sábado, 31 de outubro de 2015

O PACTO DO CASAMENTO

O nosso esforço deve ser por um pacto matrimonial/ que dure a vida inteira,/ e dure prazerosamente/ apesar das dificuldades que, sem dúvida, surgirão.

1. Pacto matrimonial (um conceito mais elevada do casamento).
A palavra pacto (cortar) representa uma ocasião séria na qual as partes selam sua promessa no meio de um ato de dilaceramento de animais que envolve sangue, e tem embasamento bíblico-histórico no pacto firmado entre Deus e Abraão (Gn 15).

Na Bíblia, Deus escolheu a expressão pacto como um modo especial de demonstrar promessas inabaláveis. É, portanto, muito esclarecedor o fato de que Ele tenha vinculado o pacto ao casamento.

O pacto matrimonial original foi alcançado quando Deus casou o primeiro casal, Adão e Eva. Então a importância que Deus deu ao fato de um homem e uma mulher manterem fidelidade um ao outro por toda vida é um tema recorrente em todo o Antigo Testamento. Deus estava criando, ainda no Éden, o modelo primeiro e último, e o mais adequado, do que seria o seu relacionamento com o seu povo, dentro de um modelo pactual, de corpo e alma, isso primeiramente com Israel (Os 2.2,20; Is 54.5; Ez 16.8-14), e depois entre Cristo e a igreja (Ef 5.25-27). Isso é muito sério. O relacionamento de Deus com o seu povo é um envolvimento de almas, ilustrado pelo casamento. Será que a gente pensa nisso quando casa? Imagina! Enquanto namoramos, estamos apaixonados demais, ou pressionados demais para pensar nessas coisas. No dia do casamento, estamos exaustos e ansiosos demais para pensarmos nas palavras pactuais pronunciadas pelo celebrante. A preparação da festa, a roupa da nova, o salão, os convidados etc. A cerimônia ocorre rápido, muitas delas não enfatizam um pacto, mas apenas um acordo.

2. Um pacto que dure a vida toda.
Ao escolher alguém para se casar, a pessoa está escolhendo aquele ou aquela que passará toda a vida ao seu lado, pois o casamento, na ótica de Deus, é indissolúvel (Mt 19.4,6; Lc 16.18). Por isso, os cônjuges devem zelar bem do relacionamento, tendo sempre o casamento em alto conceito. 


2.1 O fantasma da possibilidade de separação enfraquece a aliança.
Nós não conduzimos nossa relação matrimonial dentro de uma possibilidade de rompimento. Portanto, nos momentos de tensão, nosso esforço deve correr sempre no sentido de resolver e superar, por mais difícil que pareça ser.
Todo casamento cujos membros têm a consciência permeada pela possibilidade de separação tem grandes chances de não dar certo, porque cada um dos cônjuges, nas horas de tensão, vai enxergar o fim do relacionamento como uma possível saída, boicotando as medidas corretas, e às vezes amargas, para pôr fim à crise. Ficam sempre em cima do muro e nunca tomam a real decisão de serem felizes a qualquer custo.   
Muitos dos desgastes que acontecem nos casamentos acontecem porque os cônjuges trabalham, consciente ou inconscientemente, com a ideia de que se não der certo, a fila anda, como se um pacto pudesse se desfazer facilmente. 
Por outro lado, quando os cônjuges têm um alto conceito da importância do casamento e decidem que vão superar quaisquer intempéries, são movidos a buscar todos os recursos disponíveis para salvar o que nunca deveria ter sido posto em risco. 

2.2 Renovação pontual da aliança
          A aliança matrimonial é a figura perfeita usada pela Bíblia para ilustrar a aliança entre Deus e seu povo. E da mesma forma que Deus costumava renovar frequentemente o pacto firmado com Israel (Gn 12, 15,16; Dt 29.1-29), numa prevenção contra a memória curta e o desgaste do tempo, o pacto matrimonial precisa ser periodicamente renovadoA prática de renovação de aliança matrimonial está em ascensão atualmente. Várias celebridades têm reafirmado a lealdade ao parceiro em festas pomposas com direito a todos os rituais próprios do casamento, o que vejo como algo muito positivo. 
          Aos que não dispõem de tanto recursos, poder-se-iam aproveitar datas especiais, como o aniversário do casamento, para renovar a aliança e relembrar compromissos.
Sou a favor de que haja memoriais em cada canto estratégico de nosso espaço para nos lembrar de nosso pacto matrimonial. Num lugar bem destacado da casa ou do escritório, um quadro com uma fotografia dos noivos no memento solene do matrimônio, bem como das testemunhas, como a olharem em nossa direção exigindo de nós o cumprimento das promessas firmadas no altar. No lugar onde eu passo maior parte do tempo em minha casa tem uma fotografia minha ao lado de  minha esposa com a frase que colocamos no nosso convite de casamento há treze anos. Toda vez que olho para aquele quadro na parede, lembro-me de que jurei fidelidade eterna a uma mulher, isso assombra os fantasmas da possibilidade de rompimento. 

3. Que dure prazerosamente.

Toda aliança matrimonial deve começar com a firme decisão das partes de que terão um casamento saudável e feliz, e este é o passo mais importante para ser feliz no casamento. Porque casamento feliz não é fruto do acaso. Casamento é uma instituição que, como qualquer relação na vida, precisa de investimento. 

Começa com uma entrega voluntária ao outro. Porém vale uma observação: quando eu me entrego ao outro, em entrego aquilo que sou e tenho. Portanto um casal feliz pressupõe que cada um dos parceiros é o responsável direto pela própria felicidade e vai compartilhar isso com o outro.

3.1 Investir em novidades (contra a rotina). Investir em novidades no casamento não significa fazer uma coisa nova toda semana. Deste modo, as novidades viram rotinas. Mas significa investir em novidade com qualidade.

3.2 Investir numa vida sexual plena e prazerosa (contra os tabus do sexo).
Com o tempo, a qualidade conta mais que a quantidade.
Os limites nas fantasias e criatividade sexuais devem ser traçados pelo bom senso, pelo consenso e pela consciência.

