sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Josué e os gibeonitas: ingenuidade e sagacidade


“Então, aqueles homens israelitas tomaram de sua provisão e não pediram conselho à boca do Senhor”.

Os homens vão nos surpreender sempre, às vezes pela grandeza de sua força, às vezes por sua fraqueza, ora por sua sagacidade, ora por sua ingenuidade. Ao ler sobre este fato fico me perguntando como foi possível um líder da envergadura de Josué precipitar-se tão ingenuamente em um acordo com os gibeonitas, incorrendo em três erros, no mínimo primários, para um grande líder. J. R. Lima.

Desde que Josué assumira o comando dos filhos de Israel, a nação eleita já tinha superado grandes obstáculos: haviam vencido as águas impetuosas do Jordão, desbaratado Jericó com seus muros imponentes e subjugado os corajosos habitantes de Ai. Os reis de Canaã, diante da incursão firme dos hebreus nessa terra, estavam assombrados com as proezas realizadas pelo exército destes. Parecia que nenhuma arma podia prosperar contra Israel, nenhum inimigo podia se suster diante de sua força. E a ordem de Deus era clara: os habitantes de Canaã teriam que ser eliminados, sem exceção. Mas eis que surge um inimigo diferente no caminho de Israel, usando armas mais sofisticadas e perigosas.  E o que seus compatriotas não puderam alcançar pela força, os gibeonitas tentaram pela astúcia. E funcionou. Josué e os anciãos de seu povo deixaram-se enganar pelos artifícios dos heveus, engano que traria deletérias e permanentes conseqüências ao povo de Deus. Uma análise dessa história nos advertirá sobre o perigo do engano e da falsa aparência no meio do povo de Deus.


A CONFEDERAÇÃO DOS REIS DE CANAÃ

Após as vitórias espetaculares de Josué sobre os habitantes de Jericó e Ai, Os demais reis da terra de Canaã concluíram que deviam agir imediatamente se não quisessem ter o mesmo destino daqueles. Imagino que, como acontece nos dias atuais, quando líderes de várias nações se juntam para tratar de assuntos comuns a todos, os reis de Canaã se reuniram em caráter emergencial, e Adoni-zedeque, rei de Jerusalém, abriu aquela sessão dizendo:

“Bom, imagino que todos sabemos o motivo por que estamos aqui. As notícias que estão nas páginas dos últimos jornais não são boas. Os hebreus intentam se apossar de nossas terras, dizendo tratar-se de uma promessa de seu Deus a eles. Por onde este povo tem passado, o terror se abate sobre todos, devido às proezas que vem realizando em nome de seu Deus. Não podemos mais esperar, precisamos agir rapidamente. É bem verdade que, entre nós, temos nossas diferenças, mas, em um caso como este, em que nós e nossos filhos estamos sob ameaça, deixemos de lado as diferenças e nos unamos, ou então seremos todos destruídos. Precisamos sair da defensiva já e partir para o ataque”.

Formou-se, então, uma coalizão entre heteus, amorreus, cananeus, ferezeus, heveus e jebuseus  para lutar contra Israel. Não sabiam aqueles reis que à frente de Israel estava o príncipe do exercito do Senhor (Js 5.14), que, portanto, nada nem ninguém poderia se suster diante de Josué. O G6 (grupo dos seis) começaria atacando a cidade de Jibeão, cujos moradores vão se aliar à nação santa. Ali aconteceu o primeiro e decisivo confronto (ver Js 10.6-14).


O ARDIL DOS GIBEONITAS (9.315)

Os gibeonitas eram heveus habitantes de Gibeom (Js 9.7), cidade governada por um concílio de anciãos (Js 9.11). Dados históricos mostram que os heveus eram um povo ardiloso e conhecido pelas armadilhas que preparavam para os seus inimigos. Aliás, era comum povos antigos e beligerantes apelarem para a astúcia, quando a força não era suficiente para vencer um exército inimigo. O povo de Gibeom soube das espetaculares vitórias de Josué contra Ai e Jericó. Ainda mais assustados estavam pelo fato de que fenômenos sobrenaturais acompanhavam as batalhas, prova da presença de um Deus terrível entre eles. Pelos cálculos que fizeram, não tinham nenhuma chance de subjugar os israelitas. Sabiam que seriam mortos com seus filhos e mulheres, pois a ordem de Deus era clara: deveriam ser banidos da terra prometida (Dt 7.1-6). Concluíram, então, que o único meio de se salvarem era forçar a nação eleita a fazer um pacto de não agressão com eles. Para isso aproveitariam a empolgação dos filhos de Israel com a recente vitória sobre Ai. Estes ainda comemoravam. Quem sabe haviam se estribado por um momento na própria destreza, esquecendo que à frente daquela batalha estivera o anjo do Senhor para guerrear e orientá-los, como foi feito contra Jericó. O gibeonitas então entenderam que era hora de agir. Agir rápido, pois Israel estava sob forte emoção. E a razão diz que decidir sob forte emoção é extremamente arriscado.

