sábado, 20 de dezembro de 2014

Visão panorâmica do protestantismo brasileiro

Josafá R. Lima

A chegada do protestantismo ao Brasil está primeiramente relacionada aos grandes fluxos migratórios de pessoas vindas da Europa, estimuladas por uma série de questões, mas principalmente políticas e religiosas, que caracterizaram o início do século 15. Com as grandes navegações que caracterizaram o século 15 e as brigas e perseguições religiosas que também tumultuaram a Europa de então, muitas pessoas deixaram sua pátria debaixo de perseguição e carregando seus sonhos de viver em paz numa nova terra, onde pudessem trabalhar, reconstruir suas vidas e professar livremente a sua fé. 

Dentro deste contexto, o Brasil é um país que tem muito para contar, pois, após ser descoberto, por causa de suas riquezas naturais e de suas grandes possibilidades econômicas, habitantes de muitos países Europeus se dirigiram para esta terra, estimulados, em muitos casos pelo próprio governo de sua nação, com fins de explorarem as riquezas brasileiras. Cada um trazia sua fé protestante de seus países de origem. E assim, o Protestantismo foi se espalhando na terra brasileira.

Inicialmente, os protestantes tiveram muita oposição do catolicismo, que era a igreja soberana no Brasil, haja vista que, conta-se, o acesso ao serviço público era negado aos protestantes , bem como o reconhecimento legal ao casamento, por serem atribuições da Igreja Católica, além de que só os mortos católicos tinham direito de ser legalmente sepultados.

As questões políticas continuaram por longos anos a influenciar a disseminação do protestantismo no Brasil, tanto é que em 1824, por causa das restrições feitas pela Inglaterra ao tráfico negreiro brasileiro, houve uma necessidade de se encontrar mão de obra não-escrava que substituísse os negros nas fazendas, foi então que um grande leva de luteranos migrou para o Brasil.

Vale salientar que, na medida em que mais protestantes iam chegando, ainda que por outras razões que não o espírito missionário, certa aceitação ia sendo imposta. Com o passar dos anos, outros protestantes foram chegando, agora já com um objetivo evangelístico-missionário, como o caso do pastor presbiteriano James Cooly Fletcher, enviado pela Sociedade Bíblica Americana em 1851. Posteriormente, acontece também a chegada do casal Robert e Sara Kelly ao Rio de Janeiro, que organizou uma igreja que de à luz o trabalho de ensino que muitos evangélicos consideram a fundação da Escola Bíblica Dominical no Brasil.

Registre-se ainda que em 15 de outubro de 1882 foi iniciado a primeira igreja batista brasileira, em Salvador. Esta igreja foi iniciada a partir de um evangelismo de missão, diferente do protestantismo que chegou por aqui embalado por questões políticas, a partir de movimentos migratórios (evangelismo de migração), que resvalaria paulatinamente  para motivações missionárias.

E enquanto o protestantismo se disseminava lentamente no Brasil, um movimento que os crentes pentecostais de hoje chamam de O Grande Avivamento varria a América do Norte, o Movimento Pentecostal. O Pentecostalismo é considerado uma grande visitação de Deus por aqueles que acreditam que o fenômeno do falar em línguas, como resultado do batismo com o Espírito Santo, conforme aconteceu em no capítulo 2 do livro de Atos, é para os crentes de todos os tempos, ou seja, acreditam na atualidade do batismo com o Espírito Santo.

O Movimento Pentecostal começou a espalhar suas influências por lugares distantes, haja vista que dois missionários suecos, Daniel Berg e Gunnar Vingren, que experimentaram o avivamento em terra norte-americana, vieram ao Brasil em 1910 e começaram, no estado do Pará, o que se considera hoje o início do Pentecostalismo no Brasil.

O Pentecostalismo pareceu se adaptar bem a realidade brasileira, começou a atingir pessoas e regiões que dificilmente as igrejas tradicionais conseguiriam, houve muitas discórdias entre os tradicionais e pentecostais. Algumas igrejas tradicionais importantes começaram a perceber que o Pentecostalismo era uma tendência e precisavam, portanto, fazer algumas mudanças nas suas liturgias para, de alguma maneira, “fazerem frente a este movimento”, isso foi muito importante para a rápida disseminação do evangelho no Brasil.


Alguns aspectos positivos e negativos

          O protestantismo brasileiro, abrangendo tanto os protestantes tradicionais como os pentecostais e neo pentecostais, é hoje uma força que, de há muito já saiu das fronteiras religiosas e descambou para um movimento político-social que tem influenciado todas as áreas da nação brasileira. Vejo isso como algo, até certo ponto, positivo, pois uma nação precisa de uma consciência moral oriunda da fé professada pela maioria de seus cidadãos. O ponto negativo é que o nosso protestantismo, desde que foi importado da Europa e, posteriormente, dos Estados Unidos, como Movimento Pentecostal, não conseguiu ainda se despir da roupagem que recebeu daquelas nações e continua sendo um protestantismo à moda americana. Uma grande necessidade da igreja brasileira é responder, em matéria de fé, às questões de nosso povo, de acordo como a nossa realidade. 

         Em relação ao Movimento Pentecostal, é o grande responsável por este boom dos evangélicos no Brasil. Hoje somos um número consideravelmente grande, e não seria assim se dependêssemos sempre da maneira tradicional de vivenciar a fé das igrejas tradicionais. Outrossim, o Pentecostalismo deu o ponto de partida para um evangelho mais adaptado à nossa realidade, porém, com o passar do tempo, acabou resvalando para outro extremo: com seu grande poder de adaptação e absorção das culturas regionais, deu à luz movimentações estranhas aos padrões bíblicos, com a cara dos cultos afrodescendentes, além de se de adaptar-se demais ao capitalismo selvagem de nossos tempos, criando uma mercantilização da fé. Hoje, é a grande crítica que se faz a este movimento.


Para finalizar , vale uma palavra sobre a importância dos batistas. Sua origem aqui no Brasil, desde a igreja fundada na Colônia de Santa Bárbara, a partir dum evangelismo de imigração, passando mais tarde pela igreja em Salvador, e toda a sua história de dedicação ao evangelismo em solo brasileiro, sua ênfase no ensino teológico, tudo isso tem um poso enorme no estabelecimento e crescimento do Protestantismo no Brasil. Além de que, é bom não esquecer, que a história do Pentecostalismo no Brasil passa obrigatoriamente pela igreja batista.