4. Apesar das dificuldades que, sem dúvida, surgirão.

A gente já sabia que elas viriam. E elas se originam em alguns elementos.
4.1 De nossas indiferenças individuais.
Cada pessoa é única e carrega manias e vícios que vão irritar a outros. Algumas coisas não mudam, porque estão arraigadas na personalidade. O segredo é aprender a viver.
4.2 De nossas diferenças de gênero
4.3 De nossas frustrações. As fantasias iniciais dão lugar à realidade.

O que as mulheres não devem esperar dos homens
►Que ele saiba ouvir como se fossem suas amigas. 
►Não deem soluções precipitadas ou não ofereçam conselhos que não foram pedidos.
►Tenham uma sensibilidade parecida e deem importância às coisas que são fundamentais pra elas.
►Reparem nos detalhes, lembrem-se de datas e surpreendam as mulheres com propostas criativas.
►Sejam capazes de não interpretar literalmente o que as mulheres dizem e saibam captar as emoções de sua comunicação não verbal.
►Não interrompa à mulher quando ela fala.
►Não reajam mal quando estiverem fazendo alguma coisa e as mulheres lhe fizerem perguntas ou lhe pedirem ajuda em uma tarefa específica de casa.
►Que os homens gostem de fazer compras.
►Não seja um sexo maníaco.

O que os homens não devem esperar das mulheres
►Sejam diretas quando falam, sem se perder nos detalhes.
►Façam uma coisa de cada vez, quando a sua natureza lhes permite realizar várias tarefas ao mesmo tempo eficientemente.
►Saibam que eles não são bons conversadores e que não queiram falar com ele quando chegam em casa.
►Deixem de ser românticas e se mostrem pragmáticas nas relações afetivas.
►Respondam sexualmente da mesma maneira que eles.
► Não goste de fazer compras, falar de roupas, moda, etc.
        
5. UM PLANO

●Precisamos investir no casamento (dinheiro, tempo, comunicação).
●Precisamos ter uma opinião elevada do pacto matrimonial (contra a banalização).
●Pôr o casamento no lugar certo na escala de prioridades da vida (contra a inversão de valores).
●Que posição seu casamento ocupa na sua lista de prioridades?
●Ter uma opinião elevada significa avaliar quanto vale para você seu casamento ou seu parceiro. E avaliar significa comparar com as outras coisas. Qual é a real importância de seu casamento para você?
Comparando com o seu trabalho, carro, carreira, ministério, amigos, qual a posição que seu casamento ocupa? Muitas pessoas vivem uma contradição muito grande entre o que dizem sobre o seu parceiro e a maneira como trata seu parceiro (dar o exemplo da amiga).

●Investir em comunicação

     Nas entrevistas terapêuticas, descobre-se com frequência que o problema conjugal está na ordem invertida das prioridades estabelecidas, constatando-se que a família nunca esteve no topo dessa ordem. O seu cônjuge deveria ser o que você tem de mais importante na vida!

     Quanto vale a sua família? O que o seu cônjuge significa para você? Será que algum sucesso, em qualquer área da vida, justifica o sacrifício de sua família? O que mais poderia assumir o topo das prioridades de uma pessoa do que essa instituição sagrada de cuja saúde depende uma sociedade saudável?Toda escolha que eu for fazer, preciso usar o meu casamento como parâmetro e perguntar se vai ser bom ou prejudicial a ele.  

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

VISÃO PANORÂMICA DO PENTECOSTALISMO

Josafá R. Lima

Natureza do pentecostalismo.

O pentecostalismo é o movimento de ordem religiosa que mais cresce em todas as partes do mundo. Só no Brasil, somam cerca de 25 milhões de pentecostais, o que faz deste país o mais pentecostal do mundo. (Oliveira, 2013). O que caracteriza o pentecostalismo é a crença de que o falar línguas estranhas (glossolalia), fenômeno ocorrido com os discípulos de Jesus no dia de Pentecostes (At 2), sempre esteve a disposição dos crentes de todos os tempos, inclusive os de hoje. Não só o batismo com o Espírito Santo, mas também os dons do Espírito, catalogados por Paulo no capítulo 12 de sua primeira carta aos coríntios, estariam ainda hoje em evidência na vida da igreja de Cristo.
Diferentemente dos protestantes históricos, que defendem a ideia cessacionalista (a concessão do batismo e dons do Espírito Santo aos crentes se restringiu aos dias dos apóstolos), acreditam que Deus continua a agir, por meio de seu Espírito, da mesma forma que agia na igreja primitiva, batizando crentes com o Espírito Santo, curando enfermos, expulsando demônios, distribuindo dons e bênçãos espirituais, realizando milagres, dialogando com seus servos, interferindo na história e concedendo evidências gritantes de seu supremo poder no mundo e negócios dos humanos.
      As manifestações desses sinais fazem com que os cultos da maioria dessas igrejas sejam muito barulhentos e movimentados, com saltos, danças, giros, sapateados, carreiras, choros, risos, levantar de mãos, bater de palmas e emissões de sons ininteligíveis. Os pregadores normalmente mostram uma eloquência que parece de ordem sobrenatural na pregação, ministração de curas, exorcismo e declaração de bênçãos. Em casos mais extremos, acontecem arrebatamentos de sentidos e êxtases. Isso faz com que os pentecostais sejam conhecidos como povo barulhento e criticados por alguns seguimentos do cristianismo histórico, alguns chegando mesmo a comparar as manifestações pentecostais com fenômenos ocorridos em trabalhos religiosos afrodescendentes.

Origem do Pentecostalismo.