Pode-se, em plena guerra, subestimar os ardis do inimigo? Paulo, falando de nosso arquiinimigo, salientou que nós não ignoramos os seus ardis (2 Co 2.11). Por isso, o mesmo apóstolo nos adverte a que vigiemos e oremos em todo o tempo (Ef 618). Mas Israel descuidou-se. E pagou um preço alto por isso.

Os homens vão nos surpreender sempre, às vezes por sua força, às vezes por sua fraqueza, ora por sua sagacidade, ora por sua ingenuidade. Ao ler sobre este fato fico me perguntando como foi possível o grande líder Josué precipitar-se tão ingenuamente em um acordo com seus inimigos, incorrendo em três erros, no mínimo primários, para um grande líder.

A tentação das palavras lisonjeiras. Note que os gibeonitas se apresentaram a Josué dizendo “nós somos os teus servos” (9.8). Quando instados por Josué a dizerem quem realmente eram, eles continuaram: “Teus servos vieram de uma terra bem distante por causa do nome do Senhor, teu Deus; porquanto ouvimos a sua fama e tudo quanto fez no Egito; e tudo quanto fez aos dois reis dos amorreus que estavam dalém do Jordão...” (9.9,10). É inescapável o apelo que fizeram ao orgulho dos filhos de Israel, apresentando como motivo de sua vinda os extraordinários feitos do Senhor, o de que Israel mais se “orgulhava”. Parafraseando os gibeonitas: “Rapaz, que Deus tremendo é esse vosso. A gente acompanha a notícia de seus feitos desde o mar Vermelho, passando pelas suas proezas no deserto. Ouvimos de como Ele abriu o rio Jordão e venceu os reis de Jericó e de Ai! Nós não víamos a hora de nos encontrarmos convosco e fazer parte do vosso povo tão especial, e servir a este Deus invencível”. Funcionou. Faltou a Josué a clarividência de Paulo, para entender que nem todos que falam bem de nós são dos nossos (ver At 16.17,18). Na verdade, não era devoção, admiração ou temor ao Senhor que motivavam os gibeonitas, mas medo de perder a vida.

Agiram sob forte emoção. Haviam saído de uma derrota vergonhosa, por causa do pecado de Acã, para uma vitória espetacular depois do sacrifício deste. A perda de alguns homens na guerra contra Ai, acrescida da morte de Acã com toda a sua família, causou, sem dúvida, grande comoção sobre o povo. Logo em seguida, o Senhor os lidera numa espetacular vitória sobre Ai. Transitaram brevemente entre um extremo e outro. Este misto de emoções - luto e júbilo - causa um grande desgaste emocional, levando a um estado considerável de vulnerabilidade. O ambiente estava propício às ações ardilosas do inimigo. Em momentos de forte emoção, é perigoso tomar qualquer decisão sem consultar ao Senhor. E por falar em consultar ao Senhor...

Não consultaram ao Senhor. O versículo 14 (cap 9) é taxativo: “Então, aqueles homens israelitas tomaram de sua provisão e não pediram conselho à boca do Senhor”. Talvez o tempo que tomassem para a oração seria o suficiente para descobrirem a trapaça. Mas Josué e os anciãos não oraram. Entraram presunçosamente em um irrevogável concerto com os gibeonitas. E o fizeram jurando pelo nome do Senhor, o qual eles nem sequer consultaram (V 18). Que tragédia: esta decisão trouxe para dentro da comunidade Israelita aqueles que, segundo a ordem de Deus, deveriam ser destruídos (ver Dt 7).

