberdade. O desafio é responder à pergunta: O homem é livre? A resposta negativa vem do determinismo, entendimento de que todos os eventos, inclusive o comportamento humano, são governados por leis que os determinam inexoravelmente. Em antagonismo ao determinismo, encontramos o indeterminismo simples e o livre arbítrio. O primeiro advoga a ideia de liberdade total das ações humanas, as quais não dependem de nenhuma causa externa. O segundo tenta vencer as dificuldades tanto do indeterminismo quanto do determinismo, advogando a ideia de que o homem é um ser auto-determinate, ou seja, as nossas ações livres nem são causadas por outras ações nem estão sem causa, são causadas por si mesmas.

No capítulo 14, os autores discutem a questão O homem sobrevive à morte? São colocadas duas posições: 1) os mortalistas defendem que o ser humano é mortal, entre cujos defensores está a figura de David Hume; 2) os imortalistas, cujos argumentos em favor da imortalidade da alma humana se mostram bem diversos, entre os quais está o argumento da doutrina do homem sombra, a qual defende que a pessoa real é um homem sombra ou pessoa mínima, suficientemente humano e corpóreo para que os problemas perenes da identificação e da individuação possam ser vencidos. O homem sombra é suficientemente incorpóreo e imaterial para escapar ileso do corpo terrestre comum quando é enterrado. A riqueza especial deste capítulo é a presença de vários nomes do pensamento cristão, como Tertuliano e Tomás de Aquino.

O capítulo 15 se propõe a responder à pergunta Existem outras mentes? Aqui somos primeiramente apresentados ao Argumento da analogia, cujos adeptos advogam que, a partir de nossa própria mente, observamos que há um correlacionamento entre nossos estados mentais, de um lado, e de nosso estado físico e/ou comportamentais de outro; também há outros corpos como o nosso, e que exibem os mesmos comportamentos. Logo, por analogia, compreende-se que estados mentais como aqueles que experimentamos estão associados com outros corpos, da mesma maneira que o nosso estado mental é associado com o nosso corpo, o que prova que existem outras mentes além da nossa. Em contraposição ao argumento da analogia aparecem o Behaviorismo, que defende que todas as atitudes mentais ou as expressões psicológicas são plenamente redutíveis ao comportamento ou a estados físicos, e os pontos de vista de filósofos como Wittgenstein e Strawson, os quais, cada um ao seu modo, rechaçam o ceticismo acerca da existência de outras mentes.

No último capítulo desta seção, a questão levantada é O que é a verdade?, Há várias teorias para responder essa pergunta: Teoria da Coerência da Verdade, Teoria Pragmática, Teoria do desempenho da Verdade e a Teoria da correspondência da Verdade. Os autores explicam essas teorias, mostram os pensadores que as defendem e expõem os pontos fracos e fortes de cada uma.

A quarta parte deste livro – O Que é a Realidade Ulterior – começa com a questão do relacionamento entre a fé e a razão, ou qual delas é fonte fidedigna do conhecimento. Os autores apresentam quatro concepções sobre este impasse que tem desafiado pensadores de todos os tempos: 1) A Revelação Somente, teoria defendida por Kierkegaard e Karl Barth, os quais, cada um ao seu modo, argumentavam que a mente humana, por si só, é incapaz de descobrir o conhecimento divino; 2) A Razão Somente propõe que a verdade só pode ser descoberta pela razão, cujo grupo de defensores inclui Kant e Spinoza; 3) A Razão sobre a Revelação considera tanto a razão quanto a revelação como fontes fidedignas de conhecimento, sendo, porém, a primeira sobreposta à segunda; 4) A Revelação Acima da Razão considera que a razão e a revelação não são excludentes, mas a revelação se sobrepõe a razão, defendida por Tertuliano e Cornelius Van Til; 5) A Revelação e a Razão, teoria que propõe que há um inter-relacionamento entre a razão e a revelação, defendida por Santo Agostinho e Tomás de Aquino.

Os outros capítulos subsequentes se desenvolvem a partir de quatro perguntas relacionadas a Pessoa de Deus: O que se quer dizer com “Deus”? Deus existe? Como podemos falar acerca de Deus? Podemos ter experiência com Deus? Para a primeira pergunta, os autores mostram várias concepções sobre a Pessoa Divina, como o Teísmo, o Deísmo, o Panteísmo e o Paneteísmo. Em relação à segunda pergunta, temos vários argumentos de pensadores teístas, ateus e agnósticos, em favor da existência ou não-existência de Deus, ou da falta de capacidade humana para saber se Deus existe ou não (agnosticismo). Defensores do ponto de vista teísta, os autores dão uma resposta a partir da perspectiva cristão às outras teorias divergentes.