      O Pentecostalismo como um movimento religioso mundial estende raízes ao evento histórico do Dia de Pentecoste (Atos 2), porém com conotações bem diferentes daquele evento original. Este movimento barulhento que hoje vemos tem relação com o avivamento que varreu a América do Norte no século 19 e teve sua maior expressão no histórico Avivamento da Rua Azusa, tendo como elemento determinante em suas características atuais a presença dos negros e das mulheres (Oliveira, 2004).
     Finda a evangelização do mundo da primeira igreja, com a oficialização do Cristianismo como religião do império romano, houve o arrefecimento das manifestações como alegadas por pentecostais. A igreja começou a se envolver em controvérsias teológicas e escanteou a doutrina do Espírito Santo. Com exceção de fagulhas isoladas de manifestações pentecostais que aconteciam algures, a igreja passou toda a Idade Média desprovida desta experiência. Somente no final do século 18 e início do século 19, um grande movimento fez surgir o movimento pentecostal como nós o conhecemos hoje, o qual por algum tempo se restringiu aos limites das fronteiras norte americanas até que ganhou proporções mundiais a partir do histórico Avivamento da Rua Azusa.

A importância do Movimento da Rua Azusa.

      As manifestações espirituais ocorridas na Rua Azusa entre 1906 e 1913 foram tão intensas e tiveram tanta repercussão que se tornou um referencial histórico conhecido como O Avivamento da Rua Azusa. Em Azusa street, em um edifício quadrangular, outrora um depósito de cereais, homens e mulheres começaram a se reunir, sob a liderança de W. J. Seymour, para interceder pelos pecadores e clamar por um avivamento (Conde, 2000).
      Em resposta às orações dos que ali se congregavam, conta-se que os crentes começaram a ser batizados com o Espírito Santo, os quais falavam em outras línguas, chamando a atenção da imprensa local, por se tratar de uma novidade na época. Um repórter do Los Angeles Times foi enviado a Azusa para reportar o que estava acontecendo. A matéria que escreveu tornou-se uma semente em solo fértil. Informados sobre o movimento, outras pessoas começaram acorrer ao local, alguns desejosos de experiências mais profundas com o Divino, outros eram apenas curiosos. (Araújo, 2007, p. 605).
      Convém atentar para o fato de que o movimento da Rua Azusa tinha a cara daqueles que o começaram. Era um pequeno grupo de afrodescendentes que, sob o suposto poder de Deus, provocava barulhos eletrizantes e estridentes. Ressalte-se o fato de que começou com um pequeno grupo de crentes afro americanos, expulsos da Primeira Igreja Batista de Los Angeles, liderados primeiramente por uma mulher, depois por um humilde pregador, filho de ex-escravos, sem cultura, com limitados dotes de oratória e cego de um olho. Podemos mesmo afirmar que a igreja pentecostal tem uma “origem negra”.

Uma observação cuidadosa permite notar que tanto o pentecostalismo americano quanto o brasileiro abraçaram o povo mais carente – e, como consequência, o povo negro. É importante perceber que, nas várias denominações do pentecostalismo clássico no Brasil, a participação de negros desde sua origem é uma característica marcante. Muitos negros tiveram atividades importantíssimas na formação de várias igrejas, ou mesmo de denominações pentecostais em seus diversos segmentos. (Oliveira, 2004, p. 30).
Citando W. Hollenweger, Florêncio Galindo diz que o pentecostalismo clássico é produto do encontro entre uma espiritualidade especificamente católica e a espiritualidade protestante dos antigos escravos negros do sul dos Estados Unidos. (Oliveira, 2004, p. 26).

A alegria, a irreverência e a extroversão dos negros deram de alguma maneira o tom estridente e barulhento do Movimento Pentecostal. Era o tempo da discriminação racial no sul dos Estados Unidos, e o professor de Seymour era simpatizante deste sistema, permitindo que seu aluno negro assistisse suas reuniões somente no corredor ao lado da sala onde as aulas aconteciam. Como se pode ver, o movimento tem forte influência do negro desde sua origem.
Se imaginarmos que se tratava mesmo de uma ação divina, o interesse da Divindade pode ter sido usar pessoas de costume festivo, que sob a influência deste poder, provocasse barulhento eletrizante, a fim de atrair a atenção de todos para o que estava acontecendo ali. A graciosidade e espírito festivo dos negros eram indispensáveis.
      Ao chegar ao Brasil em 1910, não foi diferente, a mensagem pentecostal encontraria terreno fértil numa nação formada em grande parte por pessoas afrodescendentes, índios, negros e mulatos, de maioria pobre. Alderi de Matos aponta dentre as razões da expansão pentecostal na América Latina, as vicissitudes históricas da obra evangelística e pastoral católica, o limitado trabalho das denominações protestantes, o misticismo das culturas ibero-americanas, os graves problemas econômicos, políticos e sociais. Ou seja, o pentecostalismo vai proliferar a partir da ineficiência de igrejas históricas, dos graves problemas econômicos e sociais, do misticismo característico de nosso povo e de seu caráter festivo. Inicialmente o crescimento se dá lentamente, até que estoura a partir da década de 50.
      Outrossim, como observado por Oliveira (2004), o pentecostalismo que, diferentemente das igrejas protestantes históricas, surgiu do avivamento iniciado por um negro e filho de escravos, ao chegar ao Brasil vai se aproximar dos mais pobres e negros.
Oliveira (2004) esclarece que no Brasil os negros fizeram opção pelo Pentecostalismo, haja vista que a maioria dos negros evangélicos participa do Movimento Pentecostal.  Entre outras razões para a adesão dos negros ao Pentecostalismo, Oliveira cita a religiosidade do negro e o espírito festivo deste.

A primeira dela, embora não hereditária, mas que salta aos olhos, é a religiosidade do negro. Após sofrer todas as atrocidades possíveis no tempo da escravidão, a raça negra no Brasil conseguiu manter uma relação com o sagrado diferente das outras raças imigrantes no país.
[...] a comunidade negra manteve-se coesa na religião. Essa religiosidade tende a ser mais participativa por não se sustentar apenas em conceitos de uma teologia abstrata e metafísica – uma religiosidade na qual a fé torna-se real também pelo fato de o negro ter, em sua negritude e origem, uma relação com a natureza que o faz perceber a ação de Deus em todas as instâncias da vida e do cotidiano. (p. 50).
A outra característica da comunidade negra que favoreceu sua identificação com o Movimento Pentecostal é a espontaneidade e alegria, traduzidas no carisma. Esse é um traço fundamental da negritude. O negro é espontâneo e alegre. O carisma do negro se revela no jeito de ser povo, no modo de viver, sobreviver, dançar e sorrir. (ps. 51,52).

