sexta-feira, 31 de maio de 2013

A necessidade e a urgência do culto doméstico

INTRODUÇÃO

A configuração social e familiar de nossos dias parece não favorecer a prática do culto doméstico, por isso a adoração ao Senhor no seio do lar tem sido negligenciada e esquecida, mas isso não diminui em nada a importância dela, pois os resultados trágicos dessa negligência temos visto de maneira gritante na igreja e na sociedade em geral. É fato que a configuração da família tem mudado muito nos últimos anos. Além da configuração estrutural, por exemplo, famílias formadas apenas por pai e filhos, ou apenas mãe e filhos, etc., a maneira de os membros se relacionarem entre sim vem passando por mudanças incríveis, de maneira a não comportar mais a tradição que delineava o comportamento familiar até bem perto do final do século passado. Em muitos casos, as pessoas se comportam como se morassem na mesma casa, mas sem vínculos familiares, cada qual com sua própria vida. Vivem dispersas e alheias, cada uma com sua vida, seus projetos, sonhos e, muitas vezes, suas próprias crenças.

É fato que a televisão, e muito mais ainda a internet, dá contribuição muito grande para tamanha dispersão, sem esquecer as ocupações do dia-a-dia, que jogam as pessoas numa corrida tresloucada para atender às exigências da sociedade moderna, sobrando muito pouco tempo e espaço para as relações familiares. Os pais quase não têm tempo para os filhos, por isso terceirizam a educação deles, transferindo à escola e a outros cuidadores uma prerrogativa que é exclusivamente paterna. Todas essas atividades intensas deixam muito pouco tempo para a interação e vivência entre os entes familiares que estão cada vez mais dispersos, ignorantes acerca dos problemas uns dos outros e individualista.   Em se tratando dos cristãos, a antiga e salutar tradição do culto doméstico com fim de a família se fortalecer espiritualmente, promovendo consolo e instrução aos seus membros, principalmente as crianças, de há muito foi substituído por outras atividades próprias dos entretenimentos modernos que se instalaram como deuses em nossos lares, aos quais cada membro presta o seu culto isoladamente. A lição de hoje vem discutir o lugar do culto doméstico nos lares modernos, despertar-nos no tocante a importância de voltarmos à prática do culto em família e mostrar os benefícios dele decorrentes e os males de se viver numa família dispersa e alienada da adoração intralar a Deus.

I.  O CULTO DOMÉSTICO
“Nunca se omitia o culto doméstico do programa do dia, no lar de Samuel Wesley”.  
1. Adoração em família. Nos dias do Antigo Testamento, eram prática comum as reuniões familiares, quando os pais ensinavam a Palavra de Deus aos filhos. As crianças eram ensinadas acerca do temor e gratidão devidos ao Senhor e das beatitudes resultantes da obediência à vontade divina. Aliás, todo processo de educação estava centrado no lar, e os pais eram os responsáveis por instruir seus filhos na lei do Senhor. Do que podemos depreender de Deuteronômio 6.6, as reuniões em família para os cultos de ensino eram prática constante nas famílias de Israel, prática que se estendeu por séculos e permeou a história da igreja de Cristo até sucumbir ante os embaraços de nossos dias pós-modernos. No livro Heróis da Fé, Orlando Boyer nos deixa esta pérola acerca da família Wesley que deu ao mundo o grande pregador, pai do metodismo, João Wesley, em cuja vida a influência dos ensinos domésticos da mãe Susana Wesley é inegável:

Nunca se omitia o culto doméstico do programa do dia no lar de Samuel Wesley. Qualquer que fosse a ocupação dos membros da família, ou dos criados, todos se reuniam para adorar a Deus. Na ausência do marido, Susana, com o coração aceso pelo fogo dos céus, dirigia os cultos. Conta-se que, certa vez, quando ele prolongou a ausência mais do que de costume, trinta e quarenta pessoas assistiram aos cultos no lar dos Wesley e a fome pela Palavra de Deus aumentou, a ponto de a casa ficar repleta das pessoas da vizinhança que assistiam aos cultos.

Deus sempre esboçou seu desejo de estar presente no lar, desde o primeiro casal, quando ele aparecia diariamente para desfrutar de íntima comunhão com eles. Passando pela época dos patriarcas, vemos manifestações claras da presença de Deus nos lares de Abraão, Isaque e Jacó. Nos dias de Moisés, havia a ordenança para que os pais instruíssem na lei do Senhor em casa. Os cultos em casa eram frequentes na época da igreja primitiva. Hoje, lamentavelmente, a cultura da adoração no lar foi substituída pela cultura do entretenimento, que nada acrescenta à vida espiritual, mas servem de embaraço e tropeço. A qualquer hora do dia que acessemos qualquer rede social, há centenas de pessoas conhecidas conectadas, crentes, e depois damos a desculpa de que não fazemos culto doméstico porque não temos tempo. 