Na terceira pergunta – como podemos falar acerca de Deus? – pretende-se investigar como, sendo Deus finito, e a nossa linguagem finita, seria possível a comunicação com Ele. Três concepções procuram resolver o impasse: 1) A Conversa Sobre Deus é Equívoca – advoga que um Deus infinito sempre transcende a capacidade de linguagem finita e que, portanto, a conversa acerca de Deus não descreve a maneira que Ele é, apenas descreve aquilo que Ele não é ou o que ele faz; 2) Conversa Unívoca Acerca de Deus – defende que só podemos saber a verdade acerca de Deus se os termos que aplicamos a Ele tiverem o mesmo significado quando atribuímos os mesmos termos às pessoas, caso contrário, o Agnosticismo será o resultado. Na quarta questão, os autores definem o que é uma experiência religiosa, diferenciam uma experiência religiosa de outras experiências, mostram os ataques de alguns filósofos a essas experiências e apresentam meios de se verificar se a experiência religiosa é ou não real.

A última seção – O Que é Bom ou Certo? – se propõe a discutir quatro questões: O que é certo? Como sabemos o que é certo? O certo é universal? Os deveres morais conflitam às vezes? O relacionamento entre regras e resultados. Para a primeira questão, primeiramente são apresentas as concepções não cristãs: o certo é definido em termos de poder; a moralidade é costume; o homem é a medida; a raça tem razão; o certo é a moderação; não existe certo; o certo é o que traz prazer. Em seguida vem a concepção cristã de certo e errado, a qual está ancorada na natureza imutável de um Deus de perfeito amor e justiça(sic), cujo caráter santo Ele revelou de duas maneiras: no seu mundo natural e através das Escrituras. Portanto, para a visão cristã, a revelação de Deus e de sua vontade é o padrão final do que é certo e do que é errado.

Na resposta à segunda questão, primeiramente são examinadas as teorias não cristãs: justificativas pelos resultados, entre cujos defensores encontra-se William James; justificativa pela autoridade divina, resposta simplista de algumas religiões que, diante da pergunta “como posso saber o que é ceto?” , normalmente respondem que “Deus disse assim”.

Na segunda questão aparecem duas abordagens no tocante à Ética: a que se centraliza nas regras (deontológica) e a que se centraliza na finalidade (teleológica). A partir daí, esboçam-se duas teoria: a dos que defendem que o ceto é determinado pelos resultados(utilitarismo), e os que defendem um relacionamento entre o certo e o resultados. Esta última posição rechaça a primeira ao advogar que tanto as regras quantos os resultados desempenham um papel fundamental num esquema ético compreensivo. Os autores desta obra concordam com esta última teoria.

No capítulo 26, ao discutirem a questão sobre se o certo é universal ou não, os autores apresentam duas posições antagônicas: o relativismo, ideia de que os princípios éticos têm uma aplicação local e normalmente mudam com o passar do tempo, ou seja, são relativos a tempo, circunstância e localidade. Em contraposição, apresenta-se o conceito universal do certo, entendimento segundo o qual há princípios que são para todas as pessoas, em todas as épocas. Na conclusão dos autores, “a negação de todo valor absoluto é mal-sucedida e inconsistente”, e, para os cristãos, “as normas éticas universais estão ancoradas no caráter imutável de Deus”.

Por fim, no último capítulo do livro em apreço, os autores discutem a questão dos deveres morais, se eles podem às vezes conflitarem entre si, apresentando três conceitos sobre o assunto: 1) o conceito da terceira via, segundo o qual sempre há uma saída moral de cada dilema ético; 2) o conceito do mal menor, que sustenta que há alguns dilemas morais genuínos em que as duas alternativas estão erradas, então a pessoa é obrigada a cometer o mal menor; 3) o conceito do bem maior, que significa obedecer à lei superior, conforme é revelada por Deus nas Escrituras. Os autores estão de acordo com esta última posição.