Por falar em caráter festivo e uso do corpo como forma de expressão, é pertinente citar que foram os negros que legaram ao mundo estilos musicais como o rep, o breake e o samba. Ademais, a história dos negros que vieram para o Brasil está intrinsecamente ligada à religiosidade que enfatiza a dança, os ritmos, o batuque e a sensualidade (Oliveira, 2004). Não há, pois, como separar sua cultura de seus rituais religiosos, uma vez que o corpo é muito utilizado nas religiões afro, e não há como estes negros migrarem para outras religiões, como o cristianismo, e não afetá-las com sua cultura e gingado. Por isso que dizemos que muito dos movimentos que ocorrem nos cultos pentecostais, mormente nos êxtases, tem a ver com a influência da cultura negra, talvez por isso haja similitude entre alguns trejeitos dos cultos pentecostais e dos movimentos cultuais afrodescendentes.
Nossa teoria é a de que a influência vem de fontes diferentes, mas a reação ao pode é de ordem cultural.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Sacrifício aos ídolos

Josafá R. Lima

Em resposta aos irmãos que quiseram saber se podiam participar de festas de pessoas de outras religiões e se deveriam comer as comidas de natureza e origem duvidosas.

“As coisas que os gentios sacrificam, as sacrificam aos demônios e não a Deus. E não quero que sejais participantes com os demônios” (1 Co 10.20).

     Entre os vários problemas que dividiam a igreja de Corinto estava a questão das coisas sacrificadas aos ídolos. Havia muitas controvérsias entre os irmãos daquela igreja, formada por judeus e gentios, sobre se era ou não correto participar das refeições nas festas pagãs, ou então comer a carne que, antes de ser posta à venda no açougue, passava pelas cerimônias religiosas dos pagãos como oferta aos seus deuses. A fim de dirimir as dúvidas concernentes a este assunto, a liderança daquela igreja comunica a situação ao apóstolo Paulo através de uma carta e lhe pede instrução. O apóstolo dos gentios vai esclarecer as dúvidas dos irmãos nos capítulos oito e dez de sua primeira epístola àquela igreja, o que é o assunto de nossa avaliação e apreciação neste texto. Objetivamos explicar o ensino bíblico sobre os ídolos, descrever os costumes pagãos da época e admoestar os santos a se guardarem da idolatria e das festividades pagãs.


1. CONCEITUAÇÃO DE “ÍDOLO”

     O termo grego para “ídolo” é eidõlon e significa primariamente fantasma ou semelhançaideia ou imaginação. O emprego de eidõlon no Novo Testamento denota uma imagem que representa um falso deus (At 17.41; 1 Co 12.2) ou o falso deus adorado numa imagem (At 15.20; Rm 2.22). Os vocábulos hebraicos correspondentes são ’elîl (vaidade, futilidade, coisa de nada - Lv 19.4; Jr 14.22; 18.15), teraphin (ídolo, ídolo do lar, máscara cultual, demônio, símbolo divino – Gn 31.19; 1 Sm 19.13; Jz 17.15), gillûlîm (ídolos, originalmente tem o significado de “pelota de esterco” – Lv 26.30). Sendo assim, o que para os pagãos era uma divindade, para Paulo significava uma coisa vã (At 14.15), nada no mundo (1 Co 8.4; 10.19) e objeto de sarcasmo para Isaías (Is 44.9-20), Habacuque (Hc 2.18,19) e o salmista (Sl 115.4-8).

     No uso comum, a palavra ídolo significa (1) estátua, figura ou imagem que representa uma divindade e que é objeto de adoração; (2) Objeto de grande amor ou de extraordinário respeito; (3) pessoa a quem se dedica grande adoração ou admiração. Teologicamente, qualquer objeto, pessoa, instituição ou ambição que tome o lugar devido a Deus no coração humano é um ídolo.

     No Antigo Testamento, os ídolos ou deuses das nações pagãs eram abundantes e representavam uma ameaça constante à pureza e santidade do povo de Deus. Numa época predominantemente mitológica, quando tudo o que acontecia tinha uma justificativa na vontade dos deuses, cada nação pagã tinha o seu panteão, deuses pra tudo quanto era gosto, os quais eram representados por imagens. Entre os mais conhecidos, estavam Astarote - deusa dos fenícios (Jz 2.13), Baal – deus das tribos cananeias (1 Rs 16.32), Baal Peor, Moloque e Camos – deuses dos moabitas (Js 22.17), Dagom – deus dos filisteus (Jz 16.23). Além desses deuses patronos das nações, havia outros objetos de adoração, como o bezerro de ouro feito por Arão (Ex 32.4), o bezerro de ouro de Jeroboão (1 Rs 12.28), os corpos celestes (Dt 4.19) e os terafins (Gn 31.19). A adoração a essas divindades envolvia um sangrento sistema de sacrifícios realizados nos altares e templos idólatras (1 Sm 5.2; 1 Rs 16.32), nos lugares altos e nos postes-ídolos (Nm 22.41; Dt 12.2).

     No Novo Testamento, os ídolos não representavam mais um laço para os judeus, cristãos ou não, pois estes foram totalmente libertos da propensão à idolatria no histórico Cativeiro babilônico (ver Is 2.18; 31.7). A preocupação eram os gentios recém-convertidos á fé cristã. Nos dias de Paulo, o ambiente não era menos idólatra que os dias do Antigo Testamento. Os gregos tinham um vasto panteão, com deuses que representavam as mais diversas paixões humanas. Os romanos por sua vez, ao conquistarem o mundo de então, adotaram muitas das divindades gregas, às quais prestavam cultos e sacrifícios naqueles dias. Benjamim Scott (1923) relata que, com as suas armas, Roma levava seus deuses a outras nações e promovia-lhes cultos e, por conveniência política, adotava deuses de nações conquistadas e os agregava ao seu panteão. Prestava-se culto aos deuses que habitavam o monte Olimpo - Júpiter, Marte, Mercúrio, Netuno, Baco, Vulcano, Juno, Vênus e outros que eram os advogados da guerra, do roubo, do deboche e da embriaguez. Adorava-se a reis divinizados juntamente com deuses estrangeiros, bem como a semideuses que presidiam a países, cidades, rios, estações e colheitas. Todo este sistema idólatra era irrigado pelo sangue de incontáveis sacrifícios, de sorte que era difícil desassociar a carne que se comprava no açougue dos sacrifícios dedicados aos deuses.