Os ardis ocultam males destruidores (9.3,4). Aqueles homens, aparentemente bem intencionados, escondiam a sua verdadeira identidade, com o propósito de escaparem de uma sentença que já havia sido determinada para eles. A medida de suas iniquidades já havia enchido (ver Gn 15.15). Deus não os pouparia (ver Dt 7.1-6). Até porque o Eterno sabia que, se alguns daqueles povos fossem poupados, serviriam como pedra de tropeço e inspiração de idolatria para Israel. Sem dúvida, eles ponderaram que os israelitas eram um povo que tinha a justiça e a lealdade em alto conceito, e que serviam a um Deus justo. Então eles procuraram enredar Israel no seu próprio conceito de justiça e lealdade. Sabiam, é claro, que logo a sua verdadeira identidade seria descoberta, “ mas”, cogitaram, “apenas depois de fazermos um pacto com Israel, o qual, seguindo o seu alto conceito moral, não poderá invalidar”. Notemos, então, que a intenção por trás do ardil era primeiramente levar a nação santa a desobedecer à ordem de Deus, o que abre as portas para males destruidores; segundo: enredar Israel no seu próprio conceito de justiça. Tanto é que, descobrindo Josué que havia sido enganado, apesar da indignação do povo, nada pôde fazer contra os gibeonitas, pois os anciãos de Israel já haviam feito aliança com eles, havendo jurado em nome do Senhor. Seria cômico se não fosse trágico: mais tarde Israel se sentiu na obrigação de defender numa guerra aqueles a quem receberam ordens claras de Deus para destruir (Js 10.6-11). Por muitos anos depois, Israel ainda sofreria as conseqüências de sua decisão inconsequente, pois, em muitas ocasiões, os heveus causaram grandes angústias aos filhos de Abraão (Jz 3.1-3; 2 Sm 21. 1, 2).

A estratégia dolosa dos gibeonitas. Agir com dolo é planejar, deliberadamente, cada etapa do próprio ato criminoso. Os gibeonitas foram precisos. O primeiro passo de sua estratégia era fazer Josué acreditar que eles eram moradores de uma terra distante. Se errassem aqui, estariam perdidos. A Bíblia mostra com detalhes a maneira ardilosa e “inteligente” como teceram a rede que enlearia Israel. “Tomaram sacos velhos sobre os seus jumentos e odres de vinho velhos, e rotos, e remendados; e nos pés sapatos velhos e remendados e vestes velhas sobre si; e todo o pão que traziam para o caminho era seco e bolorento” (Js 9.4,5). Em seguida, fizeram a nação santa acreditar que eles estavam encantados com o Deus de Israel. Foi uma conjugação de aparência e lisonja.

Tomemos cuidado! Os nossos inimigos sabem tecer suas redes. Lembra a arapuca que Balaão armou para os filhos de Israel? (ver Nm 22.5-24.25; Dt 23.4; Jd 11). E o que armaram para Daniel na Babilônia? (ver Dn 6). Para encerrar, veja a armadilha que Semaías perpetrou para Neemias (Ne 6.10-13). Estes dois últimos escaparam porque não se deixaram levar pela falsa aparência das coisas, pois buscavam sempre a orientação de Deus.

O perigo da convivência com o engano. Pior do que ser enganado uma vez é a sensação de estar habitando nos meio de enganadores. O salmista Davi já dizia: “Livra-nos, Senhor, porque faltam os homens benignos; porque são poucos os fiéis entre os filhos dos homens. Cada um fala com falsidade ao seu próximo: falam com lábios lisonjeiros e coração dobrado” (Sl 12.1,2). Veja a preocupação de Paulo com o perigo do engano: “...em perigo dos da minha nação, em perigo dos gentios... em perigo entre os falsos irmãos (2 Co 11.26). Depois de haver feito um pacto com os gibeonitas, Israel foi forçado a conviver com eles. Isso não era nada confortável. Já experimentou conviver com alguém em quem você não confia pelo fato de já ter sido enganado por ele? Pois é, o fermento já havia sido lançado no meio da massa. E o apóstolo Paulo disse que “um pouco de fermento faz levedar toda a massa” (1 Co 5.6). Israel teria que carregar aquele fardo por longos anos. Para nós, que somos os destinatários de tudo quanto foi escrito, o que é para o nosso ensino (Rm 15.4), fica o conselho do apóstolo: “Não durmamos, pois, como os demais [ os israelitas?], mas vigiemos e sejamos sóbrios” (1 Ts 5.6).