Comentário

Introdução à filosofia, uma perspectiva cristã é uma obra que vem suprir uma grande necessidade dos cristãos deste século do conhecimento. As muitas concepções de vida , de homem e de Deus têm se difundido por todas as camadas sociais, principalmente nas escolas, interferindo na forma de se posicionar no mundo de todas as pessoas. Tentar se proteger numa redoma hermética não funciona, porque esta é a realidade que temos e não podemos romper com ela. A saída, portanto, é usar lentes bíblicas para fazer a leitura presseletiva de todas as informações que nos são passadas.

Além disso a obra se destaca em relação a outras que já li do mesmo gênero, primeiro pela forma clara e sintética que Geisler e Feinberg usam para abordar a disciplina complexa da filosofia, segundo pelo fato de fazer uma leitura das grandes questões filosóficas por intermédio de lentes cristãs. Por isso mesmo, acho que deveria ser de leitura obrigatória para todos os estudantes da Bíblia.


Os autores

NORMAN L. GEISLER é professor de Teologia Sistemática no Seminário Teológico de Dallas e presidente da Divisão de Filosofia da Religião na Trinity Evangelical Divinity School. Recebeu o seu MA da Faculdade de Wheaton e seu Ph.D. Da Universidade de Loyola. Ele já tem vários volumes publicados em português, incluindo Ética cristã e Introdução à filosofia: uma perspectiva cristã (Vida Nova) e, em co-autoria, Resposta às seitas (CPAD), Reencarnação (Mundo Cristão) e Amar é sempre certo (Candeia).

PAUL D. FEINBERG é professor de Teologia Bíblica e Sistemática na Trinity Evangelical Divinity School. Recebeu os graus de BD e de ThM só Seminário Teológico Talbot e o MA em Teologia Sistemática no Seminário Teológico de Dallas.

A Arte de Pregar

Resenha

O livro A arte de pregar é de autoria do pastor Robson Moura Marinho e foi publicado em 1999 pela editora Mundo Cristão. Livro voltado para o ramo da homilética, tem como público-alvo pregadores e ensinadores da Palavra de Deus.

Robson Monteiro, através de sua vasta experiência no campo da comunicação e pregação, apresenta técnicas importantes para uma comunicação com eficiência e sugere passos importantes para a elaboração de sermões. É uma verdadeira caminhada com o leitor por entre os meandros da pregação, com o fim de auxiliá-lo na tarefa difícil de elaborar e pregar uma mensagem bíblica, e se destina tanto para pregadores iniciantes como para os mais experientes.

O livro está dividido em três partes, dentro das quais se distribuem 17 capítulos, acrescidos de um apêndice. Na primeira seção, de apenas dois capítulos, o autor faz comentários sobre o que ele chama de o milagre da pregação, que consiste no fato de Deus, um ser perfeito, usar o homem, imperfeito, com o propósito de comunicar a sua mensagem. O leitor é advertido de que as técnicas apresentadas são comprovadas e aprovadas pela experiência, mas que não são suficientes para fazer de alguém um exímio pregador: “é imprescindível a unção do Espírito Santo”, afirma. Essa afirmação está embasada na experiência de homens como Moisés e Isaías que, num primeiro momento se sentiram incapazes de apregoar a mensagem divina, apesar de serem homens altamente letrados. Ao final do primeiro capítulo acha-se um comentário apaixonado sobre o poder miraculoso das palavras e sobre a importância de o comunicador manejá-las bem.

Em um segundo momento, como uma estratégia para realçar o valor do estudo da homilética, o autor, numa linguagem bem humorada, discrimina alguns tipos de sermão, os quais, segundo ele mesmo, servem apenas para atrapalhar o culto, referindo-se a alguns deles como “sermão sedativo”, “sermão insípido”, “sermão óbvio”, “sermão indiscreto”, etc., cada um deles acompanhado de sua devida conceituação e explanação.

A segunda seção é iniciada com uma diferenciação entre oratória sacra e oratória secular. O autor aborda o surgimento de ambas as modalidades, remontando aos antigos filósofos e oradores gregos, passando por Cícero, em Roma, pelos cristãos primitivos, pelos reformadores e avivadores de séculos recentes e chegando até os nossos dias. É apresentada uma classificação geral da oratória (acadêmica, forense, política, sagrada e popular) com seus elementos (eficiência, retórica e eloqüência). O autor contrasta a fase antiga da oratória, em que ser um bom orador significava falar bonito e com frases enfeitadas, com a fase atual, quando o mais importante não é o volume ou o enfeite, mas o conteúdo e a forma.