     É de suma importância atentar para o fato de que os gentios crentes vinham de uma história longa de envolvimento com muitas dessas divindades, como também uma forte identificação com os cultos prestados a elas. Por isso, na assembléia de Jerusalém, ficou decidido que os crentes deveriam abster-se da carne sacrificada aos ídolos.


II. O PANO DE FUNDO DA QUESTÃO EM CORÍNTIO

     O antigo sistema de sacrifício era o centro da vida doméstica, social e religiosa do império greco-romano do primeiro século. Os sacrifícios cruentos, oferecidos indiscriminadamente a uma multidão de ídolos, eram normalmente acompanhados de uma cerimônia religiosa, quando o alimento que sobrava dos sacrifícios eram consumidos em casa ou no templo. Boa parte, porém, era enviada ao mercado para ser vendida, conforme podemos constatar em 1 Co 10.25. De acordo com o Novo Dicionário da Bíblia (1962, p 733), era comum, naquela época, pessoas convidarem amigos e parentes para refeições, tanto no templo como em casa particular. Não era algo que acontecia esporádica e isoladamente, ou mesmo que fosse privativo da vida religiosa, era uma cultura geral, até porque a religiosidade era o ponto central das sociedades antigas. Tais aspectos da vida social representavam três grandes desafios para os novos crentes, sendo o primeiro o fato de, como cidadãos, terem amigos e parentes que também os convidavam em algumas ocasiões para as festas e refeições, tanto em suas casas como em locais públicos. E a frequência aos festivais públicos, inaugurados com adorações e sacrifícios pagãos, significava muito na situação socioeconômica do indivíduo. Todavia, aceitar tais convites significava “sentar à mesa, em templo de ídolos” (Co 8.10).

     O segundo desafio para os crentes meditativos de Corinto era que, não só o participar das festas pagãs, mas até mesmo as compras diárias no mercado constituía-se em um problema, uma vez que muito da carne posta à venda poderia ter passado pelas mãos dos sacerdotes dos templos para as mãos dos açougueiros. E o pior: normalmente era a melhor carne posta à venda, visto que vinha de animais sem defeito, uma exigência do sistema de sacrifício. E isso propiciou o levantamento da questão, entre os cristãos, sobre se a dona de casa crente tinha a liberdade de comprar tal carne.

     O terceiro desafio era a questão dos pobres, para quem os banquetes gratuitos, oferecidos nos recintos dos templos, eram a tábua de salvação. Sendo a igreja de Corinto   constituída por pessoas das mais diversas classes sociais (1 Co 1.26), ricos e pobre, gentios e judeus, imagine as controvérsias que essa situação deve ter causado.

     Dois grupos, duas opiniões. A questão da carne oferecida aos ídolos dividia a igreja de Corinto em dois grupos: o primeiro era o grupo “forte”, cujos crentes apresentavam a liberdade cristã (6.12; 10.23; cf 8.9) e um suposto conhecimento superior sobre os ídolos (8.12) para defenderem a idéia de que não havia nenhum mal na aceitação de um convite para participar de uma refeição religiosa, muito menos no fato de o alimento, anteriormente dedicado no templo, ser comprado e consumido. Alegavam ainda que a refeição tomada no recinto do templo não passava de uma ocasião social e, para eles, não tinha nenhuma significação religiosa. Outrossim, parece que era expressão corrente entre eles – o que reforçava sua posição - que “o ídolo, de si mesmo, nada é no mundo, e que não há senão um só Deus”, conforme podemos ver no cap 8.4 (esta citação de Paulo parece ter sido tirada da própria carta que os coríntios lhe enviaram).

     O segundo era o grupo “fraco” (8.9; ver Rm 15.1), que se opunha terminantemente ao primeiro. Aborreciam qualquer suspeita de idolatria e acreditavam que por trás dos ídolos estavam os demônios, os quais exerciam influência maligna sobre os alimentos, e assim os contaminavam, tornando-os impróprios para o consumo (8.7; ver At 10.14). Parece mesmo que alguns chegavam, em seu escrúpulo, até a ponto de dizer que não era próprio comer nenhuma carne, para se evitar qualquer risco de comê-la contaminada (cf Rm 14.2,3).

     Paulo responde às questões. Paulo, em sua resposta, lembra-lhes que existe somente um Deus verdadeiro, e que, portanto, o ídolo nada é no mundo. Porém ressalta que existem os chamados deuses e senhores que exercem influência demoníaca no mundo, mormente sobre o sistema de sacrifício pagão. Para nós, todavia, que reconhecemos o único Deus, nosso único Senhor, o poder desses demônios foi eliminado pela cruz de Cristo; sendo assim, não haveria razão para os coríntios continuarem escravizados pelos mesmos (cf Cl 2.15, 16; Gl 4.3,8,9). O apóstolo afirma ainda que o manjar, em si mesmo, não representa mal algum, seja lá de que procedência for: “se comemos, nada temos de mais, e, se não comemos, nada nos falta” (8.8), o que ratifica as palavras de Jesus, segundo quem “o que contamina o homem não é o que entra na boca, mas o que sai da boca, isso é o que contamina o homem” (Mt 15.11). É sabido, porém, que boa parte dos crentes de Corinto desconheciam a liberdade que há em Cristo, e tinham consciências fracas, que não deviam ser ultrajadas por ações imprudentes dos outros crentes que viviam a liberdade do evangelho. Então Paulo não vai responder às perguntas dos crentes de Corinto usando como critério a legalidade ou não do ato, mas baseado na lei do amor e abnegação. Conforme comentário da Bíblia de estudo pentecostal, “abnegação significa limitar nossa própria liberdade e deixar de lado todas as atividades questionáveis, a fim de não ofender ou enfraquecer as convicções sinceras de outros cristãos que se consideram firmados em princípios bíblicos” (p 1747, nota: 18.1). Este princípio deveria nortear os cristãos de todos os tempos, ser aplicado em qualquer atividade que seja questionável e possa levar outros crentes a pecarem e arruinarem sua vida. E isso implica dizer que, apesar de sermos livres, temos o dever de usar a nossa liberdade com responsabilidade. “Mas vede que essa liberdade não seja de alguma maneira escândalo para os fracos” (8.9).