Mas é claro que entendemos que a maneira como as comunidades se configuravam na época favorecia as reuniões cultuais nos lares, pois não havia templos como temos hoje e não havia tanto entretenimento concorrendo com o espaço devido ao culto. Por isso precisamos ser realistas para sinalizar que a aula não pretende que voltemos a um tempo que não se encaixa mais, porém nos insta a fazer o que ainda dá para fazer.

2. A restauração da instrução doméstica.
“E estas palavras que hoje te ordeno estarão no teu coração; e intimarás aos teus filhos e delas falarás assentado em tua casa (...)”. Dt 6.6,7.

Li em algum lugar que o culto doméstico, além de desenvolver na criança o princípio da adoração a Deus, sedimenta em nossos filhos os verdadeiros valores morais. Por isso a preocupação de Deus nos dias do Antigo Testamento (hoje também) para que os pais não descuidassem da instrução dos filhos. O sábio Salomão já advertia: "Instrui o menino no caminho em que deve andar, e até quando envelhecer, não se desviará dele" Provérbios 22.6. Nestes dias de terceirização da educação dos filhos, vendo os resultados deletérios dessa terceirização na sociedade, com as drogas, a imoralidade, o sexo precoce e as gravidezes indesejadas, faz-se urgente que os pais reassumam a responsabilidade pela educação de seus filhos, a qual começa no seio do lar, principalmente com o ensino sobre a importância se se amar e temer a Deus. E como os infantes aprendem vendo os adultos fazerem, nada mais importante do que incutir na mente deles o amor e a adoração a Deus por meio do culto doméstico.  

3. A prática do culto doméstico e sua importância. O hábito vem pela persistência na prática de alguma coisa. Às vezes precisamos insistir numa prática até que ela vire hábito. São muitos os obstáculos para que não consigamos reservar um momento do dia em nossa casa para a adoração ao Senhor. Mormente nesta sociedade materialista em que as pessoas andam correndo tanto e normalmente estão cansadas. Entre outros obstáculos para a realização do culto doméstico, temos o desencontro de horários dos membros da família que nem sempre estão em casa no mesmo momento, a fadiga excessiva e, de fato, a pouca importância que se dá à vida de devoção em nossos dias. Além de que o espaço para a prática do culto doméstico concorre com concorrentes fortes como os entretenimentos da internet e televisão.  Mas se tomarmos uma posição firme na vida, nós podemos decidir como Josué: “Eu e minha casa serviremos ao Senhor” (Jo 24.15).
O valor do culto doméstico para a edificação de famílias inteiras e vidas em particular pode ser aquilatado nas biografias e relatos empolgantes de grandes vultos da fé, como João Wesley, cujo exemplo já citamos acima. Mas vale a pena ler o relato extraído da página da Assembleia de Deus do Belém em Limeira, posto abaixo.


“Conta-se que um dos mais conhecidos pregadores na história da Inglaterra foi Ricardo Baxter. Quando ainda jovem, foi chamado a pastorear uma grande igreja, cujos membros eram ricos e instruídos. Achou-os todos frios e carnais, e, por isso, ficou desapontado e desanimado. O jovem pregador dizia: O único meio de salvar a igreja e a circunvizinhança é estabelecer a religião nos lares, levantando em cada família um altar. Passou três anos trabalhando, visitando as casas, disposto a estabelecer o culto doméstico em todos os lares. Atingiu nisto um grau admirável, e o ambiente nos lares foi a base do movimento que encheu a igreja de ouvintes e iniciou o glorioso ministério de sua vida. Baxter provou que, para a igreja, o altar familiar nos lares dos membros é indispensável. A família Wesley tinha 19 filhos, mas nunca se acharam demasiadamente ocupados, a ponto de não poderem realizar o culto doméstico. Gozavam de tão grandes bênçãos nestas reuniões, em ler a Bíblia e orar que, às vezes cem vizinhos se congregavam nas divisões da humilde casa, para ajoelharem-se com a família perante o trono de Deus. Eram horas perdidas? Não; muito pelo contrário, eram os alicerces do grande avivamento mundial que acompanhou o ministério do grande pregador João Wesley e seu irmão Carlos que se tornou o hinólogo do movimento Metodista. A importância do culto doméstico e a instrução das crianças é tão importante que Cortland Myers relata que conhecia dois irmãos, que alguns anos depois da morte do pai, resolveram vender a velha casa onde se criaram. Os dois voltaram juntos para ver a casa de novo. Andavam pela varanda, quando um deles parou, e disse: Roberto, não podemos vender a casa. O outro também parou e respondeu: Como é interessante; resolvi a mesma coisa neste instante, quando olhei para esta cadeira e me lembrei como papai se assentava nela e lia a Bíblia, no culto doméstico. É a cadeira que rodeávamos de joelhos, enquanto papai nos dirigia, ao elevarmos a Deus em oração. E, ali, aqueles dois irmãos se ajoelharam ao lado da velha cadeira e arrependeram-se com muitas lágrimas. Saíram de lá salvos e depois sempre viveram para Deus e contribuíram para a sua obra.” http://assembleiadedeuslimeira.com.br/noticia_147.html