A FARSA DESCOBERTA (9.16-22)

Ao cabo de três dias, a verdade sobre os gibeonitas veio à superfície. Aqueles “moradores de terra longínqua” eram, na verdade, vizinhos de Gilgal, das cidades de Gibeom, Cefira, Beerote e Quiriate-Jearim. Sinceramente acredito que os gibeonitas não se surpreenderam com a rapidez com que Israel descobriu a farsa, já esperavam por isso. Como já dissemos algures, eles queriam apenas forçar um pacto de não agressão, o qual, por uma questão de fidelidade, a nação santa dificilmente quebraria.

É notável aqui a indignação do povo. Havia murmurações e, provavelmente, questionamentos: como puderam os príncipes de Israel cometer um erro primário e tão infantil como este? A história sempre se repete porque o homem ainda é o mesmo. Ainda hoje somos surpreendidos por grandes líderes tomando atitudes infantis e tresloucadas no seio de muitas igrejas. Tantas vezes nos deparamos com situações em que a congregação está estupefata diante de decisões que se mostraram danosas. E, se os crentes se mostram surpresos, é porque nunca esperavam tal comportamento de um líder que pautou toda a sua vida em um relacionamento estreito com Deus e que nunca havia descuidado de buscar as orientações divinas.

A Josué não restava outra saída que não honrar o acordo com os enganadores. Segundo um ditado popular, um erro não concerta o outro. Apesar de agora saber que os gibeonitas o haviam enganado, Josué não podia invalidar o acordo que fizera com eles em nome do Senhor. Seria agravar ainda mais a situação. Então, apesar da pressão do povo, os príncipes de Israel se mantiveram firmes e leais ao concerto que haviam feito. “Estão todos os príncipes disseram à congregação: Nós juramos-lhes em nome do Senhor, Deus de Israel; pelo que não podemos tocar-lhes” (Js 9.19). Eugene Merrill faz uma observação que vale a pena reproduzir.

É claro que os gibeonitas eram alvo do herem [anátema], juntamente com os demais cananeus, e por isso deveriam ser destruídos (Dt 20.16,17). Em vez disso, despercebido como estava Josué, o pacto teve que vigorar e os gibeonitas com seus amigos heveus de Quefira (Tel Kefireh), Beerote (Nebi Samwil?) e Quiriate-jearim (Qiryat Ye’arim) conseguiram sobreviver, e todas as vilas que ficaram nos oitos quilômetros de Gibeão foram permitidas viver (Merrill, E. H. História de Israel no Antigo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2001, pp. 112-3. In CABRAL, Elienai. Lições bíblicas – livro de Josué: as conquistas e as promessas do povo de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 4º trim de 2008, p. 61).

Nós vemos a responsabilidade dessa aliança pesar nos ombros de Israel até nos dias de Saul e Davi (2 Sm 21. 1-9). Analise esses versículos com cuidado e veja a seriedade do juramento feito em nome do Senhor.

Depois do erro cometido, a melhor atitude é reconhecê-lo, assumi-lo e procurar amenizar as conseqüências dele. Foi o que fizeram humildemente Josué e os príncipes de Israel. Pouparam os gibeonitas da morte, imposta a seguinte condição: seriam rachadores de lenha e tiradores de água para toda a congregação e para o altar do Senhor. Começaram a viver uma situação análoga à escravidão, de qualquer maneira, uma condição melhor que a morte.

Sendo a igreja de Cristo o novo Israel de Deus e militando para tomar posse da cidade que lhe fora prometida, ainda hoje é alvo de ardis perpetrados pelos gibeonitas atuais, cuja roupagem pode não ser rota e cujo pão pode não ser velho, mas continuam vindo disfarçados para enganar o povo de Deus. Paulo avisara a Timóteo que, nos últimos tempos, espíritos enganadores se introduzirão na igreja e semearão doutrinas destruidoras (ver 1 Tm 4.1). É preocupante o que estamos vendo nos dias atuais, muitos líderes e pregadores comprometidos consigo mesmos, desviando o povo de Deus da verdade do evangelho por suas mentiras e operação do erro. É a época do vale tudo pelo sucesso. E, no afã de atingirem seus objetivos, muitos desprezam a exegese bíblica e usam e abusam de seu antônimo, a eisegese, introduzindo nas santas Escrituras aquilo que ela nunca disse, a fim de atingirem seus propósitos. A igreja de Cristo, como nunca, precisa estar atenta. Vale reproduzir aqui o comentário do pastor Elienai Cabral sobre esses falsos mestres.