     Nos capítulos nove e dez da carta em apreço, Paulo apresenta dois exemplos eloqüentes, um positivo e outro negativo, para em seguida retomar o assunto da carne sacrificada aos ídolos (10.14). Primeiro ele se apresenta como exemplo de abnegação, pois abriu mão de seus direitos pessoais de apóstolo para não pôr impedimento ao progresso do evangelho (9. 12), como também abriu mão da própria liberdade em consideração às convicções dos outros (ver Rm 14.15-21), para ganhá-los para Cristo: “Porque, sendo livre para com todos, fiz-me servo de todos para ganhar ainda mais...” (v 19ss). No segundo caso, ele cita o povo de Israel como exemplo negativo, o qual, por entrar pelo caminho da idolatria, pereceu no deserto (10.1ss). Após citar esses dois exemplos, Paulo arremata dizendo que tudo isso foi deixado para aviso nosso (10.11).

     A partir do versículo 14 (cap 10), o apóstolo dos gentios volta à questão da carne sacrificada aos ídolos, advertindo de forma séria os crentes sobre o perigo da idolatria. Ele faz uma comparação entre a comunhão dos santos com Cristo, mediante a Santa Ceia, e a comunhão dos pagãos com os demônios, mediante os rituais de sacrifício aos ídolos, considerando que, assim como a nossa participação na Mesa do Senhor implica em nossa comunhão no corpo e no sangue de Cristo, a participação deliberada dos pagãos nas festas idólatras implicava em sua comunhão com os demônios, os quais, segundo o mesmo apóstolo, estavam por trás de todo o sistema de sacrifício pagão (v 20). Paulo fecha esta advertência, observando que não se pode beber o cálice do Senhor e dos demônios, ou então, não se pode participar da mesa do Senhor e da mesa dos demônios (v 21). Como dissera o Mestre: “Não se pode servir a Deus e a Mamom” (Mt 6.24).

     Com base nas proposições acima, Paulo proíbe terminantemente os crentes de Corinto de freqüentarem os banquetes idólatras: “não quero que sejais participantes com os demônios” (v 20).
No tocante ao alimento anteriormente oferecido no templo e depois posto à venda, Paulo se vale de outro postulado para responder aos coríntios. Ele recorre ao salmo 24 para dizer que a terra é do Senhor e toda a sua plenitude. Por isso todo o alimento dedicado no templo e, posteriormente, posto à venda no mercado, podia ser livremente comido em virtude de ser criação de Deus (ver 1 Tm 4.4,5). O conselho de Paulo parece diferir ligeiramente das regras cerimoniais rabínicas, como também do conselho apostólico em At 15.28,29, e se traduz numa aplicação prática da instrução dada por Jesus em Mc 7.19, 20: “Não compreendeis que tudo que de fora entra no homem não o pode contaminar, porque não entra no seu coração, mas no ventre, e é lançado fora, ficando pura todas as comidas?”

     Todavia, a liberdade para comer de tudo, segundo a instrução de Paulo, deve ser delineada pela lei do amor. Isso significa que a própria liberdade do crente para consumir qualquer alimento deve ser posta de lado se a consciência de um irmão mais fraco, por esse motivo, correr o risco de ficar danificada e assim ser levado a tropeçar (10.32. Parece ter sido esse o motivo da proibição no concílio de Jerusalém, conforme At 15.28,29). Essa advertência se insere apenas na situação de um crente ser convidado para participar de uma refeição idólatra em uma casa particular. Neste caso, o crente pode comer de tudo o que se puser sobre a mesa sem, todavia, perguntar qual a procedência do alimento (10.27). Entretanto, se algum indivíduo pagão comunicar ao crente que o alimento sobre a mesa foi oferecido em sacrifício, deve ser imediatamente rejeitado, não porque esteja contaminado e vá causar algum mal ao consumidor, mas porque, caso coma, o crente confundirá a consciência dos outros, porá tropeço em seu caminho e causará escândalo (10.28,32). Veja o comentário da Bíblia de estudo pentecostal sobre o dever do amor.

     Aqueles que baseiam seu direito de participar das coisas duvidosas conforme o seu conhecimento ou entendimento amadurecido demonstram que, na realidade, nada sabem como convém saber. Nosso conhecimento nessa vida é sempre completo e imperfeito. Por isso nossas ações devem sempre basear-se primeiramente no amor a Deus e ao próximo. Se o amor for o nosso elemento determinante, recusaremos participar de qualquer atividade que possa fazer um único crente tropeçar e caminhar para a sua ruína eterna. Aqueles que vivem segundo a lei do amor são os conhecidos por Ele [Deus] (1 Co 8.3). “O Senhor conhece os que são seus” (2 Tm 2.19 [página 1747; nota de 8.2]).


III. O CRISTÃO E AS FESTIVIDADES RELIGIOSAS PAGÃS

     As festas pagãs. As festas na antiguidade tinham uma conotação puramente religiosa. Na verdade, eram cultos constituídos dos mais depravados elementos, entre eles os sacrifícios e a prostituição “sagrada”. Nos templos dos antigos cananeus, praticava-se a “adoração do sexo degradante” e o sacrifício de crianças. Os seus templos eram lugar de encontro para a depravação. Veja uma descrição dos elementos do culto cananeu, feita pelo arqueólogo W. F. Albright.