II. O CULTO NO LAR 

Como tudo o que vamos fazer na vida, todo processo começa com a firme decisão de que se vai fazer algo. A partir daí, precisa-se estabelecer o dia ou dias da semana e o horário. Deve ser escolhido o momento que seja mais adequado à presença de todos. Os três principais elementos do culto devem estar presentes: oração, louvor e a pregação da Palavra. Outras variáveis do culto acontecerão de acordo com a peculiaridade da família

É possível encontrar todo um esquema montado sobre como realizar bem um culto doméstico, como este extraído do site da Igreja Assembleia de Deus em Quarta Parada:

1. Colocar no coração o propósito de realizar o Culto Doméstico pelo menos uma vez por semana e orar para Deus livrar de todos os impedimentos

2. Escolher o melhor dia e horário onde se possa reunir o máximo possível de pessoas da casa/família.
3. Iniciar o trabalho com uma oração e, em seguida, escolher um  ou dois hinos da Harpa Cristã ou corinhos fáceis de cantar e conhecido de todos.
4. Fazer a leitura de um Salmo ou passagem Bíblica, ou de um livro devocional, como por exemplo, o Pão Diário, encontrado em qualquer livraria Evangélica.
5. Após a leitura fazer um breve comentário sobre o que entendeu e como esta leitura se aplica na vida de todos. Pode ser dada a oportunidade aos outros da família que também desejam comentar brevemente o que entenderam
6. Após a leitura, será iniciada a oração que pode ser dirigida por uma pessoa ou distribuído entre os presentes. Cada membro da família pode fazer seu pedido de oração (pela família, estudos, saúde, trabalho, etc.)
7. Ao término da oração, canta-se outro Hino ou Corinho, com todos de mãos dadas, e se encerra o Culto Doméstico.
Algumas observações importantes:
O Culto Doméstico não pode ser muito longo, principalmente quando houver crianças. Meia hora é o suficiente
No momento da Oração lembre-se que agradecer também é tão importante quanto pedir
Este deve ser um momento prazeroso para todos, e não deve trazer aborrecimentos, brigas ou repreensões.
Se estiver na sala, desligue TV ou rádio; se não puder, vá para o quarto.
http://adquartaparada.org/2012/03/24/como-realizar-um-culto-domestico/

III. BÊNÇÃOS AVINDAS DO CULTO DOMÉSTICO


Veja a seguir dez razões para se praticar o culto doméstico, segundo o pastor Napoleão Falcão.


1. Porque nos dispõe para enfrentarmos as tarefas diárias com um coração mais alegre, torna-nos mais fortes para o trabalho, mais dedicados ao nosso dever e predispõe-nos a glorificar a Deus em tudo que fizermos. Ler Colossenses 3.17.

2. Porque nos dá força para enfrentarmos o desânimo, as decepções, as adversidades inesperadas e as frustrações com que nos deparamos. Ler Hebreus 2.18.
3. Porque nos torna mais cônscios, no decorrer do dia, da presença reconfortante do Deus que nos ajuda a vencer pensamentos impuros e outros inimigos quaisquer, que porventura vierem atacar-nos. Ler Filipenses 4.4-7.
4. Porque o culto doméstico suaviza as asperezas do relacionamento no lar e enriquece grandemente o convívio em família. Ler Efésios 6.1-9.
5. Porque esclarece os mal-entendidos e tende a aliviar as tensões que por vezes invadem o ambiente sagrado do lar. Ler Romanos 12.9-11.
6. Porque o culto doméstico ajuda a manter na fé os filhos que saem de casa, afastando-se da influência dos pais. Na maioria dos casos, é o culto doméstico que mais tarde irá determinar a salvação de filhos de lares crentes. Ler  II Timóteo 3.15-17.
7. Porque ele poderá ter influência sadia e santa sobre as pessoas que possam estar visitando a família. Ler Romanos 14.7-9.
8. Porque o culto doméstico reforça o trabalho pastoral e, além disso, estimula em muito a participação na Igreja. Ler Romanos 15.6-7.
9. Porque o culto doméstico faz de um lar exemplo e estímulo a outros lares, para que tenham a mesma vida de devoção e adoração a Deus. Ler Atos 2.46,47.
10. Porque a palavra de Deus ensina que devemos fazer o culto doméstico. Ao obedecermos a Deus, estamos dando honra àquele que é o doador de todo o bem e fonte de toda a benção. Ler Romanos 12.1,2.

Fonte: www.centraldepregadores.com.br/napoleaofalcao/

Além de tudo o que já se viu sobre razões para se pratica o culto doméstico, por meio deles os membros descrentes podem entregar suas vidas a Cristo, se sabiamente forem convidados a participar.