A partir do capítulo 5, o foco se volta para a própria pessoa do pregador. Primeiramente são apresentadas as qualidades indispensáveis ao bom orador, como entusiasmo, determinação, inspiração, sensibilidade, imaginação e criatividade; qualidades que, todavia, não imuniza o pregador contra o espectro do medo. O autor observa que é natural sentir medo e, se bem canalizado, o medo pode ser um forte aliado e dá dicas importantes sobre como lidar com este sentimento que tem levado muitos comunicadores à frustração. Orientações como “lembre-se de que você não é o único”, “aproveite seu medo” “mantenha pensamentos positivos”, etc. antecedem uma explicação sobre a psicologia do medo, com destaque para a Janela de Johari, que consiste numa janela com quatro vidraças, cada uma com um rótulo identificador, indicando a maneira pela qual as pessoas administram a personalidade perante os outros.

Ainda focado na pessoa do pregador, Robson ressalta a importância da auto-imagem do mesmo, alertando que nos trinta minutos de sermão, tudo o que acontece no púlpito influi na comunicação da mensagem, sendo, portanto, de vital importância o cuidado com a expressão corporal, a respiração, a entonação da voz, o olhar e a expressão fisionômica.

A partir do capítulo 7, o foco é o sermão propriamente dito. Numa linguagem bem-humorada, Robson orienta a evitar aquele sermão comumente conhecido como “salada de frutas”. Para isso, nada mais acertado do que orientá-lo na forma correta de esboçar um sermão, valendo-se, sobretudo, de exemplos práticos. Ele delineia os passos gradativos para o esboço e apresenta um estudo minucioso sobre cada uma de suas partes componentes: introdução, desenvolvimento e conclusão.

Nos capítulos 10, 11 e 12, os quais encerram a segunda parte do livro, são apresentadas dicas sobre como pregar o que interessa, com estilo e recursos interessantes. Essas orientações pretendem ser um antídoto contra sermões desinteressantes que, na visão do autor, produzem apenas ouvintes desinteressados. São orientações práticas como “conheça seu objetivo”, “conheça seus ouvintes” e “conheça profundamente o assunto pregado”.

Na última seção, o autor ressalta a importância da Bíblia Sagrada como fonte insubstituível da pregação. Para isso, ele apresenta uma visão panorâmica da Palavra de Deus através dos tempos, desde os dias dos antigos hebreus, passando pelo Novo Testamento, pelos pais apostólicos, reformadores, até os grandes pregadores de séculos recentes.

Por fim, o autor se debruça sobre os tipos de sermão: temático, expositivo e textual, orientando na organização e apresentação de cada modalidade e assinalando as vantagens e desvantagens atinentes a cada um deles. Esta seção finaliza com sugestão para que o pregador aplique o sermão no dia-a-dia das pessoas, com a apresentação de passos necessários para uma boa aplicação.

A Arte de pregar é um excelente recurso para pregadores, pastores e ministros em geral, principalmente nestes tempos em que tanto se tem pregado, porém com tão pouca eficiência. Ouvi alguém dizer que o sermão ideal deve ser como minissaia, justo, curto e provocante. Neste livro, de forma bem-humorada, clara e descomplicada, Robson Marinho delineia o caminho para se conseguir tal objetivo, e o melhor: com base na sua vasta experiência no assunto.

Já li alguns livros sobre homilética e confesso que boa parte deles consistia em definições longas e complicadas, desprovida de praticidade. Porém em A arte de pregar, o escritor vai direto ao assunto, valendo-se de exemplos preciosos colhidos dentro de sua própria experiência. Assim, ele consegue despertar nos leitores o prazer pela pregação de qualidade, como também inspirar naqueles que já estão há algum tempo envolvidos neste ministério o desejo de se esmerarem no ministério da pregação.

Já li duas vezes A arte de pregar e indico a todos os que realmente têm interesse pelo sermão de qualidade. Ao ler este livro, o leitor ampliará o seu deleite pela pregação e será motivado a pôr em práticas preciosos ensinamentos de quem entende muito bem do assunto.

Robson Moura Marinho é mestre em Teologia e pós-graduado em Psicologia Organizacional pela Faculdade Brasileira de Recursos humanos; doutor em Filosofia nas áreas de Comunicação e Educação pela Andrews Universit, Michigan; foi editor da Casa Publicadora Brasileira e já escreveu vários textos para programas evangelísticos pela TV. Como educador, foi diretor de escola de ensino fundamental e professor universitário de Oratória e Homilética, entre outras disciplinas. Já pastorou muitas igrejas no Brasil.