Em país algum se encontrou um número tão elevado de estatuetas de divindades da fertilidade nuas, sendo algumas particularmente obscenas. Em nenhum lugar, o culto de serpentes aparece tão fortemente. As duas deusas, Astarote e Anate, são chamadas de as grandes deusas que concebem, mas não dão à luz! Prostitutas sagradas e sacerdotes eunucos eram extremamente comuns. O sacrifício humano era notório [...] os aspectos eróticos de seu culto devem ter penetrado nas mais sórdidas profundezas da depravação social.[1]

     As práticas festivas dos cananeus não eram diferentes dos outros povos. O Egito, a Fenícia, os gregos e romanos também praticavam a “prostituição sagrada”, onde o homossexualismo era muito comum. Lembremos o templo de Afrodite em Corinto, onde mil sacerdotisas prostitutas ofereciam religiosamente seus corpos à luxúria e aos demônios.

     É por isso que, antes de Israel entrar em Canaã, O Senhor Deus lhe fez sérias advertências para que não se associassem àqueles povos (Ex 20.3-5; 22.20; 23.24,32). Mas o fascínio dos cultos idólatras penetrava profundamente no coração dos hebreus e estes se prostituíram nas festas depravadas daqueles povos (Jz 2.7-13; Ex 32.8). Devemos, portanto, tomar cuidado, pois qualquer aproximação pode representar uma ameaça. Vale a advertência do apóstolo: “Pelo que saí do meio deles...” (2 Co 617).

     A idolatria do coração. O coração humano tem uma propensão natural para a idolatria. Estudos antropológicos confirmam essa assertiva. Por isso que o Senhor Deus foi taxativo na advertência ao seu povo: “Eu sou o Senhor, teu Deus (...), não terás outros deuses diante de mim” (Ex 20.2,3). É uma advertência que vale para os crentes de todos os tempos, e permeia toda a Bíblia Sagrada. No concílio de Jerusalém, Tiago advertiu que os crentes se guardassem das coisas sacrificadas aos ídolos (At 15.29) e Paulo vai perguntar aos crentes de Corinto: “Que consenso tem o templo de Deus com os ídolos?” (2 Co 6.16). Considerando-se que o homem ainda é o mesmo - veste-se de forma diferente, fala uma língua diferente, tem costumes e hábitos diferentes, mas em seu coração ele ainda é o mesmo. É por isso que a Bíblia fala aos homens de todos os tempos. Os antigos divinizavam suas paixões e as transformavam em ídolos. Baco era o Deus do vinho, Vênus e Afrodite eram deusas do amor, Marte era o Deus da guerra. Hoje, a imagem de Baco foi superada, mas os homens continuam dominados pelo vício; a imagem de Vênus e Afrodite foram superadas, mas os homens continuam dominados por paixões infames; a imagem de Marte já não existe, mas os homens, em sua ambição desenfreada, continuam promovendo a guerra. Sim, os deuses da antiguidade continuam por aqui, de forma disfarçada, até porque eles não têm significado em si mesmos, mas são a materialização das paixões e desvarios humanos.

    Mamom era o deus do dinheiro (ver Mt 6.24). A imagem de Mamom foi superada, mas a busca pelo lucro nunca foi tão forte como dos dias hodiernos. O dinheiro é, sem dúvida, o grande ídolo de nossa sociedade capitalista. Lembro-me de um presidente norte-americano que ganhou a eleição com o seguinte slogan: “É a economia, estúpido”. A frase do presidente, muito pertinente para o objetivo de se ganhar uma eleição, é muito apropriada para os nossos dias. Não são as pessoas, os valores, a dignidade: é o lucro; tudo gira em torno disso.  Não estamos falando mal do dinheiro, mas do amor a ele que, segundo Paulo, é a raiz de todos os males (1 Tm 6.10).

     Baal Peor era o deus dos pecados sexuais (Ver Nm 25.1,2; Ap 2.14.17). A imagem de Baal Peor foi superada, mas os homens continuam dominados pela busca de todos os tipos de prazeres, principalmente os de ordem sexuais. Hoje existem verdadeiras indústrias do prazer, como também literaturas que ensinam e estimulam as mais diversas formas, redundando e aberrações diversas. É a chamada sociedade hedonista, ou seja, do vale tudo pelo prazer. Convém lembrar que os prazeres que a vida proporciona são uma dádiva de Deus, desde que usados de forma natural e controlada.

     Nesta mesma sequência, nós temos a busca desenfreada pelo poder e pelo sucesso, objetivos que, quando não são conseguidos por meios ilícitos, buscam-se através da intensa jornada de trabalho. Todas essas coisas, a nossa sociedade tem transformado e deuses.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

     Já sabemos que o ídolo em si mesmo nada é no mundo (Is 44.9-17; 1 Co 8.4). São insensíveis, perecíveis, degradantes, impotentes e indignos de adoração. Todavia, o que a Bíblia deixa claro é que por trás de todo o sistema idolátrico estavam Satanás e seus demônios (Lv 17.7; 2 Cr 11.15), de sorte que todas as ofertas sacrificadas aos ídolos eram, na verdade, oferendas aos demônios. O Senhor Deus tem aversão à idolatria, por isso proibiu terminantemente qualquer envolvimento dos filhos de Israel com as festas das nações pagãs (Lv 261; Dt 7.25; Is 42.8). Eles não podiam, sequer, fazer uma imagem de quaisquer coisas dos céus ou da terra, ainda que com outros motivos (Ex 20.4). Porém, apesar de todas as advertências divinas, a história de Israel pré-cativeiro foi quase sempre uma história de idolatria (ver Dt 32.17; Co 10.7,8; Is 2.18).
     Deus não divide sua glória com nada nem ninguém. Ele exige exclusividade de seus adoradores. Por isso, lembremos da recomendação do apóstolo João: “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos”. É uma advertência que vale para a igreja de todas as épocas, porque, apesar de as imagens dos antigos ídolos terem sido superadas, e os seus cultos banidos, as paixões que inspiram a idolatria continuam alojadas  nos corações humanos. Tenhamos cuidado, porque, como dizia Jung, os males do homem primitivo continuam à espreita de todos nós, vivos e medonhos  (...), somente a Palavra de Deus os mantém refreados; se a Bíblia for negligenciada, os velhos horrores nos sobrevirão novamente.*

*Apud Grahan, Billy. O desafio. São Paulo: Record, 1969, p 123.