De vez em quando nos deparamos com os disfarces de algumas pessoas que se dizem pastores, pregadores e líderes, os quais trazem para dentro da igreja os seus costumes mundanos. São pessoas que fingem ser possuidores de unção especial, que ostenta uma falsa espiritualidade e acabam por contaminarem o povo de Deus (Tt 1.16). A mistura no seio do povo de Deus, como fermento na massa, sempre será maléfica (1 Co 5.5-7). Essa mistura do verdadeiros com o falsos irmãos é perniciosa (2 Co 11.26). No ministério cristão aparecem os lobos cruéis vestidos de ovelhas (At 20.29) e “obreiros fraudulentos” (2 Co 11.13). Esses “rachadores de lenha” não fazem o trabalho por amor, mas porque não podem fazer outra coisa, por isso, podem ser aqueles que procuram “rachar” (dividir) o Corpo de Cristo, produzindo dissensões e divisões (CABRAL, Elienai. Josué: um líder que fez a diferença. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, p 98).


CONCLUSÃO

A Bíblia diz que tudo quanto foi escrito, para o nosso ensino foi escrito (Rm 15.4). Os tempos mudaram. Mas o novo Israel de Deus ainda luta para conquistar a terra prometida (Gl 5.16; Hb 11.14-16). E os gibeonitas ainda estão aí, vestindo outras vestes, é claro, usando outros artifícios, porém com o mesmo objetivo: enredar o povo de Deus. Devemos estar, pois, atentos, buscando sempre a orientação do Senhor para que não incorramos no mesmo erro em que Josué e os anciãos de Israel incorreram. Satanás, nosso adversário, está ao nosso derredor, bramando como leão, procurando a quem possa tragar (1 Pe 5.8). Sejamos sóbrios e vigiemos.

BLIOGRAFIA

Bíblia de Estudo pentecostal/ CPAD.

------------------ aplicação pessoal/ CPAD.

Bíblia de referência Thompson/ Vida.

CABRAL, Elienai. Lições bíblicas – livro de Josué: as conquistas e as promessas do povo de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 4º trim de 2008.

------------------ Josué, um líder que fez a diferença. Rio de Janeiro: CPAD, 2008.

MERRILL, E. H. História de Israel no Antigo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2001.

OLSON, Nels Lawrence. O plano divino através dos séculos. Rio de Janeiro: CPAD, 1981.

MONEY, Netta Kemp de. Geografia histórica do mundo bíblico. São Paulo: Editora Vida, 1977.

O Novo Dicionário da Bíblia. Editado por R. Shedd. São Paulo: Vida Nova, 1995.

A missão social da igreja

“Bem-aventurado é aquele que atende ao pobre; o Senhor o livrará no dia do mal” (Sl 41.1).

O engajamento da igreja no serviço social, socorrendo os pobres em suas diversas necessidades, diferente do que pensam muitos, não é um desvio de sua missão, mas parte intrínseca dela. Segundo podemos inferir da Palavra de Deus, a igreja tem a obrigação (não a opção) de minorar o sofrimento humano, seguindo assim o exemplo de seu grande Mestre (At 10. 38, Lc 4.18; ver Tg 1.27). Muito boa esta oportunidade em que trataremos da responsabilidade social da igreja de Cristo.


MEIOS DE SE EXERCER A RESPONSABILIDADE SOCIAL

No livro Ação Social Cristã, o pr. Hélcio da Silva Lessa classifica a responsabilidade social em três categorias: assistência social, serviço social e ação social. Para melhor compreensão da aula, vamos ver sucintamente a definição de cada uma delas.


Assistencialismo. Conhecido como assistencialismo ou paternalismo, busca atender às necessidades emergentes das pessoas. A pessoa atendida, objeto da ação, encontra-se numa situação de total dependência e, mesmo havendo o suprimento de suas necessidades, as suas carências continuam.

Serviço Social. Aqui, a pessoa carente recebe condição para interagir e melhorar sua situação, recuperando a dignidade e confiança. Projetos sociais tendo como alvo o ensino, a orientação, o apoio, a profissionalização promovem a capacitação do indivíduo a fim de que este se torne responsável pela solução de seus problemas.

Ação Social. Procura transformar as estruturas da sociedade, buscando a criação de bases mais justas. Neste sentido, é muito importante que seja criada uma consciência cívica no meio evangélico, que leve cristãos aos órgãos públicos que estão diretamente relacionados com a infra-estrutura sócio política do país (do Manual de Ação Social/ Igreja Metodista).


