sábado, 2 de junho de 2012

Como vencer a depressão

Continuação de
Depressão e luz no fundo do Túnel
A depressão do profeta Elias
Saiba que depressão é uma doença e tem tratamento

Não temos a pretensão de prescrever uma receita pronta para  curar o mal da depressão, isso seria ignorar a singularidade de cada caso, bem como a variação de gravidades dos quadros depressivos. Aliás, o que de pior se pode fazer para uma pessoa deprimida é simplificar a situação dela, fazendo generalizações e apresentando saídas mágicas. O que orientamos a seguir são passos importantes que servem para evitar o agravamento da doença e possibilitar a restauração paulatina da saúde.

1. Não se isole, compartilhe sua dor com pessoas de sua confiança

 Uma pessoa deprimida normalmente quer ficar sozinha, isolar-se, cortar relacionamentos e comunhão. Aliás, não há nada mais difícil para uma pessoa deprimida do que conseguir relacionar-se pessoalmente. Temos lidado com alguns irmãos e amigos que evitam encontros nas ruas, mudando de caminho, não atendem o telefone e diminuem drasticamente a frequência nos lugares aonde normalmente vão. Todavia, isolar-se é a decisão mais desacertada que alguém pode tomar quando está deprimido, pois este é o momento quando mais se precisa de companhia.

Não é de surpresa a constatação de uma pesquisa sobre suicídio que mostrou um índice maior de tentativa de suicídio na zona rural do que na zona urbana, sugerindo que na vida isolada do campo, além da pequena probabilidade de suporte social e cuidado com a saúde mental, o isolamento social pode ser um fator de grande risco para o agravamento da doença mental e consequentemente para o suicídio (Grandin et al. (2001).

O ser humano é um ser gregário e, portanto, isolado torna-se vulnerável aos perigos das próprias imaginações e fantasmas, uma vez que a solidão joga o foco do indivíduo para dentro de si mesmo. Foi Rubem Alves quem disse que, no silêncio, quando os bichos de fora silenciam, os bichos de  dentro começam a uivar. É assim que acontece com a pessoa que fecha a porta para o mundo, imediatamente ela começa a ser confrontada com seus próprios fantasmas, os quais são sempre agigantados pela visão distorcida de mundo sintomática da depressão. É necessário que alguém com uma visão de fora pacientemente aclare a realidade e oriente sobre procedimentos a serem tomados, como procurar ajuda profissional por exemplo. 

Veja o caso do profeta Elias, no momento em que mais precisava de companhia, ele escolheu ficar sozinho. É isso o que muitos têm feito. Como observa o pastor Michael Youssef, um dos propósitos de se estar ativo na igreja é a comunhão mútua, encorajamento e confirmação da Palavra de Deus. Somos membros de um corpo, feitos para trabalhar juntos. Precisamos uns dos outros. Portanto, se você está tentando se virar sozinho no meio dessas densas trevas, pare agora. Jesus não foi sozinho ao Monte das Oliveiras na noite de sua agonia. Ele levou consigo Pedro, Tiago e João. O Mestre contava tanto com eles que se incomodou ao encontrá-los dormindo (Mt 26.36-46). O apóstolo Paulo era um homem que não dispensava o auxílio de bons amigos com quem compartilhava as suas aflições e tribulações (2 Co 2.13; 7.6; Cl 4.7-14). O exercício da verdadeira amizade é uma terapia eficientíssima. Às vezes bastam dois ouvidos dispostos para levantar o deprimido.

2. Procure ajuda profissional especializada

"Quando a tristeza toma conta de tudo e a vida se torna um fardo insuportável, procure ajuda psiquiátrica para saber se há necessidade de psicoterapia e medicamentos (...). Não deixe para mais tarde. Não descuide de sua saúde mental." Dr. Drauzio Varella.* 

Todo processo de cura começa com o reconhecimento da doença que mobiliza à procura de auxílio especializado  Saiba que depressão é uma doença e seu tratamento exige um trabalho em equipe multiprofissional. Eu mesmo já sofri terrivelmente deste mal e me curei quando entendi que estava doente e que precisava urgentemente de cuidados de profissionais especializados. Compreendi que não era frescura, moleza, uma simples tristeza ou mesmo as conseqüências passageiras de alguma perda ou frustração, como alguns imaginavam. Também percebi que a oração do pastor, o apoio da família e a conversa com bons amigos, apesar de muito importantes, não bastavam para dar conta de meu tormento. Era mesmo uma doença como qualquer outra, e como tal, exigia cuidados médicos. É preciso se certificar se não á algum fator de ordem fisiológica determinante na depressão, bem como das consequências da depressão na saúde física  e isso só pode ser feito por um médico.