Bibliografia

Bíblia de Estudo pentecostal/ CPAD.
------------------ aplicação pessoal/ CPAD.
Bíblia de referência Thompson/ Vida.
GILBERTO, Antônio. Lições bíblicas – I Coríntios: os problemas da igreja e suas soluções.  CPAD, 2º trim de 2009.
ANDRADE. Claudionor Correia de. Lições Bíblica: Não terás outros deuses diante de mim. CPAD, 4º trimestre de 2000.
Comentário Bíblico Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2003.
Dicionário VINE. Rio de Janeiro: CPAD, 2002.
HENRY, Matthew. Comentário bíblico Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2008.
O Novo Dicionário da Bíblia. Editora Vida Nova, 1995.
KENNEDY. D. James. E se Jesus não tivesse nascido? São Paulo: Vida, 2003.
SCOTT, Benjamim. As Catacumbas de Roma. Rio de Janeiro: CPAD, 1982.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Respondendo às respostas da vida

"Orgulho, preconceito, intolerância, pavio curto...  essas coisas que nos impedem de descobrir o que há de melhor em nós,o que há melhor no outro, o que há de melhor na vida."   J. R. Lima.  

“De que maneira você responde às respostas que a vida te dá?” Comecei perguntando assim para aquela plateia curiosa. Percebi que quase ninguém entendeu. Reforcei que uma das grandes questões da vida é como reagimos, ou respondemos, às respostas que a vida concede às nossas buscas e expectativas. Notei que ainda havia gente boiando. “Há pessoas que respondem positivamente a uma resposta negativa. Outras respondem negativamente a uma resposta positiva. E ainda outros são negativos em todos os sentidos. (Não que as pessoas sejam determinantemente assim, elas podem mudar, tanto é que me propus pregar esta mensagem).

Ao perceber que não conseguiria ser entendido por meio de frases e conceitos, expliquei com dois casos extraídos da Bíblia. O primeiro é o caso de Naamã (2 Rs 5). Era um general do rei da Síria que, apesar de todas as suas condecorações, era leproso. Um dia disseram a ele que se fosse até a presença do profeta Eliseu, em Samaria, este o curaria de sua lepra. Prontamente Naamã se paramentou com tudo o que precisava para a viagem, inclusive com presentes caros para o profeta, e partiu. Estava disposto a qualquer sacrifício pela cura.

Estava ainda a uma distância considerável da casa de Eliseu, quando, sabendo  que Naamã estava vindo, o profeta mandou dizer-lhe que nem precisava chegar à sua casa, apenas fosse ao rio Jordão e mergulhasse sete vezes. “Nossa, não pensei que fosse tão fácil assim”, Naamã poderia ter pensado. Mas, pelo contrário, se encheu de furor, pois pensou que o profeta estava de brincadeira com ele e resmungou que lá na Síria tinha rios mais limpos que o Jordão. E começou a voltar para casa.

Pense comigo: a gente até entende a perplexidade de Naamã, não sou tão simplório a ponto de não entender, mas que o profeta facilitou muito a vida dele, disso a gente não pode discordar. Então, a sua perplexidade o levou a responder de maneira altamente negativa a uma resposta que parece ter sido positiva da parte do profeta.

        Neste mesmo caso aparece o servo de Naamã. Já de volta, decepcionado pelo caminho, o general leproso ouve o servo pedindo a oportunidade de falar-lhe. Concedida a oportunidade, disse-lhe: “Meu senhor, se o profeta tivesse pedido alguma coisa extremamente difícil, o senhor não faria para se ver livre desse mal?” Ao ouvir um sim de Naamã, o servo continuou: “Então, ele apenas ordenou que o senhor mergulhasse no Jordão sete vezes, custa tentar?” Ainda bem que Naamã ouviu o conselho. Voltou curado para casa.

Note que o servo de Naamã respondeu de forma altamente positiva à mesma resposta que o general respondeu de forma negativa. A retribuição foi a cura de seu senhor, além de algumas benesses que recebeu posteriormente, é claro.  

A esta altura, as pessoas já estavam entendendo. Continuei então. O segundo caso, narrado também na Bíblia, é o de Ana (1 Sm 1). O grande sonho de sua vida era ser mãe, mas era estéril. Em um dia de culto, desceu à igreja e começou, em grande amargura, a tão somente balbuciar uma oração, de maneira incompreensível. O sacerdote Eli aproximou-se e, interpretando-a mal, ordenou estupidamente que ela parasse de entrar no culto bêbada. “Estúpido, desviado”, xingariam alguns crentes. Bem que Eli merecia. Mas Ana respondeu: “Não, meu senhor, a tua serva não está bêbada, ela apenas está falando da angústia de sua alma perante o Senhor”.

Note a reação altamente positiva de Ana a uma atitude tão negativa, mortífera, do sacerdote. Ela viu agora a oportunidade não só de falar a Deus, mas também ao sacerdote, em um momento propício a causar forte comoção neste. Ainda bem que Eli corrigiu a tempo. Ele disse: “Vá em paz, e o Deus de Israel te conceda a petição”. Poucos dias depois, Ana apareceu grávida. A resposta altamente positiva de Ana a uma resposta altamente negativa do sacerdote eliciou neste último outra resposta altamente positiva.

Acho que a gente poderia construir com isso uma fórmula matemática para vida. Porque se a gente quiser, de falto, alcançar alguns objetivos que traçamos para vida, precisamos agora nos despir do orgulho, intolerância e pavio curto e ir com muita humildade e persistência ao objeto de nosso desejo.

O povo estava começando a gostar do assunto. Então repetimos: Uma das grandes questões da vida é como respondemos às respostas que a vida nos dá.


Os exemplos e personagens que apresentamos acima são apenas amadores, aspirantes, que abrem o show para o grande referencial no assunto tratado. Falo da mulher cananeia (Mt 15).  Aquela que tinha uma filha terrivelmente endemoniada e foi buscar Jesus.  Vou contar sobre ela em breve.