A BÍBLIA E A RESPONSABILIDADE SOCIAL

No Antigo Testamento (Dt 15.10,11). Havia na comunidade israelita do antigo Testamento um profundo senso de responsabilidade social como resultado da obediência à Palavra de Deus que determinava que os pobres, estrangeiros, viúvas e órfãos fossem assistidos e socorridos em suas necessidades básicas (Dt 15.7-10; Lv 19.10; 23.22; Ex 23.11). Vejamos como Deus, que nunca deixou de se preocupar com a dignidade humana, estabeleceu medidas econômicas e sociais para o seu povo, visando relações justas entre eles.

O ano sabático (Lv 25.1-17). A cada sete anos, o solo deveria ser liberado para descanso e renovação da terra, os escravos seriam libertados, os endividados, perdoados e os trabalhadores tinham direito a descanso. Outrossim: os pobres tinham o direito de colher por si mesmo do fruto da terra (23.10,11).

A lei do jubileu (Lv 25.8-34). Entre outras coisas, determinava que, a cada cinqüenta anos, (1) os escravos seriam libertados; (2) todas as dívidas seriam perdoadas; (3) as terras seriam devolvidas aos seus antigos donos. Essas medidas evitavam a concentração de riquezas (diga-se de terra), promoviam a redistribuição dos meios de produção e evitavam situações extremas de dívidas, pobrezas, desapropriação e miséria.

Dízimos e colheitas (Dt 14.22-29; Lv 19.9,10). Os dízimos de toda a produção agrícola se destinavam, entre outras coisas, para o sustento dos órfãos, viúvas e estrangeiros. Em relação a colheita, a palavra de Deus determinava: “E quando segardes a sega da vossa terra, não acabarás de segar os cantos do teu campo, nem colherás as espigas caídas da tua sega; para o pobre e para o estrangeiro as deixarás...” (Lv 23. 22). Tais procedimentos protegiam os estrangeiros e evitavam a pobreza extrema no meio do povo. Rute, nora de Noemi, foi beneficiada por esta lei (Rt 2.2,3).


No Novo Testamento (Mt 26.11; Gl 2.10). Na palestina do Novo Testamento, a situação sócio-econômica da maioria das pessoas era deplorável. É tanto que os necessitados acorriam, aos borbotões, à presença do homem de Nazaré, a fim de serem ajudados, muitos apenas para matar a fome (Jo 6.26). Eles eram pobres, enfermos, deficientes físicos, viúvas, crianças, idosos, desamparados, desabrigados e maltratados (Lc 14.13,14).

O exemplo de Jesus. Jesus foi, sem dúvida, o maior exemplo de preocupação e auxílio aos necessitados. Seus ensinos e obras o demonstraram. Uma de suas ricas parábolas é a do bom samaritano, o bondoso homem que arriscou sua vida para cuidar de um necessitado desconhecido, com quem nem o sacerdote nem o levita se importaram (Lc 10.25-37). Essa parábola ainda hoje exerce grande influência nas civilizações. Em outra parábola – sobre as ovelhas e os bodes – Jesus se identifica tanto com os pobres a ponto de dizer: “O que vocês fizeram a um destes pequeninos irmãos [os pobres necessitados], a mim o fizeram” (Mt 25.40). Ele Não podia ver os miseráveis sem se compadecer (Mt 9.36; 14.14; 20.34; Mc 10.45). Uma vez, chegou a convidar um homem rico a vender tudo que tinha e dar aos pobres (Mt 19.21).

Jesus encarnou o amor e preocupação de Deus com os pobres tão nitidamente manifesta no Antigo Testamento. A sua compaixão com os miseráveis responde a uma pergunta que é constante no coração de quem sofre: “Deus se importa?” Jesus responde que sim.

“Jesus se preocupou com o homem enquanto unidade física-psiquica-espiritual. Ele curou, ensinou, salvou, consolou. Cuidou do ser humano por inteiro, rejeitando totalmente a visão grega que valoriza a dimensão espiritual em detrimento da material. A prática de Jesus segue uma seqüência marcada pelo ver, sentir e agir. Nesse sentido, é interessante notar que nos vários encontros de Jesus com as pessoas, indivíduos ou grupos, a ação de Jesus foi marcada por uma completa coerência com seus ensinos. Por isso Pedro apresenta Jesus como ‘aquele que andou fazendo o bem”’ (Manual de Ação Social / Igreja Metodista Livre / www.metodistalivre.org.br).