É verdade que vivemos num mundo gerador de angústia e desespero, e o angustiar-se diante das intempéries da existência é prova de que estamos vivos e sentimos a vida, mas também é verdade que carregamos em nossas entranhas a capacidade de superação, resiliência, que mobiliza ao prosseguimento com a própria vida. Portanto se as angústias tomarem proporções tão profundas e duradoras a ponto de inviabilizar a própria vida, procure ajuda de um psiquiatra ou psicólogo urgentemente.

3. A importância da espiritualidade. Talvez você não seja cristão, não vai à igreja, mas pode ser que você acredite em alguma realidade transcendental, num poder sobre-humano. E mesmo que você seja ateu, com meu sincero respeito, o que importa agora, não é? Nas trincheiras, a fé é uma necessidade vital. Como disse alguém, não existem ateus nas trincheiras. Coloque sua descrença à prova e desafie este "suposto" Deus a revelar-se a você.

3.1 Confie firmemente no caráter bondoso de Deus. Àqueles que acreditam em Deus, quero dizer que todas as pessoas estão sujeitas a deprimir-se, cristão ou não. O apóstolo Paulo, nas várias cartas que escreveu às igrejas de sua época, fala de suas crises depressivas, principalmente na carta que escreveu aos efésios, quando estava preso. Em Co 1.8, o apóstolo diz que fora agravado de tal forma, mais do que podia suportar, ao ponto que chegou a desesperar da vida. Temos muitos outros casos como os de Moisés, Elias, Davi (Sl 22) e Asafe (Sl 73). Nós somos homens como eles, sujeitos às mesmas paixões, e hoje somos submetidos a pressões ainda maiores. Como aqueles homens fizeram no passado, é imprescindível que confiemos firmemente em Deus. Ele é poderoso para guardar a nossa mente sã. Isaías, lá do rol dos heróis da fé, manda-nos uma receita: “Tu conservarás em paz aquele cuja mente está firme em ti, porque ele confia em ti; confiai no Senhor perpetuamente, porque o Senhor Deus é uma rocha eterna” (Is 26.3,4).

Entregue sua vida e o seu futuro a Deus, como José o fez. Apesar das contrariedades sofridas pelo filho de Jacó, ele não deixou de acreditar que o Senhor estava no controle de tudo e que guiaria sua nau por entre as vagas revoltas. Dependendo da gravidade do caso, a pessoa deprimida não tem condição de gerir sua própria vida, tomar decisões importantes e não sabe para onde está indo a embarcação de sua vida. Ele apenas se vê envolto em uma nuvem espessa de incertezas. Por isso, Pedro nos aconselha a que lancemos sobre Ele [Deus] toda a nossa ansiedade, porque Ele tem cuidado de nós (1 Pe 5.7).

3.2 Recorra ao poder da oração. Eu não acredito que exista terapia mais eficaz do que a oração para trazer cura e alívio ao coração abatido. É bem verdade que se trata de prática intimamente relacionada à espiritualidade, mas tem implicações em todos os seguimentos da vida do sujeito e provoca mudanças de ordem emocional, psíquica e até física, porque um ambiente emocional saudável reflete no funcionamento do corpo. "Um coração alegre aformoseia o rosto".

Lendo a Bíblia, principalmente nos salmos, vamos encontrar homens afundados em aflições rasgando a sua alma perante o Senhor (Sl 22; 86; 88), o maior de todos os psicólogos. O maior exemplo, sem dúvida, é o de Jesus que, em indescritível agonia, clamava intensamente ao Pai, que o podia confortar (Mt 26.36-46). Atente para a promessa de Deus no Salmo 50: "E invoca-me no dia da angústia: eu te livrarei, e tu me glorificarás" (v 15).

Um amigo, em grande aflição, perguntou-me se a oração tem o poder de mudar qualquer situação. Respondi-lhe que num sentido objetivo não, mas num sentido subjetivo sim. Ao perceber sua cara de quem não entendeu, expliquei que nem sempre é possível mudar a realidade objetiva em nossa volta, mas a oração muda o sujeito, levando-o a conferir um significado diferente à realidade. A oração, como a boa psicoterapia,  altera a visão que o indivíduo tem sobre os fatos. E a mudança de visão do indivíduo sobre os fatos vai alterar a sua ação sobre a realidade. Na verdade,quando a nossa leitura da situação muda, a partir de uma transformação profunda que aconteceu em nós, a realidade externa também já não é a mesma. Na vida, mazelas como preconceitos, discriminação, disparidade social, doenças, violência, injustiça, etc. serão sempre uma realidade presente. Como diz um poeta: "A gente reza, ora,chora, e continuam sempre os mesmos problemas". Mas o olhar e a disposição do indivíduo sobre toda essa realidade farão toda a diferença.

Ore!