O exemplo da igreja primitiva. Ainda que vamos tratar mais detalhadamente sobre a igreja primitiva no próximo tópico, vale acrescentar aqui que aquela igreja seguiu em tudo o exemplo de Jesus no seu cuidado para com os necessitados. Segundo a narrativa de Lucas, uma ação usual entre os primeiros cristãos era a partilha de bens para atender os mais necessitados (At 2.44,45; 4.34,35). Alguns irmãos, voluntariamente, vendiam suas propriedades para suprir as necessidades dos mais carentes. Por isso, “todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum... não havia entre eles necessitado algum” (At 2.44; 4.34).

O incentivo apostólico. Os apóstolos, nas cartas que escreveram às várias congregações, também incentivaram o compromisso social cristão. Paulo trata da liberdade da contribuição (I Co 9.7) e elogia os macedônios por darem na medida de suas posses e ainda acima delas (II C 8.3). Tiago fala da assistência aos necessitados como característica inerente à religião pura (Tg 1.27) e condena abertamente os ricos que oprimem os pobres (Tg 5.1-6). João fala do socorro aos necessitados como a materialização da caridade de Deus em nós (1 Jo 3.17,18).

A IGREJA PRIMITIVA E A RESPONSABILIDADE SOCIAL

Como não poderia ser diferente, a igreja primitiva seguiu o exemplo de Jesus, seu Mestre. A grande sensibilidade de Jesus para com as necessidades humanas, vemo-la agora nas ações daquela primeira comunidade cristã, traduzida no cuidado de uns para com os outros. Após o grande despertamento promovido pela descida do Espírito Santo (At 2), os discípulos do Senhor anunciaram veementemente o Evangelho, o que resultou num crescimento frenético do número de fiéis, os quais se organizaram numa comunidade fiel, calcada na doutrina, na comunhão, fraternidade e oração (At 2.42; 4.31; 5.42). Aqueles discípulos souberam conjugar a prática da evangelização com a prática do serviço social, esta última, parte integrante daquela.

Doutrina dos apóstolos. “E perseveravam na doutrina dos apóstolos”. Compreende-se por “doutrina dos apóstolos” o conjunto de ensinamentos que Jesus passou para os doze apóstolos nos seus três anos de ministério. O Espírito santo estaria encarregado de fazê-los lembrar de tudo o que ouviram (Jo 14.26). Nos seus últimos dias de ministério terreno, a ênfase de Cristo recai sobre dois assuntos imprescindíveis à vida da igreja: evangelização e amor ao próximo (Mc 16.15-19; Mt 28.18,19; Lc 24.47,48; Jo 13.12-15; 34,35; 15.12,17). Foi nessa doutrina que a igreja perseverou, o que é a causa do seu extraordinário êxito.

Comunhão. Lucas nos conta que os primeiros discípulo de Cristo “perseveravam na comunhão...e era um o coração e a alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns” (At 2.42, 44-46; 4.32-35). Comunhão significa partilhar juntos do mesmo propósito. Como bem expressou o comentarista da lição em apreço, “ [comunhão] é relacionamento íntimo e fraternal entre os irmãos”. Essa foi uma marca da igreja primitiva, que se traduzia na forte sensibilidade dos crentes pelas necessidades uns dos outros.

Solidariedade. “E perseveravam no partir do pão”. *Em Atos 2.42, pode referir-se tanto às refeições comuns quanto à ceia do Senhor. Era costume, entre os judeus, representar a comunhão entre as pessoas, segurando com as mãos o pão e partido-o em pedaços, em vez de corta-lo (Lc 22.19; 1 Co 11.24). Era um ato de fraternidade e solidariedade entre irmãos. Essa prática sugere a necessidade de a igreja partilhar, por meio do serviço social, o pão material com os necessitados.

Oração. “E perseveravam na oração”. Os crentes primitivos estavam juntos também em oração. Eles estavam em um mesmo espírito, fé e amor, por isso havia uma assídua participação nas reuniões de oração. A oração em conjunto também é uma maneira de desfrutar da comunhão. Os crente podem orar pelos problemas da comunidade à sua volta e pelas necessidades uns dos outros. Essa era uma prática constante na igreja primitiva.

* Lições Bíblicas CPAD/ A igreja e sua missão/ 1º trimestre: 2007.


IGREJA E SENSO DE RESPONSABILIDADE SOCIAL.

Para a igreja primitiva, atender às necessidades dos mais pobres não era uma opção, era uma necessidade. O amor de Deus, derramado no coração dos crentes, os constrangia. No entender do apóstolo João, “Conhecemos a caridade nisto: que ele deu a sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos. Quem, pois, tiver bens do mundo e, vendo o seu irmão necessitado, lhe cerrar o seu coração, como estará nele a caridade de Deus?” (1 Jo 3.16,17). Logo, a o senso de responsabilidade social daquela igreja não era o resultado de plebiscito que optou por assim fazer, mas era o resultado de valores espirituais e morais profundamente arraigados naquela comunidade cristã.

A igreja era caridosa (At 2.45). A caridade é o amor em ação. É o fruto do Espírito (Gl 4.22). A igreja era - e ainda deveria ser - a materialização do amor de Deus. Lucas nos conta que aqueles primeiros crentes “vendiam suas propriedades e fazendas e repartiam com todos, segundo cada um tinha necessidade”. Era muito mais que palavras. Era ação. O apóstolo João, mais tarde, lembraria aqueles dias na sua carta universal, ao dizer: “Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade”. Alguém disse certa vez que as pessoas podem até duvidar daquilo que você diz, mas nunca daquilo que você faz. A igreja daqueles dias era uma igreja que fazia, por isso caía na graça de todo o povo (At 2.47).

Consciência das necessidades materiais dos cristãos (At 11.27-30). Lucas relata a profecia de Ágabo acerca da grande fome que viria sobre todo o mundo, o que, de fato, ocorreu no governo de Cláudio César entre 45 e 54 d.C. Esse fato também é relatado pelo historiador judeu Flávio Josefo. Agora, a igreja de Jerusalém padecia de grande necessidade. A igreja de Antioquia não perde tempo. Está consciente de suas das necessidades de seus irmãos e de suas responsabilidades. Por mãos de Paulo e Barnabé, os discípulos antioquenses mandaram, cada um conforme o que pudesse, socorro aos irmãos em Jerusalém. Em outras passagens bíblicas, vemos Paulo levantando ofertas na Acaia e na Galácia para suprir as necessidades daqueles irmãos (Rm 15.26; 1 Co 16.1-3).

A igreja primitiva cumpria sua missão social. * A igreja não apenas pregava o Evangelho, mas também atendia àqueles que necessitavam de socorro físico e material. Os seguintes princípios devem nortear o serviço social da igreja:

Mutualidade – isto é, ser generoso, recíproco, solidário.

Responsabilidade – trata-se de privilégio e não obrigação (2 Co 8.4; 9.7).

Proporcionalidade – contribuição de acordo com as possibilidades individuais (2 Co 9.6,7).

* Lições Bíblicas CPAD/ A igreja e sua missão/ 1º trimestre: 2007.


CONCLUSÃO

A preocupação com o bem-estar da pessoa humana é uma constante na Palavra de Deus, desde os dias do Antigo Testamento (Lv 23.22; Dt 15.11; Sl 41.1). No Novo Testamento, se evidencia de forma gritante nas ações de Jesus, o qual andou fazendo o bem e libertando todos os oprimidos (Lc 4.18; At 10.38). Finda a sua missão terrena, o Filho de Deus transferiu à sua igreja, como parte de sua missão, o cuidado com os pobres ao dizer “Assim como o Pai me enviou, eu vos envio a vós”. Uma igreja que apenas se importa com a salvação da alma, não atentando para as outras necessidades básicas dos pecadores, sem dúvida é uma igreja que não tem consciência de sua real missão.


BIBLIOGRAFIA

Bíblia de Estudo Pentecostal/ CPAD.

Gianastacio, Vanderlei/ Uma igreja que faz e acontece: responsabilidade social, cidadania e serviço à luz do Novo Testamento/ São Paulo: Vida Nova, 2006.

Kennedy, D. James / E se Jesus não tivesse nascido? / Editora Vida.

Stott, John / Evangelização e Responsabilidade Social / São Paulo, ABU, 1983.

O Novo Dicionário da Bíblia/ Editado por J. D. Douglas/ Vida Nova.

Manual de Ação Social da Igreja Metodista Livre / Editado por Yuri Kikuti, Vera Takamura e pra. Kátia Okada.

Lições Bíblicas CPAD/ A igreja e sua missão/ 1º trimestre: 2007.

Lições Bíblicas CPAD/ Comentário da carta aos Romanos/ 2º trimestre: 1998.

Lições Bíblicas CPAD/ Atos, o padrão para a igreja da última hora/ 3º trimestre: 1996.