*http://globotv.globo.com/rede-globo/fantastico/v/depressao-atinge-350-milhoes-de-pessoas-no-mundo/2411751/

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Um vazio do tamanho de Deus

Josafá R. Lima


Há sempre a falta de alguma coisa indefinível, que lança o sujeito numa busca constante e inconsequente por se preencher daquilo que o próprio esforço parece incapaz de atingir: é a incessante agonia humana. J. R. Lima
“Ó Deus, tu és o meu Deus, eu te busco ansiosamente; a minha alma tem sede de ti, o meu corpo te deseja muito em uma terra seca e cansada, onde não há água”.

Durante toda a história humana, diversos pensadores questionaram acerca da falta de sentido da vida, o que parece se caracteriza por um vazio existencial que acomete a alma humana, lançando-a num profundo desespero, fenômeno que parece se exasperar nos dias hodiernos. Albert Camus, filósofo francês, afirmou certa vez que o homem não pode viver sem um significado. E o grande mal do homem moderno, como já exposto acima, parece ser falta de significado, o que tem origem na ausência de algum bem que desconhecemos e buscamos substituí-lo por entretenimentos concretos da vida. A psicologia já sacou que o humano é um ser faltante que naturalmente procura enchimento no sexo, nas drogas e na religião - a invenção de um significado.

Mas nem precisa consultar as ciências humanas e a filosofia para se certificar dessa realidade, pois trata-se de um mal vivenciado no dia-a-dia pelo homem comum. O doutor Fábio Ikedo, no livro Um Vazio do Tamanho de Deus, conta que há alguns anos foi efetuada uma pesquisa de opinião pública na França. O resultado mostrou que 89% das pessoas consultadas admitiram que o ser humano precisa de “algo” pelo qual possa viver, ou seja, andam em busca de alguma outra coisa que eles não sabem o que é. É uma realidade bem parecida com a dos atenienses que projetaram seu vazio religioso-existencial em um ser cujo nome não sabiam e, por isso, se reportavam a ele chamando-o de deus desconhecido (At 17.23).

A experiência já mostrou que não se trata de um desespero resultante de carências materiais, econômicas e sociais, ou de problemas de ordem cultural: é algo que afeta a todos indistintamente. Um levantamento, continua Fábio Ikedo, feito com 100 alunos da universidade de Havard, todos provenientes de famílias abastadas, revelou que 25% deles duvidavam que suas vidas tivessem algum sentido. Revistas psiquiatras relatam que esse mesmo fenômeno ocorre em todos os países comunistas.

O romancista russo Fiodor Dostoievski disse que há no homem um vazio do tamanho de Deus. Talvez nessa afirmação resida a explicação para o desespero existencial humano e o esclarecimento de tantos desatinos perpetrados pela espécie humana nessa busca de saciar os anseios da alma. Estamos em busca de algo que é vital. Não sabemos mesmo o que é? Ou, em nosso orgulho, não queremos aceitar a  realidade de que  Deus é a única realidade proporcionadora de significado da vida e que, portanto, sem ele tudo não passa de um caos? Parece-me que foi Voltaire quem disse que "se Deus não existisse, seria preciso inventá-lo." Pois bem, apesar de ateu, o pensador francês teve que reconhecer que ao menos a ideia de Deus é algo absolutamente necessário.   

A Bíblia atesta a existência de um Deus que criou o homem com um prepósito especial: ter comunhão com Ele (Gn 2.18-20; 3.9). Logo, o propósito da vida de todo ser humano seria andar com o seu Criador e glorificar-lhe o nome santo. Desviado deste objetivo, a criatura acha-se acometida de uma crônica falta de sentido. É como se o chapéu, feito obviamente para a cabeça, estivesse sendo usado como sapato. Que sentido há nisso? Segundo a Bíblia, o pecado desviou o homem do plano original que o Criador traçou para a sua vida (Rm 3.23). A palavra grega usualmente para pecado é “hamartia” e tem o sentido básico de “errar o alvo”. Como um arqueiro que atira, mas erra, da mesma forma o pecador erra o alvo final da vida: fazer a vontade de Deus e ter comunhão com Ele. Essa é, segundo a Bíblia, a razão do vazio existencial inerente a todos os homens.

O evangelista Billy Graham, tratando do assunto, afirmou: “Queremos paz, alegria e felicidade que não achamos em lugar nenhum, porque isso não se pode achar à parte de Deus”. Perfeito. Os seres humanos nunca estarão satisfeitos com aquilo que têm, pois a necessidade da alma é grande demais para ser preenchida com bens terrenos. Muitos têm buscado preencher-se com os tesouros deste mundo: dinheiro, fama, estudos, trabalho excessivo; outros se entregam ao sexo, drogas e álcool, mas a sensação de que algo está faltando é onipresente. Não adianta tentar fugir: o homem vai dar sempre de cara com esta realidade: ou Deus ou o caos. Paulo diria que esse “algo” que vocês buscam, sem nem mesmo saber o nome, é o Deus que eu anuncio, o Criador dos céus e da terra (ver At 17.23,24).